Dezembro Por una cabeza (1935) de Carlos Gardel (França/Tolouse ou Uruguai/Tacuarembó, 1890 ou 1887 – 1935) e Alfredo Le Pera (Brasil/São Paulo, 1900-1935), magistralmente tocada pelos rapazes do LAYERS.

31/12/2022 23h28

Imagem: Vaticano

Benedictus XVI

“La carità nella verità, di cui Gesù Cristo s’è fatto testimone con la sua vita terrena e, soprattutto, con la sua morte e risurrezione, è la principale forza propulsiva per il vero sviluppo di ogni persona e dell’umanità intera.”

Obra: Caritas in Veritate. Introduzione. Publicação on line. Vaticano. De Joseph Aloisius Ratzinger (Alemanha/Marktl, 1927-2022), Benedictus XVI (2005-2013).

“A caridade na verdade, a qual Jesus Cristo fez testemunho em sua vida terrena e, sobretudo, com sua morte e ressureição, é a principal força propulsora para o verdadeiro desenvolvimento de toda pessoa e da humanidade inteira”, assim abriu o papa Bento XVI a encíclica Caridade na Verdade (junho/2009).

A doutrina social da Igreja tem na caridade a sua via mestra (2). A quem deseja compreender bem o espírito da doutrina social do catolicismo romano, é imprescindível ler esta encíclica, também disponível em português, do papa emérito que hoje partiu. Nela se desmonta a visão marxista por uma genuína leitura social baseada no amor cristão.

Nas tevês italianas, especialistas em Vaticano falam de Ratzinger como um cardeal “teólogo”, “intelectual”, “honesto”, “humilde”, “leal”, “sereno” que se tornou papa e teve a coragem de reconhecer publicamente a própria incapacidade (física) para lidar com os problemas da Igreja e assim renunciar ao cargo se tornou o primeiro papa emérito da história.

Ratzinger, refinado, de precisão lógica incomum e ministro-chefe de uma raríssima e nobre disposição a priorizar o bem da milenar instituição a qual serviu a ponto de sair de cena para que outrem pudesse dar sequência, o que falta a maioria ampla de políticos e até de líderes em instituições privadas, todos movidos pelo narcisismo e pelo tóxico apego ao poder. Também fora marcante no papa Bento XVI, sendo alemão, sua ida a Auschwitz para protagonizar um capítulo de superação da Igreja em relação ao lamentável comportamento de Pio XII durante as trevas dos tempos nazistas.

Atualizado em 19/01/2022 20h36

Imagem: Luciana Amorim

Vaticano

Da Via delle Quattro Fontane à Fontana di Trevi (10 min), contemplação e boa sessão de fotos com poucos turistas devido ao horário (antes das 8).

Imagem: Luciana Amorim

Mais uns 30 minutos de caminhada, a passar pelo Pantheon até o Castel Sant’ Angelo às margens do Tibre, para terminar na Piazza San Pietro, Vaticano.

Imagem: Luciana Amorim

O retorno mais rápido pela ponte do Castel Sant’ Angelo, tomando o Corso Vittorio Emanuele II com um desvio até a Piazza Navona, apreciada pela fonte e notabilizada pela embaixada brasileira; findou-se o city tour matinal livre, mais cedo, enquanto muitos turistas estão a sair da colazione; um passeio que financeiramente custou ZERO EURO enquanto desimpedido dos pacotes que prendem clientes à logística de quem explora a indústria do turismo.

30/12/2022 23h12

Atualizado em 02/01/2023 10h00

“Ceccolella, all’età di 12 anni, entra, come una regina, nella casa del Ponziani.”

Obra: Santa Francesca Romana. Capitolo I – Sposa e Madre Cristiana. Edizioni Cantagalli, Siena, 1981. De Armando Donatelli.

Francesca Romana (1384-1440) se casou aos 12 anos (p. 30), em um típico matrimônio medieval, entre ricos, uniu-se aos Ponziani e foi mãe aos 17 anos (p. 42). Notabilizou-se pela caridade e educação evangélica entre os pobres (capítulo II). Seis meses após sua morte foi iniciado o processo de informações canônicas. A canonização se deu em 29/05/1608 por Paolo V (p. 170).

Imagem: Luciana Amorim

Madonna con Gesù Bambino

Nossa Senhora com o Menino Jesus ou Madonna Glycophilousa é uma obra que desejava muito apreciar in loco há muito tempo e hoje realizei este sonho na belíssima Basílica di Santa Maria NovaSanta Francesca Romana, após o Arco de Constantino, em um acesso bem próximo ao Colosseo.

Na igreja de Santa Francesca Romana, o som ambiente no Altar tocava Nuvole Bianche do maestro Ludovico Einaudi, quando cheguei; divina combinação.

Para um cristão não católico e amante da arte sacra, a experiência premiou todo o esforço logístico neste recesso. Senti uma forte Presença.

Um lembrete bem destacado na porta da Basílica quanto à vestimenta; nada de minissaia, barriguinha de fora, decote ou qualquer coisa que exponha o corpo que fala diante do Sagrado. Acredito que seja algo útil a ser adotado também em igrejas brasileiras…

Imagem: Luciana Amorim

Inestimável para a cristandade, a Madonna Glycophilousa é a pintura mais antiga que se tem conhecimento (final do século VI) a retratar Maria e o menino Jesus. Segundo o informativo da Sacrestia, a preciosíssima peça estava na Chiesa di Santa Maria Antiqua (Igreja de Santa Maria Antiga) até o terremoto de 847. Na sala, um afresco da metade do século XIII de Jesus entre anjos.

Imagem: Luciana Amorim

O dia tinha começado com uma salutar caminhada da Via delle Quattro Fontane até o Colosseo, um passeio de releituras onde rememorei textos de Indro Montanelli e Theodor Mommsen.

Teve uma pausa no Palazzo del Quirinale, residência oficial do Presidente da Itália.

Imagem: Luciana Amorim

Depois a vista se encheu com a Piazza Venezia, o Altare della Patria e a riqueza arqueológica dos Fori Imperiali:

Imagem: Luciana Amorim

Mais sítios arqueológicos os quais não tinha apreciado com a atenção literária nas duas visitas anteriores (2018 e 2019).

Imagem: Luciana Amorim

Pausa para hidratação (gratuita) em uma das fontes públicas com água frizzante (com gás), entre as várias fontes na cidade com água potável (a que enchi minha garrafa é uma versão moderna, digamos assim).

Chegamos ao Domus Aurea (64 d. C), com interessantes informativos também em forma de tapumes ou placas acerca de Il Colosso, termo que o tornou rebatizado por Il Colosseo (80 d. C).

Imagem: Luciana Amorim

Imagem: Luciana Amorim

Mais uma vez a pichação atestou a multinacionalidade da bruttezza.

Imagem: Luciana Amorim

Mia cara bambina teve melhor percepção da grandiosidade histórica do Coliseu, em comparação com a última visita que fizera. Também notei seu maior interesse pela língua italiana, quando estávamos a conferir os informativos, também em inglês (que ela bem domina)…

Imagem: Luciana Amorim

No Arco de Constantino, ao lado do Coliseu, registro familiar um pouco antes do ingresso à Basílica di Santa Maria Nova – Santa Francesca Romana, ponto máximo de nossa jornada.

29/12/2022 22h16

Atualizado em 19/01/2023 20h32

“La mura abbracciavano inoltre il monte Celio e tutto lo spazio dell’Esquilino, del Viminale e del Quirinale, ove grandiosi resti de una construzione in peperino, scoperti nel 1862, in un possente terrapieno, che anche oggi desta meraviglia, e che suppluva alla mancanza dei mezzi naturali di defesa , e di lá se dirigeva, fino al Capitolino, il cui ripido pendio verso il Campo Marzio formava la continuazione della cinta della città che, a monte dell’isola Tiberina, toccava novamente il fiume.”

Obra: Storia di Roma. Settimo Capitolo. 7. Allargamento della città di Roma. Edição de Greenbook, 2020, Roma. De Christian Matthias Theodor Mommsen (Alemanha/Garding, 1817-1903).

Quirinale

Pode-se apreciar muita coisa de Roma apenas caminhando. E nesta quinta-feira à tarde, pela Via delle Quattro Fontane, nome por ter quatro fontes d’água (do renascimento) em um cruzamento, com acesso a Via del Quirinale, local que me remeteu ao sétimo capítulo de Storia di Roma, de Theodor Mommsen.

Imagem: Luciana Amorim

Final da noite, da janela da Via delle Quattro Fontane, escuto um grupo de brasileiros passantes a cantar:

Mil gols, mil gols… Mil gols, mil gols, mil gols… Só Pelé, só Pelé!

O Rei partiu. “Calcio in lutto”, noticiam os telejornais italianos.

O dia começara com uma caminhada até a Via del Corso, na parte fechada ao trânsito. adentramos na Via della Croce, e mais adiante me veio à memória de adolescente à antiga “cascatinha” do centro do Recife, pois foi neste estilo que apreciamos duas pastas deliciosas.

Fontana di Trevi

Imagem: Luciana Amorim

Retomamos a caminhada até a Piazza del Popolo, Piazza di Spagna à Fontana di Trevi, junto às preciosidades históricas, pouco mais das 15h e um mar de gente pigmentado de preto com casacos em um gostoso frio de 12 graus que me fez pensar na dispersão de fatores ou conhecimentos que influenciam tantos a saírem pelo mundo, contrariando a estrita racionalidade econômica da poupança e de todo e qualquer rígido planejamento na ilusão de se ter certo controle do “futuro”, e assim se reduz mediante a espontaneidade que tece o comportamento de consumo; alguns diriam “mero consumismo”, outros “entretenimento”, “prazer”, lazer”, no meu caso diria, “vontade de cultura”.

