Assim como Buongiorno (2021) e Fly (2022), o conteúdo de À bientôt ficará acessível por tempo determinado.
18/11/2023
Falta de contabilidade dificulta cumprimento da REINF
– Como vamos atender a todas essas exigências se os clientes não repassam informações? – A pergunta se repete não raramente nas ocasiões em sou consultado para explicar as exigências da série R-4000 da EFD Reinf.
– A REINF remete a tarefas de apropriação de fatos contábeis acerca de retenção na fonte no ato de registro, seja de nota de serviço tomado, seja de pagamento, em fato que ocorreu retenção de tributo atingido pela obrigação – expliquei – mas, infelizmente, hoje é normal que os escritórios não realizem escrituração contábil dos clientes, e assim essas informações não são mais conhecidas, não passam pelos controles contábeis mediante lançamentos no livro diário que registrariam os eventos, as notas de serviços tomados, os pagamentos, as apropriações de obrigações tributárias no passivo circulante, além dos demais registros financeiros que são referenciados ou, em outras palavras, é a falta de contabilidade em empresas e escritórios que dificulta bastante o cumprimento da REINF – finalizei.
A maioria dos contadores que mantêm escritório então se desanima com a constatação óbvia de que a contabilidade é o campo de trabalho onde são registrados os fatos patrimoniais, operacionais, financeiros e tributários e que se tivessem a praticá-la nos clientes, certamente estariam em uma situação menos complicada para cumprir a obrigação da REINF, assim como diversas rotinas que são prejudicadas por falta de dados que só podem ser legitimados pela atuação contábil.
A contabilidade se tornou um cadáver nas empresas do Brasil caricaturado pelos legisladores e fiscos, distante do Brasil real. Falar de contabilidade é tratar sobre um elemento estranho e muitas vezes indesejado na vida de muitos escritórios e profissionais. Contudo, não se chegou a este triste cenário apenas por vontade ou desinteresse dos profissionais; trata-se de uma questão ampla quanto às causas que dizem respeito à indisposição dos empresários para manter uma boa contabilidade e pagar honorários à altura do serviço, além da carência de pessoal qualificado dentro dos escritórios para realizar as tarefas. Quanto a isso, lembrei-me de um espirituoso cliente, um empresário que descobriu que seu contador não poderia atendê-lo na mudança da forma de tributação que adotou; saiu do Simples Nacional para o Lucro Real. O contador alegou que não tinha como realizar tarefas de escrituração de livro diário e assim o deixou à vontade para procurar outro escritório. Descobriu-se que o contador não tinha estrutura (tecnológica) nem pessoal qualificado, e assim se limitou a empresas no Simples.
Quanto ao empresário dispensado pelo contador, levou um tempo considerável para amadurecer uma importante mudança na gestão contábil da empresa, algo que se deu pela demora para encontrar um escritório disposto às suas exigências, a ponto de sair com essa: “procuro um contador que saiba trabalhar com contabilidade, você conhece algum?”. Não faço indicação, mas achei a pergunta hilária, provocante, porque me remete a uma verdade inconveniente e que precisa ser enfrentada por profissionais que ficam a reclamar da “falta de valorização” enquanto atuam como despachantes e não como contadores de verdade. Felizmente, o empresário encontrou uma solução bem estruturada, não na contratação de um escritório, mas na montagem de uma pequena equipe própria com um auxiliar contábil e um analista financeiro, ambos na condição de empregados à disposição de um contador autônomo que acertou de visitar a empesa duas vezes por semana como chefe da contabilidade e, claro, contratou um sistema contábil.
O caso acima é raro. Muitos contadores desistiram de trabalhar com contabilidade de alto nível não porque se acomodaram e sim por conta de fatores acima de suas capacidades de reação, que passam pela imensa desorganização nas empresas, onde se multiplicam as culturas de caixa dois e sonegação, derivadas, em grande parte, de um ambiente hostil ao empreendedorismo dada a alta carga tributária e a hiperburocracia, bem como a insegurança jurídica, o que remete a outros problemas tais como a falta de colaboração dos empresários, certamente com medo de compartilhar certos dados com o contador, tendo em vista que esse importante profissional para a economia, no Brasil além de ser reduzido a “DARF Maker”, há muito tempo foi convertido em delator e despachante pelo Big Brother Fiscal ou, como o mesmo espirituoso empresário se referiu, muitos contadores viraram apenas “office boy da Receita com carteirinha do CRC”.
