São poucas coisas que conservadores, liberais em economia e libertários costumam concordar entre si, sem maiores tensões, e uma delas está no entendimento sobre o viés ideológico esquerdista da assim chamada “grande mídia” ou a imprensa do mainstream.
A mentalidade socialista da “grande mídia” pelo mundo pode ser entendida na perspectiva de compreensão de estímulos que moldam os maiores arranjos corporativos que exploram, com “espírito animal”, relações de poder político com o instrumental do estado e a formação de opinião sobre a sociedade. Se um modelo de governança é conduzido com base em um estado com uma agenda de forte impacto sobre a sociedade, a “mídia do mainstream” será uma das partes com grande interesse no agigantamento do estado, sobretudo em função de receitas publicitárias e de desdobramentos que ocorrem na troca de favores com aqueles que comandam o aparato estatal. Embora possam se esforçar até para passar “imparcialidade” perante a “opinião pública”, me parece um tanto óbvio que um estado fortemente intervencionista, progressista, assistencialista, fascista, regulador, extremamente antiliberal (a essência do estado é antiliberal per si), interesse mais as grandes organizações de imprensa. Contudo, é tênue a relação entre extrair coisas do Leviatã e lidar com riscos de populismos exacerbados que possam comprometer uma mínima segurança econômica do negócio de explorar os “investimentos” publicitários do estado, pois tão importante quanto ter um cliente pródigo, descontrolado, é saber se ele manterá mínimas condições orçamentárias para honrar pontualmente os pagamentos previstos nos contratos.
O apego da “grande mídia” às coisas do estado e, por tabela, a cosmovisões que convergem ao socialismo é, portanto, estritamente fisiológica em torno de negócios. E a maior inteligência brasileira nesse oficio atende pelo nome de Rede Globo. A mesma Globo que é chamada de “conservadora”, “direitista”, “golpista”, com histórico de conluio com militantes de 1964; é a mesma Globo que deu ao casal formado por Dias Gomes e Janete Clair, na ocasião, o primeiro, um comunista assumido e a segunda, famosa autora de tramas novelísticas, o comando dos principais produtos de teledramaturgia em plena “ditadura” militar, que se caracterizaram pela exploração de narrativas sob forte apelo a temas um tanto “subversivos”, progressistas, recheados com personagens de viés esquerdista [1] ao mesmo tempo em que conseguia o apoio do governo militar, representando uma impressionante capacidade de “servir a dois senhores” e lucrar muito nessa arte de poder. A Globo sabe se camuflar em uma estratégia tipicamente gramcista em versão corporativa empresarial. Então, enquanto um esquerdista comum pegava em armas para enfrentar o “opressor” de frente, e os militares cuja “inteligência” se limitava a combater guerrilheiros, não percebendo a ocupação gramsciana, a Globo pegou carona na revolução marxista cultural para faturar como nenhuma outra organização de mídia tivera realizado na história do país, e segue nessa empreitada até nossos dias.
É a mesma Globo que se beneficiou de privilégios no regime militar [2] para se tornar um império televisivo logo após a intervenção que colocou o marechal Castello Branco no poder, sob vista grossa de seus pares nas forças armadas acerca de restrições legais para aportes estrangeiros [3] no caso Time-Life.
[3]
A mesma Globo que apoiou o golpe de 1964 foi a que recebeu R$ 6,2 bilhões de publicidade federal na era petista no Planalto [4]. Justamente o PT que se queixava de perseguição da mídia global ao partido nas eleições de 1989, 1994 e 1998, mas que a beneficiou com gastos exorbitantes na máquina estatal, quando gozou do poder.
A mesma Globo “reacionária”, “conservadora”, “direitista”, que lançou programas progressistas como “Esquenta” para poluir ainda mais as tardes de domingo e o deplorável “Amor e Sexo”, para a frente de batalha da “ofensiva cultural” sobre a juventude, imbecilizando ainda mais um público que pensa ter sido o mundo fundado na contracultura debilóide dos anos 1960; é a mesma Globo que pode ter visto o impeachment de Dilma Rousseff significar um movimento proativo para evitar uma crônica paralisia do estado, preservando assim seu grande cliente.
É a mesma Globo que olhou para as (pífias) reformas de Temer no setor trabalhista com um zelo hipócrita em favor do estado-babá, em torno da CLT, enquanto seus principais jornalistas são pejotizados. É a Globo que desdenha de movimentos liberais e investe em novas vias de progressismo com artistas que se assumem como autoridades em política e economia. É a Globo que não cessa de estar com “um olho no padre e outro na missa” na promíscua relação com o estado, para garantir um futuro cada vez mais próspero com o Leviatã brasileiro.