Familiarizado com a cidade, como se fizesse parte dela, experimento tal sensação curiosa. Multidão a turismo na cidade-eterna-museu- a-céu-aberto é tão somente coisa normal, no entanto, neste pós-pandemia tive a sensação de uma menor irritação – ou maior paciência – entre italianos quanto ao imenso fluxo de visitantes que agitam a rotina, tornam o trânsito um tanto caótico, sobretudo nesta época.

28/12/2022 14h30

Atualizado em 14/01/2023 16h30

“A cidade romana de Olisipo desenvolveu-se no local onde se implantava o primitivo núcleo urbano sidérico, já então de dimensão e importância consideráveis e cujas origens se deverão situar no séc. VIII a.C., ainda que os vestígios antigos se enquadrem maioritariamente no séc. VII […]”

Obra: Olisipo, o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio entre a República e o Principado. Tese de doutorado. Vol 1. Universidade de Lisboa., 2019. De Victor Manuel Simões Filipe.

Imagem: Luciana Amorim

Olisipo

Pelo Rossio, diante da estátua de D. Pedro IV ao centro da praça, vejo imóveis em estado crítico que estão em reforma. Tapumes enriquecidos com uma cronologia desde o século I a.C, sobre o local desde remotos tempos da outrora cidade romana Olisipo, base do que seria Lisboa tão ligada ao Tejo e ao Atlântico.

Maravilhoso ver histórias em tapumes de construção civil…

Enquanto leio as lições de história nos tapumes, lamento por estarem poluídos pela pichação e imagino quão imensa essa pandemia do desprezo ao conhecimento, do culto ao vandalismo e da glamourização da imbecilidade.

Passo pelas Sardinhas Portuguesas, torno à Praça do Comércio, e a estrutura para o que parece ser uma celebração da passagem do ano, junto com o intenso movimento de turistas, marca a aparente volta à normalidade após dois anos de pandemia, algo ainda mais latente quando observei o impressionante movimento de passageiros, maior do que em 2019, na grande área de embarque do Aeroporto Humberto Delgado.

27/12/2022 10h50

Atualizado em 14/01/2023 16h52

“Um dos meus passeios prediletos, nas manhãs em que temo a banalidade do dia que vai seguir como quem teme a cadeia, é o de seguir lentamente pelas ruas fora, antes da abertura das lojas e dos armazéns, e ouvir os farrapos de frases que os outros de raparigas, de rapazes, e de uns com outras, deixam cair, como esmolas da ironia, na escola invisível da minha meditação aberta.”

Obra: Livro do Desassossego. Editora Brasiliense, 1986, Biblioteca digital AEJM. De Bernardo Soares (semi-heterônimo) por Fernando António Nogueira Pessoa (Portugal/Lisboa, 1888-1935).

Na Rua Augusta

A manhã começa com uma senhora cheia de luz e cega a tocar com uma escaleta ou melódica a lembrar a que o Yan Tiersen se apresenta em concertos. Artistas de rua marcam a Augusta, baladas ao violino encantam passantes, e de malas aqui e acolá me misturo, muitos de olhos puxadinhos que lotam pastelarias, um fluxo de indo e vindo da estação do Paço com baldeação à linha vermelha que agora liga ao Aeroporto.

Imagem: Luciana Amorim

O “pequeno almoço” (café da manhã por aqui) montei na Augusta com seus restaurantes e pastelarias de mesas ao centro. A hospedagem ao lado significa dispensa do serviço do hotel a 10 EURO por pessoa, mediante uma breve descida. A volta gastronômica me rendeu uma caixa com seis pastéis da Fábrica de Nata (indispensáveis açúcar e canela), um exemplar do famosíssimo pastel de bacalhau com aquele selo comestível (hóstia) inconfundível, em outra pastelaria me veio um tentador travesseiro com um recheio do tipo que desafia qualquer dura resistência em favor da dieta, outra pastelaria e apeteceu-me um bolo de arroz lusitano com uma versão da coxinha brasileira, mais um pouco de café, água, achocolatado; combo de 20 EURO bem servido a 3 pessoas.

26/12/2022 20h48

Atualizado em 02/01/2023 10h34

“Não sabia em modo festejasse
O Rei Pagão os fortes navegantes,
para que as amizades alcançasse
Do Rei Cristão, das gentes tão possantes;
Pesa-lhe que tão longe o aposentasse
Das Europeias terras abundantes
A ventura, que não no fez vizinho
Donde Hércules ao mar abriu o caminho.”

Obra: Os Lusíadas. Canto VI. 1. Edição da Best Bolso, Rio de Janeiro, ePub, 2015, no Kindle. De Luís Vaz de Camões (Portugal/Lisboa, 1524-1579 ou 1580).

A cidade fala e escreve

Finda-se a noite. Na passagem à Praça Luiz Vaz de Camões, pausa para um encontro com Pessoa no final da noite. Chiado e seus bares com cantores que tocam baladas, algumas bem brasileiras ao violão, ao fundo de bondinhos que parecem em harmonia com a percussão e o ritmo do bairro que os gringos adoram.

Imagem: Luciana Amorim

Veio-me o Tejo poetizado por Camões e Pessoa nas primeiras horas do raiar do dia… Sublimes ondas e neblina exalam uma paz que me parece incomum no seio urbano.

Na estação do metro (aqui é sem acento) do Paço do Terreiro na linha azul a São Sebastião, um jovem com uma placa pede ajuda para “ter o que comer” e percorre o vagão de um sistema de transporte cuja pontualidade, limpeza e organização me fazem pensar na oceânica diferença de qualidade que se oferece no débil metrô recifense.

Sem sinal do caos da crise do gás, via metro do El Corte Inglês caminho a Marquês do Pombal, o homem forte do Rei e que consolidou a doença fatal do estatismo no Brasil, com suas chagas indeléveis dos impostos e da burocracia.

E eis que vem outra bela caminhada, desta vez pela imponente Avenida da Liberdade, em meio a lojas de grifes francesas e italianas, onde vejo uma iluminada senhora, certamente com mais de 70 anos, a cuidar de uma banca de livros; eram quase cinco da tarde e ala estava a recolher as mercadorias amontoadas, visivelmente exausta e com dificuldades para caminhar. Cansei só de olhar.

Breve pausa para uma castanha torrada onde nativos e turistas passam a produzir uma torre de babel em murmurinhos enquanto adentram à estação onde estão os Comboios de Portugal. Atendentes nativos em lojas de roupas e sapatos me pareceram um tanto carentes da inconfundível simpatia brasileira. Um pouco mais tarde, um segurança de uma loja de grife perto da Baixa-Chiado, negro, certamente imigrante africano devido ao português com sotaque não nativo, parecia meio francês, nos orientou sobre o caminho de um “mercadinho”. Após nos distanciarmos dele, em meio a linda iluminação de Natal e os “Tuk Tuk”, antes de subir as longas escadarias do tradicional bairro do famoso Shopping dos Armazéns, flagrei o seu gentil olhar com um polegar para certificar que acertamos a entrada. Gente boa, simples assim… As pessoas que melhor me atendem neste país são imigrantes… Esta característica ficou mais nítida no pós-pandemia.

25/12/2022 12h16

Atualizado em 02/01/2023 10h22

“O homem e a hora são um só
Quando Deus faz e a história é feita.
O mais é carne, cujo pó
A terra espreita.”

Obra: Séptimo (I) / D. João, O primeiro (trecho). [9] 12-2-1934. Obra poética de Fernando Pessoa. Volumes I e II. Edição da Nova Fronteira, 2016, Rio de Janeiro, eBook Kindle. De Fernando António Nogueira Pessoa (Portugal/Lisboa, 1888-1935).

Imagem: Luciana Amorim

De volta

Nas marcas que a pandemia deixou no semblante das pessoas, nas ruas de negócios falidos, na percepção de que a pobreza aumentou, permito-me ao clichê: é a vida que segue.

Não somos diferentes dos nossos irmãos portugueses, aliás, o espírito humano é universal e mais contagioso que qualquer vírus em termos de tornar ao campo onde a lei primeira é a luta da vida a continuar.

Europeus, africanos, latino-americanos, árabes, asiáticos, e entre tantos, logo na chegada, li a mensagem não escrita e não falada de uma senhora de meia idade que nos atendeu pelo Uber. Asiática, falando um português de quem está nos primeiros contatos com a língua, acabamos por nos comunicar mais em inglês.

A impressão que tive foi de estar diante de uma mãe de família na luta para conseguir renda e assim ela foi se orientando pelo aplicativo de mapa para conseguir nos deixar quase na porta do hotel, bem ao lado da Rua Augusta, coração do turismo na capital lusitana, mas só consegui por insistir bastante após dar algumas voltas nas imediações da Praça do Comércio. Ela nos deixou no ponto mais próximo que um veículo pode chegar e tenho certeza que gastou bem mais do que o necessário em tempo de corrida. Ficou nítido que estava a aprender ou descobrir alguns caminhos nas estreitas ruas, e essas dificuldades não a impediram de ter um comportamento exemplar como profissional.

A lição dessa imigrante asiática, que está aprendendo português enquanto se vira no Uber, é de que ser profissional é uma visão que se traduz pela atitude que deve prevalecer, mesmo diante de suas dificuldades em coisas básicas no trabalho.