Quando sai o contador e permanece apenas o despachante nas empresas, morre a contabilidade; a trágica ironia dessa verdade é que um dos maiores causadores do problema do desprezo à contabilidade, o aparato estatal, exige algo que só pela contabilidade pode ser bem atendido e embora as dificuldades com coisas como a REINF desmotivem muitos contadores, talvez ajudem outros tantos a refletirem sobre o que estão fazendo com a profissão que escolheram e o que pode ser realizado para entrarem em um seleto grupo de profissionais sofisticados que são bem remunerados.
Qual?
O de contadores em empresas e entidades onde a contabilidade existe e é levada a sério.
15/10/2023
Entre o tecnológico e o obsoleto
– Como será possível um escritório oferecer os mesmos serviços no presumido cobrando quase metade do nosso preço? – fui indagado por um experiente contador sócio do negócio contábil que teve que escutar do cliente a fatídica frase: “encontrei um contador mais barato”.
Comecemos pela hipótese tecnológica – e continuei – o concorrente pode ter adotado algum pacote de escrituração robotizada que possibilita reduzir drasticamente custos com pessoal, normalmente o maior em uma empresa contábil, de maneira que aplicações robotizadas realizam trabalho repetitivo à noite, quando o escritório está fechado, coletando notas fiscais e demais documentos disponibilizados nas bases de clientes e do fisco para, em seguida, lançar na base de dados dos sistemas internos a produzir escriturações que estarão concluídas, via de regra, na manhã seguinte em que o escritório for aberto, e assim faz desabar o custo com folha de pagamentos visto que não precisa mais de operadores nos sistemas para importar documentos, substituídos por robôs e sim por profissionais capazes de realizar boas análises de apurações. Desta forma, acaba por criar condições de oferecer serviços com preços mais econômicos, conservando uma boa margem de lucro, em suma: menos é mais – resumi a ópera sob um olhar atônito.
Escritórios que passaram a utilizar escrituração robotizada estão demitindo profissionais carentes em conhecimentos mais aprimorados de processos de escrituração, sequenciamento lógico de tarefas, normas contábeis, legislação tributária e TI; no lugar deles entram, em quantidade bem menor, profissionais com as qualificações mencionadas ou seja, estão trocando quantidade por qualidade, reduzindo a folha de pagamentos e isso pode ser verificado em casos onde no departamento fiscal onde tinham cinco empregados, restou um bem mais qualificado compondo um custo total bem inferior quando somados os dispêndios com folha de pessoal e TI, em comparação com o quadro anterior onde a equipe de cinco operava sistemas repetindo tarefas de importação; além de serem mais caros, produziam bem menos. Um modelo robotizado eficiente permite aumentar a carteira de clientes de forma nunca antes vista no mercado de serviços burocráticos, enquanto possibilita margens mais atraentes pela economia de escala.
O interlocutor descartou a primeira hipótese, embora a tenha reconhecido como algo “muito interessante”, acredita que seu indigesto concorrente está na hipótese seguinte, a qual chamo de “obsoleta”, mas também posso chamá-la de “negligente” ou “irresponsável” quando a gestão comercial do escritório, para conseguir novos clientes, desesperadamente oferta serviços em modo leilão às avessas, cobrindo qualquer oferta concorrente, sem triagem, sem considerar se tem condições de realizar os serviços e o resultado pode ser um empresário que, de animado com a redução de custos com o contador, vai ao caos com sérios problemas no fisco estadual, por erros e/ou omissões no Sped ICMS ou com o CNPJ inativado no fisco federal por não cumprimento de obrigações acessórias elementares como DCTF e Sped ECF, por sinal, tem sido frequente em minhas consultorias escutar lamentos de empresários que trocaram por um “escritório mais barato” e se deram muito mal por conta dos problemas que sucintamente aqui discorri.
Empreendedor não abre empresa pelo prazer de recolher impostos e atender ao hospício burocrático nacional, obviedade que parece ser esquecida por “contadores”, aspas a muitos que não exercem a profissão enquanto atuam apenas como despachantes e, curiosamente, esperam por maior reconhecimento, o que é impossível neste aspecto, a não ser que exista alguma fadinha do pozinho mágico da valorização. A percepção do empresário diante de custos com burocracia e impostos tende a ser pragmática. Tudo que é obrigatório cai no problema da competição por preços onde valor sai de cena. Preço e valor são conceitos distintos; o primeiro é um fenômeno monetário, mensurável de forma objetiva, e o segundo diz respeito a juízos que estão acima da objetividade do preço e dizem respeito a princípios em torno da capacidade de retorno de algo ou alguém.