A Globo é uma super máquina de desonestidade jornalística em favor de grandes arranjos políticos, como se pode verificar em suas coberturas tendenciosas em favor da União Europeia e do globalismo da ONU. É a mesma Globo que opera intensamente pelo desarmamento de civis, pela integração forçada de povos pelas narrativas “humanitárias” em torno da imigração. É a Globo que parece até ser uma agência do PSOL, sutilmente inclinada ao aborto, ao “feminazismo” e ao “gayzismo”, entre outras estratégias de degeneração social. É a Globo que usa suas novelas para ridicularizar personagens do cotidiano tidos como conservadores e/ou que desafiam a ditadura do “politicamente correto”. É a Globo do jornalismo de caricatura em torno do presidente americano Donald Trump ou de qualquer personalidade que represente ameaça para seus interesses de lucrar com o capitalismo de laços enquanto infantiliza telespectadores.
É preciso reconhecer que a genialidade (maligna) dos que conduzem a máquina de poder “Globo” é espantosa, extraordinária, colocando todos os movimentos, partidos, grupos, e concorrentes de mídia, não importando se considerados destros, centristas ou canhotos, no bolso [5]; para idiotas úteis que servem às fileiras esquerdistas, a Globo é de direita, e para quem é um ingênuo destro, é esquerdista, e para os que fazem negócio com ela, os políticos, é a maior referência de poder midiático sobre as massas, se consagrando como mestra na arte de se camuflar e forjar narrativas, produzir factoides, enquanto segue triunfante como uma das maiores parasitas do velho capitalismo de compadrio.
Enquanto muitos podem pensar que temas como “regulação da imprensa”, especialmente na internet, é algo inconcebível para uma suposta mentalidade liberal que deveria reger as empresas de jornalismo, vejo que alguns setores dos meios de comunicação podem gostar de uma regulação, sobretudo os que estão sendo incomodados com a imprensa livre pela internet. Sem dúvida para a Globo ou qualquer outra corporação convencional, é melhor um controle maior do governo, desde que se tenha poder para influenciar o regulador em benefício próprio. .Então, para a arquibancada, se condena a regulação, mas, quem sabe nos bastidores, estejam articulando para que ocorra. Não é à toa que a Globo vem batendo fortemente na tecla das “fake news”, o subterfúgio para que se sedimente no imaginário popular uma concordância com a regulação visando sufocar concorrentes que surgiram com a internet.
Então, nada surpreende que, diante de algum grupo político pretendendo trabalhar por “austeridade” no estado, menos intromissão do Leviatã sobre indivíduos, que seja mais conservador nos costumes, mais contido que possa soar com menos publicidade, sem dúvida será inimigo em forma de “guerra fria” da Globo. No mais, é o Leviatã que vai além das cotas de publicidade dos paternalismos, para servir de multiplicador de coletivismos e conflitos que se tornam negócios maquinados por perversão e trocas favoráveis a quem está ancorado no estado e na inevitável torpe influencia do poder político.
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Notas:
- Ver A telenovela como fonte histórica: Janete Clair e a abordagem política –nas tramas Irmãos Coragem e Fogo sobre terra;
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Ver Rich Clan Shaping Brazil Narrative Stays Away From Dark Chapter
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Não se trata de ver aporte estrangeiro (caso Globo/Time-Life) como um problema, mas de dificuldades impostas a concorrentes para receber recursos de mesma procedência, enquanto a Globo parecia estar sob anuência (e privilégio) do governo militar. Ver obra do brasilianista (norte-americano) Thomas Skidmore, “Brasil: De Castelo a Tancredo”, mencionando o caso, na página 222., Ed Paz e Terra, 5a. reimpressão.
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UOL publica: TV Globo recebeu R$ 6,2 bi de publicidade federal com PT no Planalto
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As organizações Globo não têm partidarismo no sentido que os militantes enxergam. A Globo explora relações com o poder, não importa o viés ideológico. A Globo apoia quem esteja disposto a lhe conceder ou preservar privilégios. Fez isso com os militares entre 1964-1985. No governo Sarney (1985-1989). Com FHC entre 1994 e 2002, na era petista entre 2003 e 2015 e nos mandatos “tampões” do PMDB com Itamar Franco (1992-1993) e Temer (2015-2017). A Globo, ao perceber qualquer oposição aos seus interesses de poder econômico de laços com o Estado se torna, de fato, oponente como no caso de Collor (1992), Dilma (2015) e Bolsonaro (atual). Collor e Dilma por uma razão comum: representavam a ameaça de levar o estado brasileiro a uma crise profunda e a Globo não quer ver o seu principal cliente em apuros, por isso foi favorável aos respectivos impeachments. Já o caso de Bolsonaro parece se relacionar fortemente com o corte de verbas publicitárias. No entanto, a Globo, como qualquer força de mídia no Brasil, tem forte inclinação ao progressismo (esquerda) porque é por essa visão de estado que a corporação global terá mais chances de faturar mais com verbas publicitárias, desde que quem esteja no poder esteja disposto a lhe contratar, como ocorreu com maior destaque nos governos FHC, Lula e Dilma I. Isto porque o progressismo nos governos tende a aumentar os “gastos públicos”. A Globo é o maior exemplo de como se explora o capitalismo de laços, se passando por “conservadora”, de “direita”, ao mesmo tempo em que tem uma grade de programação com viés fortemente esquerdista, conseguindo se camuflar e despertar paixão e ódio que retroalimentam seu negócio.
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