24/12/2022 18h00

Imagem cedida pelo autor

Luciano Macêdo

“Amigos de Cristo

Somos jovens
amigos de Cristo,
somos unidos
na paz, no perigo.

O tempo passando,
nós somos mais fortes
unidos em uma
só oração.

Vamos ajudar
a quem mais necessita,
levando amor
a quem precisa.

A alegria do Grupo
é saber
que o mundo precisa
da paz para crer.

O tempo passando,
nós somos mais fortes
unidos em uma
só oração.

Vamos orar
pelos oprimidos,
pelos que sofrem
e pelos feridos.

Vamos pedir
pela nossa família;
o mundo é nosso
e nós temos a vida.”

Obra: Amigos de Cristo De Luciano Arcelino de Macêdo (Brasil/Pernambuco/Recife, 1957).

Uma leitura ao dia no recesso, sem pausa.

Porque ler é preciso em um mundo onde tal empreendimento intelectual é vencido pelas redes sociais, universo virtual excessivamente materialista e disperso por anseios hedonistas, não obstante acelerado e desvairado, fora do compasso, onde pressa se confunde com agilidade, manchetes ocupam o lugar do conhecimento reflexivo, a forma encobre o conteúdo, a sinceridade – obra singela e profunda no coração – torna-se defeito e a dissimulação, qualidade. medonho lugar onde a amizade pura e verdadeira se torna cada vez mais rara e o utilitarismo que desumaniza, prevalece.

Só há uma forma de superar tais coisas: Cristo!

Momentos antes da partida, quando olhei ao redor e senti que, por um breve tempo, vou me desconectar do cantinho de bênçãos em que passo a maior parte do tempo, pela fé na amizade com Ele, sigo na expectativa de ler cada lugar em que me permita passar e eis que me veio este presente do cliente-amigo-poeta-da-Maria Olinda.

23/12/2022 13h00

Imagem: Vaticano

Papa Francesco

“Todavia não quero limitar esta disposição a qualquer forma de utilitarismo. Existe a gratuidade: a capacidade de realizar coisas, pelo simples facto de serem boas, sem esperar ganho em algum resultado, nem receber imediatamente algo em troca. Isto permite acolher o estrangeiro, mesmo que não traga de imediato benefícios concretos. No entanto, há países que pretendem receber apenas cientistas ou investidores.”

Tradução livre.

Obra: Fratelli Tutti. LETTERA ENCICLICA. SULLA FRATERNITÀ E L’AMICIZIA SOCIALE, publicação online do Vaticano, em italiano. De Papa Francesco, Franciscus (2013), Jorge Mario Bergoglio (Argentina/Buenos Aires, 1936).

Antes, considero esta Encíclica muito importante para ser lida, não apenas a católicos romanos. É um esforço papal para inserir no debate político global a relevância de se olhar prioritariamente para os mais vulneráveis. Creio no bom coração de Francesco, mas isso não me impede de inserir alguns questionamentos.

A disposição do item 139 da Todos Irmãos, do Papa Francisco, se refere ao que denomina no item anterior (138) de “intercâmbio fecundo”. O papa defende que os pobres tenham vez, sejam priorizados, na ordem econômica de integração global; para isso, considera que as nações mais pobres possam ter acesso ao mercado internacional. Neste ponto, reflito, estaria a questão consoante ao econômico? Penso sobre o problema do fator político no comando dessas nações mais pobres e indago se o acesso ao mercado internacional resolveria os problemas de governos que submetem seus povos à servidão, censura, policiamento ideológico, alienação de heranças, engenharias sociais para controles em massa, tudo em troca de benefícios econômicos, sejam de esquerda ou de direita.

Penso no vitimado povo da Venezuela, que padece em um regime tirânico socialista enquanto o mesmo regime é apoiado no Brasil por pessoas que dizem defender os mais necessitados: e se o Nicolás Maduro decidisse adotar o modelo chinês, de abertura a mercados enquanto no sistema político pune severamente quem ousar fazer oposição?

Sob a ideia do desenvolvimento solidário entre todos os povos, em um mundo tão interligado, o papa também defende um “ordenamento mundial jurídico, político e econômico” no item 138, a citar o seu antecessor, Benedetto XVI [154]. O papa acredita que a mútua ajuda beneficiaria a todos; “ou nos salvamos todos ou ninguém se salva” (138). Mais uma vez penso no fator político e quanto a isso, no item 155 o papa menciona “formas populistas” onde populistas se servem demagogicamente para seus fins em “desprezo aos mais vulneráveis”, além do liberalismo, que está a serviço “dos interesses econômicos dos mais poderosos”.

À mon avis, toda forma de poder consiste em atender a interesses dos “mais poderosos”; concordo com o Papa quanto ao liberalismo e entre os “mais poderosos” incluo os consumidores que, mediante suas vontades expressadas no mercado, determinam aos agentes produtores o que produzir, quando, como e quanto. Evidentemente, esse poder não é nocivo enquanto serviço livremente exercido. Também entendo que a forma política supera a econômica em matéria de opressão, porque não adianta ter riqueza material sem a capacidade de dar ordens que são cumpridas, e isso remete à competência do poder político. E a história está repleta de exemplos onde o estrago do poder político ocorreu pela sujeição do poder econômico, e encerro a citar três fenômenos: o comunismo em seu planejamento central dos meios produtivos, sobretudo o da extinta União Soviética, em especial no terror de Stalin, em seguida penso no nazismo onde Hitler colocou os capitalistas a seus pés na mais horrenda versão de compadrio que tenho conhecimento, e o fascismo, o delírio muitifacetado de Mussolini que queria reviver os ideais corporativistas e de profundos controles sociais do Império Romano.

154. Citação do autor: Benedetto XVI, Lett. enc. Caritas in veritate (29 giugno 2009), 67: AAS 101 (2009), 700.

22/12/2022 22h18

Imagem: Província Carmelitana Fluminense

Frei Carlos Mesters

“Deus quer comunicar-se conosco através de realidade da vida. Por leio dela, ele nos transmite a sua mensagem de amor e justiça.”

Obra: Bíblia: Livro feito em mutirão. Primeiro Assunto. Bíblia: Palavra do Deus do Povo e do Povo de Deus. Edição (24a.) da Paulus, 2003, São Paulo, formato físico. De Jacobus Gerardus Hubertus Mesters (Holanda/Limburgo, 1931), nome na Ordem Carmelita: Frei Carlos Mesters.

Bíblia: Livro feito em mutirão é uma obra para todo tempo ser apreciada. Neste capítulo, Frei Carlos Mesters faz uma reflexão sobre três pontos da conversa de Jesus com os dois discípulos de Emaús.

O primeiro, a reflexão sobre a realidade. Antes da Bíblia, Deus nos escreveu através da natureza, os fatos, os acontecimentos, a história, “tudo que existe e acontece na vida do povo”. (p. 32). O segundo, a seriedade e a disciplina que devem marcar todo estudo bíblico; “nunca manipular o texto da Bíblia em favor das suas próprias ideias” (p. 33). O terceiro, a vivência comunitária, a considerar a criação de Jesus voltada a um ambiente de amizade e abertura, onde a Bíblia surgiu no meio de um povo oprimido, dentro de uma comunidade de fé; “e só com o olhar de fé da comunidade que pode ser captada e entendida plenamente a mensagem da Bíblia”. (p. 55).

21/12/2022 22h16

Imagem: Radio France

René Descartes

REGRA V

Todo o método consiste na ordem e disposição das coisas, para as quais é necessário dirigir a agudeza do espírito para descobrir a verdade. Observaremos isto fielmente, se reduzirmos gradualmente as proposições complicadas e obscuras a outras mais simples , e se depois, partindo da intuição das mais simples, tentar nos elevar pelos mesmos graus ao conhecimento de todas as outras.”

Obra: Regras para a Direção do Espírito. Edição da Martin Claret, 2003, São Paulo, tradução de Pietro Nassetti, formato físico. De René Descartes (France/La Haye en Touraine, 1596-1650).

Regras para a Direção do Espírito é uma obra inacabada do final da segunda década do século XVII (p. 71). Na pós-modernidade o que soa cartesiano é pouco considerado, no entanto, Descartes está presente na minha forma de trabalhar de forma intensa.

Partir das coisas mais simples e ir avançando aos poucos para tentar chegar a níveis mais elevados é a principal característica que me envido nas dificuldades do trabalho. Da programa à análise de problemas contábeis, fiscais, financeiros, trabalhistas e tributários, minha filosofia se pauta na busca da construção do conhecimento de forma sequenciada, apreciando e superando elementos mais simples para subir aos mais complexos, contudo, enfrento entre usuários que dou suporte, o problema da dispersão de conhecimentos combinado com a resistência a adotar sequenciamento lógico, sob a ilusão de que se pode resolver muitas coisas concomitantemente, queimando etapas e até mesmo subestimando a necessidade de conhecimento das coisas mais simples.

Quando surge um problema x, que para ser resolvido precisa da solução de pequenos problemas a, b e c, (os elementos simples que devem ser resolvidos) o que mais presencio no meu cotidiano é usuários tentando chegar a solução de x queimando uma ou mais etapas, ou seja desprezando a e/ou b e/ou c. O pensamento de Descartes então se torna precioso neste mundo de indivíduos que agem como se fossem oniscientes. A filosofia cartesiana serve para refletir sobre a importância de apreciar a construção do saber por método de sequenciamento por etapas a identificar e interconectar problemas condicionantes.

