“O Livro Politicamente Incorreto da Esquerda e do Socialismo“, de Kevin D. Williamson,  traduzido por Roberto Fernando Muggiati, é o tipo da abordagem altamente inconveniente não apenas para os assumidos, mas também para que os que preferem fazer uso de malabarismos semânticos para não ter que refletir mais a fundo sobre o que de fato é socialismo, sobretudo os meus colegas democratas liberais que se sentem ofendidos quando austro-libertários os classificam como “socialistas”.

Uma política elitista de aversão a riscos, é a síntese que mais considero na obra. O socialismo é um negócio altamente lucrativo para quem sabe explorar o imaginário popular sobre o estado democrático de direito e não quer lidar com a livre competição e as imprevisibilidades naturais do capitalismo. O “planejamento central” seria a característica que o define (p.12), a meu ver, algo inspirado a partir de fontes um tanto evitadas, quando não proibidas em muitos círculos acadêmicos tupiniquins: Mises e Hayek. Mas é bom frisar que “socialismo” para os dois ícones da  Escola Austríaca não é, precisamente, o que o autor sugere.

E nessa linha “absurda” (que eu tanto aprecio), Williamson não poupa os “socialismos” americano, prussiano, sueco, britânico, além daqueles que meus colegas liberais adoram achincalhar em seus papers e textões de rede social: o soviético, o fascista, o nazista, o norte-coreano, o venezuelano, o cubano… Socialismo é socialismo, mas alguns preferem eufemismos do tipo “imposto negativo”. Diga-se de passagem, só os libertários conseguem unir  liberais, neoliberais e socialistas de carteirinha.

Nem Gandhi escapa. Apresentado como filósofo de uma autossuficiência hostil ao desenvolvimento tecnológico, segundo o autor, o líder espiritual indiano contribuiu para moldar uma Índia mergulhada na pobreza e na extrema dependência do que viria a ser “um socialismo democrático direto da Sociedade Fabiana inglesa” (p.54). “Um pensador moral, e não econômico” (p.51) que deixou bases para que ideias em torno da divisão do trabalho e da vantagem comparativa fossem ignoradas por décadas, apenas sendo levadas a serio nos anos 1990.

Evidentemente, o “Obamacare” e o sistema de educação americano também não são poupados, juntamente com o sistema de saúde inglês. Há de se pensar em ambientalistas, quando o autor lembra dos desastres do mar de Aral e Chernobil, entre outras constatações politicamente incorretas para demonstrar que “o socialismo é sujo” (cap. 8).

Para quem conhece o lado libertário da Escola Austríaca, a proposta da obra não traz muitas novidades. Para quem tem vergonha de ser chamado de “socialista”, é uma leitura que pode ser feita com bom proveito, desde que o espírito esteja desarmado.

 

 

 

 

 

 

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