20/12/2022 22h50

Lembrança de Lisboa (2018)

“e ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia um lugar para eles na sala.”

Obra: Evangelho Segundo São Lucas, 2: 7. Bíblia de Jerusalém, edição da Paulus, 2000, São Paulo.

Era uma casa tão pobre e lotada que não se viu outro lugar a não ser uma manjedoura em algum canto da “sala” [153].

A narrativa de Lucas traça a singeleza divina diante de um mundo de indiferença, opulência e ostentação. A odisseia do Menino diante da ferocidade dos homens estava só começando; tornou-se um refugiado, seus pais tiveram que fugir com Ele para o Egito, para que ficasse longe de Herodes (Mateus 2.14). No tempo oportuno o Menino refugiado voltou com os pais, cresceu e sua pregação se chocou com a forma hipócrita com que os doutores escribas, saduceus e fariseus interpretavam a Lei de Moisés.

O jovem de Nazaré foi até onde ninguém tinha ousado a demonstrar uma leitura da Lei em seu “pleno cumprimento” (Mateus 5.17); não se contentava apenas com ritos e formalidades; a Ele interessava a sinceridade no coração; não há lugar no Seu pensamento para a hipocrisia religiosa. Obviamente, Sua mensagem incomodou os exclusivistas da religião e tudo o que se vinculava ao jogo político. O outrora Menino do subúrbio Nazaré, agora rabi, pregador, estava disposto a ir até as últimas consequências para deixar a sua mensagem. Por isso pagou com a própria vida: preso, torturado e crucificado!

Uma nova saga: Ressureição, testemunhada por duas mulheres, o que torna o relato ainda mais provocante ou subversivo. Como uma história de ressureição contada inicialmente por duas mulheres, Maria Madalena (Mateus 28.1) e Maria de Tiago (Marcos 16,.1), poderia ter sobrevivido e atravessado os séculos? O ápice da fé cristã, a Ressureição de Jesus, desencadeou entre seus primeiros seguidores um processo de total entrega. Seus seguidores agora estavam prontos para uma missão onde se tornaram dispostos a morrerem pela Mensagem e assim foram passando de geração a geração as tradições de São Pedro, crucificado de cabeça para baixo, passando pelos apóstolos, por São Paulo, que foi de algoz a mártir, e acabou decapitado em Roma.

Gerações de cristãos surgiram ouvindo e celebrando a fé encarnando o Evangelho e sacrificando suas próprias vidas; refletiram a essência da trajetória de Jesus e assim foram perseguidos, apedrejados, entregues em arenas para serem consumidos por feras, culpados por catástrofes, como o grande incêndio de Roma em julho de 64. Foram sumariamente executados por soldados imperiais, quando rejeitavam as ofertas e sacrifícios ao panteão romano e confessavam a “estranha” fé.

25 de dezembro, outrora data comemorativa nas tradições romanas para o Sol Invictus no panteão do antigo Império Romano…. Quando a fé cristã saiu da marginalidade das leis romanas e se tornou reconhecida, passou por cima da política, suplantou imperadores e engoliu as tradições pagãs. No lugar do Invictus de 25 de dezembro, prevaleceu a celebração de seu nascimento. O Natal de Cristo é um fenômeno coletivo a partir do que se desenvolveu no coração dos seguidores, e não um produto de massificação política do Império.

Imperadores caíram, impérios desabaram e Aquele Menino nascido em Belém e colocado em uma manjedoura, ex-refugiado, venceu o mundo. E alguns acreditam que o comunismo ou qualquer outra coisas possa vencê-Lo…

O Natal de Jesus é o Poder humanizado de Deus.

Cristo é a Rocha dos Séculos.

153. A tradução do termo grego katalyma abre discussão sobre a narrativa do nascimento em um estábulo.

19/12/2022 23h18

Imagem: flickr oficial

Olavo de Carvalho

“A busca da coerência é, porém, só um lado da filosofia. O outro é a abertura ao horizonte ilimitado da experiência, com toda a sua variedade e confusão freqüentemente irredutíveis. É bem exato caracterizar a filosofia – complementando a definição acima – como a tensão permanente entre experiência e razão.”

Obra: A Dialética Simbólica: Estudos reunidos. Nota prévia do autor, 25/03/2007. Edição da CEDET, Campinas, 2015. eBook Kindle. De Olavo Luiz Pimentel de Carvalho (Brasil/São Paulo/Campinas, 1947-2022).

Entre inúmeros críticos de Olavo de Carvalho há o tipo que nunca leu sequer uma linha do que ele escreveu em termos filosóficos, mas se considera habilitado para desqualificá-lo, não raramente repetindo jargões de terceiros que são notadamente enviesados.

Não se trata da questão de apreciar ou não o pensamento dele, mas de ter uma mínima bagagem para analisar o conteúdo e produzir uma crítica substancial, intelectualmente honesta; é a história do sujeito que “refuta” Mises com base em parecer de militantes progressistas disfarçados de professores, ou o que “detona” Marx com base apenas na opinião de algum influencer de direita promotor de espantalhos, sem ter passado pela importantíssima experiência própria da leitura seguida da reflexão, algo que, por final, é o que define a filosofia, como a ilustração de Hegel sobre o levantar voo somente ao entardecer (p. 7).

Olavo aponta a fuga dessa tensão que reflete a modernidade ao encerrar em uma “concepção diminutiva tanto da razão quando da experiência” enquanto o filósofo é o sujeito que “anseia por vivenciar conscientemente todos os passos” (p. 6) onde não cabe precocidade pois “todo suposto gênio filosófico acaba por desmentir suas ideias de juventude” (p. 7).

Na medida em que a leitura se torna um hábito coma reflexão cada vez mais refinada, pelo menos como um esforço nesse sentido, o silêncio toma conta até que uma condição madura, consistente, possa rompê-lo para, quem sabe, dar no alvorecer de um pensamento que exprima alguma lucidez.

18/12/2022 22h26

Imagem: Editorial CLIE

R.V.G. Tasker

“Uma das calúnias que os cristãos primitivos tiveram que refutar foi a de que Jesus teria nascido de uma união fora do casamento; pois, perguntava-se: porque não teria José relatado o assunto imediatamente às autoridades, ao descobrir que Maria estava grávida, quando seu contrato de casamento já vigorava.”

Obra: Mateus, introdução e comentário. Edição da Vida Nova, 1999, São Paulo. De Randolph Vincent Greenwood Tasker (Reino Unido/Inglaterra, 1895-1976).

E as implicações seriam gravíssimas a Maria se José tivesse levado a questão às autoridades religiosas; seria submetida a uma “publicidade vergonhosa”, como menciona o autor desta obra conhecidíssima, anglicano que foi professor de Exegese do Novo Testamento na Universidade de Londres. A possibilidade de José romper secretamente o compromisso se associa com o ato de proteger a jovem de Nazaré da difamação (Mateus 1.19), o que está no contexto, aponta, do evangelista ter sido “compelido a dar relevo a concepção sobrenatural do filho de Maria” (p. 26).

Mateus não tem a intenção de produzir um texto de história e sim de destacar pontos proféticos do significado de Jesus em contraste com a crença judaica à época, onde não se esperava que o messias nascesse de uma virgem. A narrativa do anjo que instrui José insere o elemento da revelação divina que dá pleno sentido à atitude protetora diante do legalismo judaico sobre a questão estar sob contrato de casamento e ver Maria grávida antes de recebê-la.

Nesse sentido, a história do concepção de Maria e do nascimento do messias no Evangelho de Mateus, reflete a ordem divina a superar o legalismo como se fosse um preâmbulo do que seria o Ministério de Jesus.

17/12/2022 21h34

Imagem: dfi.dk

Søren Kierkegaard

“A única coisa que em verdade consegue desarmar os sofismas do arrependimento é a fé, a coragem de crer que o próprio estado é um novo pecado, a coragem de renunciar sem angústia à angústia, o que só a fé consegue, sem que, contudo, com isso elimine a angústia, mas, ela mesma sempre eternamente jovem, desvencilha-se do instante mortal da angústia. Disto só a fé é capaz, pois só na fé a síntese é possível, eternamente e a cada momento.”

Obra: O conceito de angústia. Uma simples reflexão psicológico-demonstrativa direcionada ao problema dogmático do pecado hereditário. A angústia diante do mal. Edição da Vozes, 2010, Petrópolis, eBook Kindle. De Søren Aabye Kierkegaard (Dinamarca/Copenhague, 1813-1855).

O teólogo protestante que mais me influenciou quando fui seminarista, argumenta neste capítulo que o pecado em si é consequência que denota uma realidade injustificada, indevida; dá-se no arrependimento, mas que não se converte em liberdade, não pode anulá-lo, apenas lamentar-se por ele.

A angústia encontra o ápice sempre descobrindo antes o mal estar que o pensar acerca dos desdobramentos do pecado, quando essa consciência dos fatos avança enquanto tomada de juízo sobre consequências. O arrependimento então se torna o refúgio da angústia, enquanto sentimento sobre o pecado segue passo a passo, sempre atrasado, “a contemplar o terrível” como o enlouquecido rei Lear quando “perdeu as rédeas do governo e apenas mantém a força de se afligir”, ilustra. O arrependimento assimila o drama, associa pecado ao castigo e a perdição à consequência, arrastando o indivíduo pela existência a uma execução; é quando “o arrependimento enlouqueceu” (p. 155).

Quanto mais profunda for a reflexão do indivíduo sobre o pecado, mais profundo será o arrependimento, enquanto ficar desprovido dessa consciência ou “das coisas do espírito”, se torna a forma de evitar, negar, fingir que não percebeu, desprezando as dúvidas que essa reflexão tende a provocar, assim como procurar uma fuga no “juízo de pessoas honradas de que se é como todo mundo” (p. 157).

Kierkegaard reconhece que aborda algo que pertence à Psicologia, e considera o papel da ética em “deixar o indivíduo posicionado em relação ao pecado” (p. 158). Em suma, a teologia do dinamarquês é de uma profundidade existencial que exige do leitor um refletir cada vez mais exigente em cada argumentação desta obra.

16/12/2022 22h14

Imagem: U.S. EMBASSY & CONSULATE IN THE REPUBLIC OF KOREA

Richard Nixon

“As pessoas precisam saber se o presidente é um trapaceiro ou não. Bem, eu não sou um trapaceiro.”

Tradução livre.

Obra: Richard Nixon: A Life From Beginning to End. Chapter Six – Watergate. eBook Kindle, 2017. De Hourly History sobre Richard Milhous Nixon (EUA/Califórnia, 1913-1994).

Por pastor Abdoral

As publicações de Hourly History são ótimas para saguões de aeroportos… Recomendo ao meu amigo de infância na odisseia “filométrica” que se aproxima. Nas raras ocasiões de “home off” (no caso dele, o “office” é a regra, enquanto prefiro a caverna), filhinho, vosso Kindle será o TOP 1 na lista das coisas indispensáveis, afinal portar uma biblioteca neste aparelhinho enquanto se está passando pelo louco-efêmero-mundo-das aparências, de gente escondida pela estética, é uma das maravilhas do capitalismo malvadão.

Desonesto, honrado, trapaceiro ou vigarista, quem sabe vítima de uma armação por contra inteligência ou de aloprados do Partido Republicano, seja o que for cogitado para explicar a o triste fim de Richard Nixon e a renúncia, nem o Vietnã, nem Watergate foram o pior do que possa ter sido deixado pelo 37o. presidente dos EUA.

Muitos brasileiros, talvez pelo “complexo de vira-lata”, pensem que a extrema estupidez seja um produto de exclusividade nacional. Nixon provou que a burrice americana teve seus momentos de glória entre protagonistas canalhas, endinheirados e bregas, que se aproveitam da intelectualidade derretida de quem lhes dá crédito, e assim foram abertas relações e incentivado o comércio com a China nos anos 1970, controlada (até hoje) por um partido comunista, cujo regime não permite oposição, na medonha tese liberalóide que a melhoria de vida econômica da população faria uma pressão por valores democráticos (como se os chineses tivessem a mesma percepção sobre o valor que se dá a democracia no ocidente), e como se os mandatários do Partido Comunista fossem coerentes a suas “ideias”, na crença ingênua de que tal coisa importa a quem milita na política, sobretudo no âmbito revolucionário marxista.

Passaram-se 50 anos e a economia americana, junto com o restante do mundo ocidental, têm uma vulnerabilidade enorme com a dependência da produtividade da China; o Partido Comunista tem peso decisivo na condução de fatores na cadeia de produção, controlando empresários que são membros da organização que se tornou global a fazer de marionete o ocidente. O povo chinês melhorou de vida econômica enquanto continua no caminho da servidão da ditadura. O PC Chinês adotou um modelo econômico de mercado, pouca burocracia perceptível aos de fora, forte atração de capital, avesso às planificações soviéticas; deu as costas ao regime que caminhava para a falência na época da burrice nixoniana que poderia ter considerado mais o trabalho do Mises de feito em 1920 que já apontava a causa causante da derrocada de um modelo que o governo Nixon achava que estava a combater incentivando negócios sob a tirania de Pequim.

Claro que a burrice americana termina nisso, e é consoante a retardados que acreditam em políticos, pois há a esperteza de investidores que colocam negócios na China e não se importam que lá seja uma ditadura, com tanto que a economia tenha mercado (Se o Maduro fosse neoliberal também seria tolerado pela direita), tampouco há, pelo menos, desconforto com os crimes contra a humanidade que lá são cometidos, até porque dignidade e coerência de valores nunca foram os pontos fortes nem de socialistas “científicos”, nem de capitalistas eleitoral e oportunamente ambidestros, em especial os de compadrio.

15/12/2022 22h44

Imagem: ex-isto

Epicuro

“O essencial para a nossa felicidade é a nossa condição íntima: e deste somos nós os amos.”

Obra: Pensamentos. Antologia de textos de Epicuro. I – A filosofia e o seu objetivo. Edição da Martin Claret, 2005, São Paulo, formato físico. De Epicuro de Samos (Grécia/Samos, 341 a.C. – 270 a.C.).

Felicidade…

No prazer da cama…
No reclinar ao travesseiro
por uma boa consciência
onde a alma declama.

Íntimo do ser na condição
em riqueza da
espiritualidade,
por conhecimento e fé,
singela união
onde uma sabedoria ecoa
na eternidade.

Brota quando se exorta
do imaturo que se desejou
para o que realmente importa
ao perceber o que Deus falou.

Pastor Abdoral 15/12/2022 22h42.

14/12/2022 21h18

Imagem: Companhia das Letras

Sérgio Augusto

“Pseudônimo ou heterônimo? A maioria prefere a segunda acepção, dada a aparente nobreza que à palavra deu o poeta Fernando Pessoa. Nos dicionários, uma particularidade as dintingue: o heterônimo, ao contrário do pseudônimo, designa alguém com qualidades e tendências marcadamente diferentes do verdadeiro autor. Quem conviveu com Sérgio Porto talvez devesse, pois, considerar Stanislaw Ponte Preta mais um pseudônimo que um heterônimo.”

Obra: A metamorfose, de Sérgio Augusto (Brasil/Rio de Janeiro/Rio de Janeiro, 1942). Apresentação de Febeapá – Festival de Besteira que Assola o País. Edição da Companhia das Letras, São Paulo, eBook Kindle. De Sérgio Marcus Rangel Porto (Brasil/Rio de Janeiro/Rio de Janeiro, 1923-1968).

Na apresentação de Febeapá, o crítico discorre o processo em que o jornalista Sérgio Porto virou o lendário Stanislaw Ponte Preta, de um humor cujo estilo se notabilizou pela inconfundível intimidade de “malandro” com as palavras.

Na Revista Presença, edição no. 17, (Dez/1928), Fernando Pessoa tratou da diferença:

“A obra pseudônima é do autor em sua pessoa, salvo no nome que assina; a heterônima é do autor fora da sua pessoa; é duma individualidade completa fabricada por ele, como seriam os dizeres de qualquer personagem de qualquer drama seu.”

Heterônimo e pseudônimo me fascinam no universo da literatura. Penso no pastor Abdoral como um heterônimo, porque é um outro completo no exercício de confrontar referências, sobretudo em termos comportamentais; Abdoral tem mais ousadia nos antagonismos que jamais aplicaria em meu atual estado. Talvez o pastor seja um eu do passado que passou a “correr” em paralelo com o que entendo sobre o meu ser. Talvez seja um personagem produto de meus temores com os pensamentos mais soltos.

13/12/2022 23h20

Imagem: EBC

Manuel Bandeira

“Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois —
Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância

[…]

Rua da União…
Como eram lindos os nomes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame do dr. Fulano de Tal!)
Atrás de casa ficava a rua da Saudade..
. . . onde se ia fumar escondido..
Do lado de lá era o cais da rua da Aurora…
.. onde se ia pescar escondido.
Capiberibe
— Capibaribe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha

[…]”

Obra: Evocação do Recife. Antologia da moderna poesia brasileira. Revista Acadêmica, 1939, formato digital. De Manuel Bandeira (Brasil/Pernambuco/Recife, 1886-1968).

Ah, o Recife…

Ah, o Recife…
Reclamando e amando, irresistível na mente de um menino…

Que brincava
no parque da Rua Aurora
nas tardes de domingo.

Que viu muita gente pagando promessa
nas ladeiras do Morro da Conceição
no dia da Bandeira
pelo Beco do Pavão…

Que jogava bola na rua e colecionava “topadas”,
enlameado de “correr o mundo”
menino de bicicleta do Cajueiro à Jaqueira
sem neura de algum “mal encarado”…

É porque no Recife de minha infância
ainda não se falava em arrastão…
Sem celular nem internet e…
talvez aí esteja o segredo…
Ah, também peguei o finalzinho da felicidade
daquele tempo ingênuo do Arrudão…
Mas então sem poesia caí em maioridade.

Restam flashes dessa lúdica época em que torcidas rivais
até se permitiam a um provocante encontro
de ruas e arquibancadas lotadas
em dias de clássico…
sem que ninguém tivesse que se matar.

Ah o Recife de minha infância tem o Teatro de Santa Isabel,
o Guararapes, o Beberibe, o Amadores de Pernambuco,
o Sítio da Trindade…
Vi o mangue beat nascer…
Lenine antes da fama cantar…
E seu Ariano o Armorial anunciar.

Ah, o Recife…
Reclamando e amando, é irresistível…

Pastor Abdoral, 13/12/2022 23h15.

12/12/2022 22h54

Imagem: Mises Brasil

Ludwig von Mises

“Como todas as nações estão caminhando para o socialismo, a liberdade dos autores desaparece pouco a pouco. Torna-se cada dia mais difícil para alguém publicar um livro ou artigo cujo conteúdo não agrade ao governo ou a grupos fortes de pressão.”

Obra: A Mentalidade Anticapitalista. 4. A Liberdade de Imprensa. Edição do Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010, São Paulo. De Ludwig Heinrich Edler von Mises (Áustria-Hungria/Leópolis, 1881-1973).

Uma obra de 1956 e Mises parece “profetizar” o trágico caminho socialista das nações.

Na visão do sábio austríaco, a liberdade de imprensa é um dos pontos fundamentais de um país de cidadãos livres, porém, imprensa livre só é possível se estiver no âmbito privado, aponta. Em uma comunidade socialista, entende, “o governo determina sozinho quem deve dispor de tempo e de ocasião para escrever, bem como o que deve ser impresso e publicado” (p. 45). Neste ponto, a referência maior que Mises teve sobre o problema foi a União Soviética, no entanto, também pontua o que fizeram os nazistas no auto-de-fé do livro, algo que preconizou o socialista utópico Étienne Cabet (1788-1856) [152]. Hoje o controle da imprensa está mais escancarado em casos mais notórios como o da China, de viés econômico relativamente aberto enquanto politicamente é uma ditadura com partido único comunista; o de Cuba, declaradamente comunista, assim como o da Coreia do Norte, assim como ocorre com a imprensa na Rússia, um caso à parte, controlada por oligarcas em um modo capitalista de compadrio.

O pensamento de Mises foi marcado pela reflexão em torno da liberdade de escolha dos indivíduos; “qualquer um é livre para abster-se de ler livros, revistas e jornais que lhe desagradam, assim como para recomendar a outros que evitem esses livros, revistas e jornais” (p. 46), porém, argumenta, isso muda quando há graves represálias. Lembra o ancien regime onde aristocratas e nobres até riam com as provocações as quais eram alvos em peças e óperas (p. 46), enquanto em seu tempo percebeu a intolerância progressista à liberdade, com tendência a estabelecer o que hoje ocorre, de forma melhor perceptível, e nesse aspecto Mises também anteviu, nas patrulhas ideológicas que moldam o jeito de pensar e de se expressar de indivíduos em torno do que se entende por “politicamente correto” o que, na prática, atende a projetos de poder baseados em controles sociais.

152. Neste ponto, uma proximidade entre socialistas e nazistas, mentalidades baseadas em controles sociais e formas diversas de planejamento central, mas que não são a mesma coisa. Convém lembrar a derivação do termo nazismo: Nacional Socialismo.

11/12/2022 22h30

Imagem: Nobel Prize

Friedrich August von Hayek

“A liberdade não significa apenas a oportunidade e o ônus da escolha do indivíduo; também significa que ele deve arcar com as consequências de suas ações, receberá elogios ou culpa por isso. Liberdade e responsabilidade são inseparáveis.”

Tradução livre.

Obra: The Constitution of Liberty. Chapter five. Responsability and Freedom. Edition by The University of Chicago Press, 1978. De Friedrich August von Hayek (Áustria/Viena, 1899-1992).

A Constituição da Liberdade talvez seja a mais importante obra de Hayek. Fluvial e cirúrgica no tema da liberdade, marcou minha passagem para uma melhor compreensão da Escola Austríaca, quando ainda pensava como um “socialdemocrata”. Também marcou o momento de uma percepção mais nítida da grandeza do pensamento deste que foi um dos maiores pensadores do século XX.

O pensamento desta Leitura abre o capítulo cinco da obra. Para Hayek, não faz sentido a liberdade sem a responsabilidade e o peso da consequência das escolhas como fator preponderante na organização social; “uma sociedade livre não funcionará ou não se manterá a menos que seus membros considerem correto que cada indivíduo ocupe correspondente posição como consequência de sua ação, aceitando como devida a sua própria ação” (p. 71). A liberdade vista como um problema, para Hayek, foi vítima de uma “interpretação errada” advinda das lições da ciência mediante a questão da “vontade”, “o que nunca teve um sentido preciso”. Hayek também insere o problema da “personalidade individual” que, em sua concepção, “é essencial para a concepção de liberdade e responsabilidade”, quando o “determinismo universal”, que dominou a ciência do século XIX, parecia eliminar a espontaneidade (p. 72).

O tema da espontaneidade é muito caro na filosofia de Hayek e assim o austríaco Insere um problema de forma mais cirúrgica ao considerar que deterministas costumam alegar que, sendo as ações humanas determinadas por causas naturais, não poderia haver justificativa para responsabilizá-los ou elogiar ou culpar suas ações, o que tem sentido contrário ao que pensam os voluntaristas (p. 73).

Nesta polêmica, Hayek argumenta que a responsabilização do ser humano por suas ações influenciará o comportamento e não envolve a afirmação de um fato (p. 75), então, nessa visão, responsabilidade é um conceito legal, em termos jurídicos, tendo em vista que “a lei exige testes claros para decidir quando as ações de uma pessoa cria uma obrigação ou a torna passível de punição” (p. 76), no entanto, esse escopo vai além do que é considerado “moral”, pois “aprovação ou desaprovação da maneira pela qual determina a posição relativa de diferentes indivíduos, está intimamente amarrada com nossos pontos de vista sobre responsabilidade. O significado do conceito assim se estende muito além da esfera da coerção, e sua maior importância talvez resida no papel de guiar a vida do ser humano em decisões livres” (p. 76). Hayek entende que o argumento a favor da liberdade só pode ser aplicado àqueles que podem ser responsáveis, o que não se enquadra em infantes, idiotas ou insanos (p. 77), que a dignidade de uma pessoa no exercício da liberdade se atrela a seus valores, o que também indica que, em uma sociedade livre, um indivíduo será estimado de acordo com a maneira como usa sua liberdade; a estima moral não teria sentido sem a liberdade (p. 79).

A percepção que tive no capítulo é que a liberdade, em Hayek, só tem sentido com a contrapartida da responsabilidade, para que a moral fique evidente.

10/12/2022 21h26

Imagem: Casa Fernando Pessoa

Álvaro de Campos

“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

[…]”

Obra: Tabacaria. Poema. Em Mensagem. 15-01-1928. Edição da Martin Claret, 2005, São Paulo, formato físico. De Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando António Nogueira Pessoa (Portugal/Lisboa, 1888-1935).

De minha mesa tento olhar o mundo
de minha mesa entre tantas milhões que ninguém sabe quem é
(e se soubessem, o que saberiam?),
tudo corre impossivelmente compreensível na medida
do meu olhar.

Todos os sonhos em mim são irrelevantes em cada universo
enquanto me dão sentido ao viver, o meu, unicamente meu.
O que creio, ou não creio, algumas poucas certezas
na imensidão das dúvidas, são todos os sonhos de
minha imaginação a me deixar dividido entre
a realidade que varia no meu enxergar da alma
e a realidade exterior onde os outros me enxergam,
a mesma pela qual enxergo o mundo
e construo minha persona suportável,
não somente aos outros pois, às vezes,
a mim mesmo; perturbadora constatação!

Pastor Abdoral, 10/12/2020.

09/12/2022 23h30

Imagem: IHU

Bruno Forte

“Teu abraço
vence já o medo
do último silêncio,
onde habita
o nada da morte.

Ai está, contudo,
Outro não és mais Outro:
o teu mar
inunda-me
na paz.”

Obra: À escuta do Outro. Conclusão. Escutando o Outro. Poema. Tradução de Mário José Zambiasi. Paulinas, 2003, São Paulo, formato físico. De Bruno Forte (Italia/Napoli, 1949).

In Memorian

Em cada passo
naquele corredor,
todas as tuas vozes
calaram a minha alma…

Vociferavas em minha surdez…
Mas naquele corredor,
tudo o que não escutei
caiu em meus ombros.

Mais uns passos adiante
no que parecia se encerrar
em um vale de sequidão e estio,
aquietastes meu coração derretido,
consolastes todo o meu ser.

E meus olhos se abriram para entender
que há lugares que o Outro,
já não o era de outrora,
e que somente Ele pode estar comigo.

Pastor Abdoral, 16/04/2007.

08/12/2022 23h12

Imagem: Département Sciences sociales ENS de Lyon

Sylvain Gouguenheim

“O cristianismo é pouco ritualizado, o Islã é ao extremo: isso resulta em diferenças centrais na organização social. Palavras idênticas, portanto, não têm o mesmo significado. Assim, o termo “piedade” designa na adoração interior cristã, a realização de obras de misericórdia ou comparecimento à missa, mas para um muçulmano, piedade reside na obediência à lei.”

Tradução livre.

Obra: Aristote au Mont-Saint-Michel: Racines grecques de l’Europe chrétienne. 3. ANTAGONISMES. Antagonisme des structures et discontinuité des civilisations. V. ÉDITIONS DU SEUIL, 27, rite Jacob, Paris VI, Editions du Seuil, mars 2008. De Sylvain Gouguenheim (France, 1960).

Obra que destoa da narrativa de que os árabes foram protagonistas da divulgação da filosofia grega no ocidente europeu, segue o professor de história medieval da Escola Normal Superior de Lyon a afirmar, no capítulo que trata sobre antagonismo de estruturas (o contexto institucional, legal, que enquadram traços e temas culturais, p. 192) e descontinuidade de civilizações, face as fés cristã e muçulmana, que “as obras no Islã são práticas codificadas, coletivas e comunitárias; a espiritualidade muçulmana consiste, em primeiro lugar, cuidar da menor contaminação, de qualquer impureza, respeitando as regras estabelecidas desde o início. O Islã é uma ortopraxia” (p. 194).

No cristianismo europeu medieval, muitos traços de mentalidade escapam do universo do cristianismo (p. 193) e cita, como exemplo, que “a divulgação da lei romana não impediu a longa sobrevivência dos costumes, cujas origens às vezes remontam aos povos germânicos” (p. 193), mas na fé islâmica a concepção é de uma forma mais incisiva de organizar a sociedade, que fomenta leis, direciona políticas e determina minuciosos padrões de conduta. Obediência é a chave para se compreender a rígida visão islâmica para organizar a sociedade enquanto a mensagem de Jesus Cristo, sem deixar de ser religiosa, é “livre da lei” (p. 194), argumenta o professor que encerra o capítulo a afirmar que na oposição entre cristianismo e islamismo (no tocante à Idade Média) se observa um processo que provavelmente é universal, onde toda civilização é, em última análise, constituída a partir de um amálgama entre o que produz e o que recebeu em termos de patrimônio e o que aceita – ou recusa – do que vem de fora (p. 195).

07/12/2022 23h26

Imagem: Princeton Theological Seminary

Karl Barth

“Fé é uma história – uma história nova a cada dia! Não é, pois, nem estado nem qualidade. Não deve, portanto, ser confundida com ‘religiosidade’.”

Obra: Introdução à Teologia Evangélica. 9a. Preleção – A Fé. Sinodal, IEPG, 2003, São Leopoldo. Tradução de Lindolfo Weingärtner. De Karl Barth (Suíça/Basiléia, 1886-1968).

Talvez fora o mais importante teólogo protestante do século XX.

Esta obra contém a sua última preleção (1962). Leitura dos tempos de seminário, em 2004.

Para Barth, a fé é conditio sine que non (condição indispensável), mas não é o objeto da ciência teológica (p. 65). Fé é o evento pelo qual, sem sua ocorrência, é impossível se tornar cristão e teólogo (p. 65). Então, não é cabível a teologia com um teólogo sem a fé.

“É correto que ninguém conseguirá nem ouvir, nem ver, nem falar teologicamente, a não ser como pessoa libertada para a fé.” (p. 66)

A fé pode abranger variados tipos de religiosidade, que são tipos de “compreensão” (p. 67). Para ilustrar, Barth cita narrativas bíblicas. Crer não é “crer que” e sim “crer em” (credere in), conforme o Credo Apostólico. Barth recusa o “tu precisas crer” de Schiller (1759-1805); “é uma sabedoria pagã em todas as suas partes, inaplicável a fé cristã”, pois a fé não é um “feito ousado”, e para explicar esse problema cita a narrativa da proposta de Satanás a Jesus Cristo em relação ao pináculo do templo (p. 67).

Fé é “promissão firme e certa” (p. 67); “quem crê assim o faz não por sua razão ou força; limita-se simplesmente a acreditar “chamado e iluminado pelo Espírito Santo” (p. 68).

Fide quaerente intellectum (através da fé que busca o entendimento); e eis que um evento novo se torna possível em cada dia nessa experiência do viver em fé, que consiste também em um saber intelectual; em “toda modéstia, mas não debalde, está empenhada na pergunta pela verdade, ela pode tornar-se evento que se renova dia a dia” (p. 66).

06/12/2022 23h28

Imagem: Prêmio Nobel

Theodor Mommsen

“A educação dos jovens, portanto, permaneceu inteiramente confinada nos limites da mais restrita vida doméstica. O filho não se afastava do pai e o acompanhava não apenas nos campos com o arado e a podadeira, mas ainda em casa de amigo, e na audiência, se o pai fosse convidado para almoçar ou se tivesse de ir ao conselho.”

Tradução livre.

Obra: Storia di Roma. Quinto Capitolo. 15. Carattere della poesia e della educazione della gioventù. Edição de Greenbook, 2020, Roma. De Christian Matthias Theodor Mommsen (Alemanha/Garding, 1817-1903).

Melhor experiência de leitura do ano.

Roma antiga, antes do Império. Cultura e arte grega exerceram “grandíssima influência” no Lazio (pos. 4606). A mentalidade miliciana desta sociedade romana foi disseminada em todo cidadão. A arte sempre foi cultivada com honra pública (pos. 4606) onde a poesia e as belas artes estavam mais ligadas às mulheres (pos 4637).

A educação física era severa e vigorosa, porém estranha à ideia de aperfeiçoamento artístico do corpo, tendência da ginástica helênica; “as lutas públicas dos helênicos não mudaram a sua forma exterior na Itália, e sim o seu espírito e sua substância”. (pos. 4615). Não se assimilou a estética grega do embelezamento pela poesia no imaginário popular dos heróis deificados, o que me sugere o germe da mentalidade romana ter sido tão pragmática e militarizada.

A educação doméstica se voltava para conservar a família pautada na comunhão entre pai e filho; homens voltados para a casa e o estado, onde se fundava a força das tradições políticas (pos. 4655).

05/12/2022 23h36

Imagem: PlanetadeLibros

Max Gunther

“Evite criar raízes. Elas dificultam seus movimentos.”

Obra: Os Axiomas de Zurique. O 6o. Grande Axioma: Da Mobilidade. Best bussines, Rio de Janeiro, 2019. Tradução de Isaac Piltcher. De Max Gunther (UK/England, 1927-1998).

Lembra o autor, sobre este intrigante sexto axioma, a importância que a maioria dos psicanalistas dá a ter raízes (p. 118). No entanto, alerta para que se olhe esse negócio de raízes com cuidado, quando afeta a vida financeira; “pode lhe custar mais caro do que você imagina” (p. 118), afirma.

O sexto axioma não se limita ao problema da mobilidade geográfica e se refere, “acima de qualquer outra coisa”, a um “estado mental, uma visão das coisas, um método de organizar sua vida” (p. 119) para “preservar a mobilidade” (p. 127), a capacidade de trocar de posição rapidamente para algo mais atraente.

Max Gunther conta a história de um casal apegado a uma casa onde vivera durante duas décadas. O sentimentalismo com o imóvel parece ter-lhes cegado para o fato da rua entrando em decadência, junto com o bairro, o que afetou o valor do patrimônio. Se o objetivo for evoluir economicamente, então será preciso superar raízes; “prenda-se a pessoas, mas não a casas nem a bairros” (p. 121), sintetiza. O mesmo vale para ações em bolsas de valores; nada de se deixar levar por algum tipo de saudosismo, lealdade, afeto a empresa que entrou em decadência, uma sabedoria que prepara o leitor para refletir sobre o 10o. axioma menor: “Jamais hesite em sair de um negócio se algo mais atraente aparecer à sua frente” (p. 124) Se a função for especular, deve se agir como especulador e não como um sujeito preso a referências afetiva ou expectativas longevas enquanto oportunidades podem sinalizar uma realização mais célere, algo mais promissor, que passam a exigir reflexão, avaliação de prós e contras, pois “nenhum passo deverá ser dado por motivos triviais” (p. 127) para uma eventual mudança de posição.

Este axioma, por uma reflexão pessoal, acabou se tornando um importante complemento a análise de risco sobre manter elevado grau de dependência a um determinado negócio, quando a vida econômica começa a gravitar demais em torno de algo que pode não ter o mesmo sentimento de raízes, enquanto outras oportunidades possam significar melhor flexibilidade e menor exposição a uma dependência. Fiz uma releitura dessa questão para clientes de sistemas contábeis em Fly de 04/12/2022 Carteira descentralizada.

04/12/2022 10h48

Imagem: Vogue

Martin Luther King Jr.

“O homem surgiu em plena barbárie, quando matar o semelhante representava a condição normal da vida. Equiparam-no com uma consciência. Afinal, agora, ele atingiu uma época em que os atos violentos contra o ser humano devem transparecer tão detestáveis quanto a antropofagia.”

Obra: Os Dias Futuros. Luther King: O Redentor Negro – Preces e Mensagens. Edição da Martin Claret, 2001, São Paulo. De Martin Luther King Jr. (EUA/Geórgia, 1929-1968).

Mais um exemplo da expressão do pensamento do doutor King Jr. que não combina com a associação que se fazia dele com os comunistas, em especial com os de linha marxista que possuem nos meios violentos a principal característica revolucionária.

É muito difícil situar a ideologia política do pastor King Jr. A rotulação binária “comunista ou capitalista?” [150], tomou conta dos tempos da Guerra Fria, assim como – guardando as devidas proporções – a versão simplória imbecilizante “Lula ou Bolsonaro?” tomou conta do Brasil este ano. Nos anos 1960, o doutor King Jr. com a sua luta progressista pelos direitos civis, por meio da filosofia da não-violência, trouxe arrepios à Casa Branca e ao FBI. É possível que o suposto dossiê do FBI, com registros de supostas aventuras extraconjugais, tenha sido um instrumento de campanha difamatória contra o dito “mais perigoso negro da América” [151].

O pastor King Jr. abre esta mensagem reconhecendo que o presidente Kennedy “era uma personalidade fortemente contraditória” a governar nos dois primeiros anos em uma margem mínima eleitoral (p. 109). Kennedy teria percebido a fluidez da opinião pública americana; nem radical, nem moderada, nem conservadora. Em seguida, doutor King Jr. viu Kennedy sair de uma posição de “líder hesitante” para uma “figura expressiva com objetivos bem atraentes” (p. 110). King Jr. viu o assassinato de Kennedy como a destruição de um “rosário de ilusões” (p. 130); o ódio passou a ser mais percebido como algo contagioso, a se espalhar como uma doença e, após mencionar alguns casos de assassinatos, o próprio seria mais um alvo fatal desse ódio, o que torna este texto muito importante para se entender a complexa teia que desemboca na violência enviesada peculiar no mundo da política. O pastor batista Prêmio Nobel da Paz lamentou a “falha imperdoável” de sua sociedade em não identificar assassinos (p. 110).

Em seguida, explicou porque não formalizou o apoio político a Kennedy na campanha, sob a visão de que “o movimento dos direitos civis deve manter sua independência” (p. 113), porém, em um eventual pleito de reeleição, tomaria a decisão de apoiá-lo. Defendeu que os negros saíssem da neutralidade e apoiassem candidatos “cujo passado justifique a confiança” (p. 115) em um panorama no Congresso, assim entendeu, dominado por “reacionários sulistas” (p. 116). Neste ponto, penso o quanto este tipo de análise pode ter soado como “coisa de comunista”. Defendeu que negros em bloco façam alianças políticas para serem escutados como minoria parlamentar; lembrou que alianças assim não são singularidades na vida americana pois “há anos, trabalhadores, fazendeiros, homens de negócios, veteranos e outras minorias nacionais concorreram às eleições desta maneira” (p. 117).

Por fim, chegou ao tema dos benefícios da luta dos direitos civis, por ampliar o conceito de fraternidade que poderá alcançar o âmbito da paz mundial (p. 118) tendo em vista o sentido de que “mais cedo ou mais tarde, todos os povos do mundo, sem considerar os sistemas políticos dentro dos quais vivem, terão de descobrir um meio de viverem juntos em paz” (p. 119) e é neste contexto que está a citação desta Leitura.

150. Há dois tipos de difamadores sobre o pastor: o primeiro está na categoria dos que desconhecem o pensamento real dele, bem como da complexidade dos termos “comunista”, “socialista” e “progressista”, e assim apenas repetem jargões de bolhas ideológicas onde se situam. O outro tipo está mais para os profissionais da política que difamam sistematicamente para destruir a reputação de opositores ideológicos.

151. Sobre esta questão, oportuno o documentário “The Most Dangerous Negro in America” do diretor Sam Pollard.

03/12/2022 23h40

Imagem: flickr oficial

Olavo de Carvalho

“Toda tentativa de provar que o feto não é humano esbarra em contrassensos intransponíveis. Mas negar que o outro seja humano é a mais velha desculpa de quem deseja matá-lo. A ciência nazista provava, com argumentos parecidos, que os judeus não eram gente.”

Obra: O Imbecil Coletivo. Suplemento suplementar. Conversa franca sobre o aborto. Editora Record, 2018, São Paulo, 3a. edição, formato físico. De Olavo Luiz Pimentel de Carvalho (Brasil/São Paulo/Campinas, 1947-2022).

Olavo de Carvalho lembra o quanto aborteiros repetem argumentos similares ao desprezo que nazistas tinham pelas vidas que não consideravam. O aborto, na visão do filósofo, envolve duas perguntas: a primeira consiste em esclarecer se o feto no ventre é um ser humano ou não. Neste ponto, menciona duas classes de indivíduos, que os chama de “imbecis”, por adotarem a hipótese que nega a humanidade no feto: os “espiritualistas” que argumentam sobre um suposto momento em que a alma “entra” no corpo, como se houvesse um momento sem alma ou sem humanidade, e os materialistas que não encontram diferenças de um feto em um humano em comparação com o feto de um macaco (p. 389).

Superada a primeira questão, eis que o não citado no texto, mas bem conhecido “meu corpo, minhas regras” é o dito que entra em cena onde o feto é tratado como um órgão do corpo da gestante. Mesmo que isso fosse verdade (o feto foi produzido não apenas pela mulher, mas também pelo homem na concepção), na visão de Olavo de Carvalho, seria como aceitar a mutilação do corpo.

Olavo de Carvalho sugere a mulheres, sem condições de suster uma criação, que perguntem a políticos que exploram o argumento da incapacidade econômica para matar no ventre, se estariam dispostos a darem algum dinheiro para ajudá-lo a viver, assim como “teria sido bom que suas próprias mães o seguissem enquanto era tempo” nesse aconselhamento, além de aplicar o mesmo argumento de negação da humanidade do feto para negar a humanidade de quem apregoa o aborto (p. 390).

02/12/2022 23h22

Imagem: Câmara Recife

José Nivaldo Júnior

“Estudar o passado, portanto, não é um exercício de erudição. É uma busca de experiências para a vida prática.”

Obra: Maquiavel – o Poder, História e Marketing. Capítulo 3 – Os modelos de Maquiavel. Edição da Martin Claret, 2002, São Paulo, formato físico. De José Nivaldo Barbosa de Souza Júnior (Brasil/Pernambuco/Recife, 1951).

O professor José Nivaldo Júnior nesta passagem se refere ao que pensava Maquiavel sobre a relevância do estudo da História “seguindo a crença de que ao longo do tempo as situações se repetem” (p. 51). Para obter sucesso na política é necessário conhecer bem o passado, em especial o “marketing dos heróis”, “as estradas já palmilhadas pelos que se tornaram grandes” (p. 53).

O capítulo 3 desta obra começa pela visão pragmática de Maquiavel sobre a História, passa pelos conceitos de virtú e fortuna (p. 54), em relação ao fenômeno do poder, à liderança (pp 54-56), discorre sobre exemplos de “heróis do passado” pp (57-61) como inspiração aos contemporâneos que se aventuram na política, todavia, me restrinjo à História como fonte de uma reflexão para construir um saber voltado ao que Winston Churchill pensou similarmente sobre o olhar mais atrás, com uma profundidade maior no passado, para enxergar melhor no horizonte, mais distante, em relação ao futuro. Esse exercício é caríssimo, exige um esforço considerável para tentar ver as coisas como ocorreram (algo por demais complexo em função de que a história normalmente é contada pelos vencedores) e não como as crenças pessoais indicam como deveriam ter sido, sabendo separar a análise dos fatos, dos juízos de valores, para saber como os protagonistas agiram, os resultados que obtiveram e os possíveis padrões das ações humanas.

01/12/2022 23h16

Imagem: Radio France

René Descartes

“O primeiro consistia em nunca aceitar como verdadeira nenhuma coisa que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, em evitar, com todo o cuidado, a precipitação e a prevenção, só incluindo nos meus juízos o que se apresentasse de modo tão claro e distinto ao meu espírito, que eu não tivesse ocasião alguma para dele duvidar.”

Obra: Discurso do Método. Segunda Parte. Edição da Martin Claret, 2003, São Paulo, tradução de Pietro Nassetti, formato físico. De René Descartes (France/La Haye en Touraine, 1596-1650).

A dúvida sistemática como recurso para construir conhecimento.

A dúvida… Nada é tão politicamente incorreto em minha geração repleta de materialismo-hedonista, imediatismo movidos a ansiolíticos, acometida de raciocínio binário que se pauta por preferência a convicção, politização de quase tudo, carência de exame racional das ideias, superestimação do (não raramente) raso saber, desprezo pela leitura, ódio ao conhecimento alheio e glamourização da ignorância.

No meu cotidiano profissional muitas vezes o que me resta é um “não sei” em muitas ocasiões onde um cliente apresenta um problema, não raramente sugere causas, aponta soluções e me “instrui” como devo proceder. Sigo no “não sei”, sucedido por um “vou investigar” e isso costuma trazer frustração. Se tem algo que combato no meu ego é o rótulo de “sabe-tudo”; minha preferência está no duvidar como processo e arma de qualificação na construção de um saber e é exatamente esse o espírito de Descartes, leitura essencial para se compreender a relevância do ato de reconhecer que não se sabe o mínimo para apontar causa, muito menos solução. O método cartesiano talvez seja por demais “desaconselhável” entre os que preferem cultivar dogmas, achismos com opiniões prontas, normalmente pré-concebidas por meio de uma visão de mundo idiotes, digo presunçosa e plena de um falso moralismo, que não permite questionar o próprio juízo e demoniza o contraditório.

Sou um indivíduo de incontáveis dúvidas e pouquíssimas certezas; não tenho muita coisa para ensinar e sim para perguntar, o que não é atraente em nosso tempo de “gurus” ou “influencers” com respostas prontas que parecem vir do panteão.

Na minha atividade profissional, a dúvida é ferramenta de trabalho. O meu caminho padrão é o da formulação sistemática de perguntas, onde sobram pouquíssimas respostas conclusivas no imediato. Vou dividindo em partes (segundo ponto do método de Descartes, p. 31) para tentar resolver as questões passo a passo. Na medida em que vou questionando e entendendo ponto a ponto, talvez, dependendo da qualidade dos juízos e das perguntas, sobretudo como procedi mediante resultados que obtive nessa construção indutiva do saber pelo duvidar, então, poderei encontrar alguma mínima condição de chegar a algo mais substancial em termos conclusivos. Contudo, nesse processo, tenho que ficar atento para não sabotá-lo, a saber que há situações onde a dúvida é negligenciada, a começar de minha própria disposição a superestimar o que tenho como “conhecimento” quando de fato não sei o suficiente. Por isso se torna muito importante o terceiro ponto, de ir do mais simples ao mais complexo, galgando degraus (p. 32) para consolidar esse processo de maneira que o revise e assim nada omitir quanto ao que se relaciona com as conclusões que obtive.

Duvidar é preciso, ler é vida, dar palpite é supérfluo, e tal regra se torna essencial em tempos onde o pior está sempre à espreita: a ilusão do conhecimento.

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