Para fazer DAS, DARF ou qualquer outro tributo padronizado e coercitivo, onde se possa encontrar em qualquer esquina quem os faça, a variável determinante será o preço, mas se for o caso da necessidade de um profissional muito qualificado, com habilidades um tanto raras, o valor será determinante e o preço estará submisso a ele. Sendo escasso por seu valor, composto por habilidades especiais, o profissional tende a ter o preço alto e isso ajuda a explicar porque é bem pago um contador em uma empresa onde são necessárias as apresentações e análises de demonstrações contábeis enquanto um contador darfista é tão desvalorizado. Adicione os métodos robotizados que reduzem custos e o darfista ficará ainda mais desvalorizado a ponto de, quem sabe, um dia desaparecer do mercado.
Então, se na lógica da hipótese tecnológica, menos é mais, para se desvencilhar do obsoleto, o profissional que desejar maior valorização terá que desenvolver formas de ser visto como incomum ou até raro e mais necessário, e no caso dos atuantes em serviços contábeis, nada supera a excelência do legítimo serviço de um contador, algo que não deve ser confundido com o de despachante ou “darfista”, agente da manada encontrado em qualquer esquina. Em seguida esse profissional, mais consciente do papel social e do significado do valor, em vez de se lamentar com termos vagos do tipo “uberização”, ou clamar por intervenções no mercado, entre outras ideias de uma educação socialista, poderá explorar fenômenos de escassez, sair do espaço comum onde todos fazem a mesma coisa e concorrem com robôs, para encontrar um espaço peculiar auto sustentável, e tais constatações não as inventei; são naturais, das leis de mercado em oferta e demanda, conhecimentos de economia que, por sinal, muitos contadores precisam aprender urgentemente.
24/09/2023
Sabem de nada, inocentes…
Breves indagações sobre o curioso caso das entidades CFC, Ibracon e Fenacon com a REINF:
Por que, na qualidade de membros do piloto do Sped, só agora, muito tempo depois da formalização dos leiautes e dos prazos iniciais, decidiram se manifestar junto à Receita Federal sobre a monstruosidade da REINF?
Seriam o piloto do Sped meramente estilo análogo ao do vice Temer diante da “presidenta” Dilma, “decorativo”, apenas no papel? Se sim, por que silenciaram? Se não, por que não usaram o piloto, espaço mais adequado, para preventivamente trata sobre o problema?
Se ocorreram discussões no piloto, qual foi o posicionamento de cada entidade? Se houve apoio, não estariam sob a responsabilidade de ajudar na construção de uma aberração para depois, mediante o público leigo infantilizado, fingir que também são vítimas? Ou se foram voto vencido, por que não levaram antes ao conhecimento de seus representados, de forma republicana?
Ou será mais apropriado aqui o “sabem de nada, inocentes…”?
20/08/2023
Janeiro de 2024: Uma tempestade perfeita
Os tempos extraordinários da pandemia, consoante às sobrecargas de rotinas, serão como um passeio no parque para escritórios contábeis, se comparados com o que está programado para ocorrer em janeiro de 2024 com potencial de trazer uma tempestade perfeita, face à inédita combinação de mudanças profundas em rotinas de obrigações acessórias, senão vejamos:
O FGTS Digital entrará em produção com uma mudança radical na forma de se produzir as obrigações atualmente cobertas pelos aplicativos SEFIP, GRRF e Conectividade Social V2. O modelo é, de fato, simplificado na emissão de guias, no entanto depende do bom funcionamento do sistema de rubricas aplicado nas bases do eSocial, o que tende a exigir maior cuidado dos usuários de folhas de pagamentos na parametrização de lançamentos, visto que o eSocial trabalha com um modelo analítico de apuração bem mais exigente que o modelo de informação de bases SEFIP/GRRF. Outro problema no modelo do FGTS Digital está na gestão de procurações, que terão que se refeitas sob um grau de segurança em dupla confirmação, o que vai pressionar duramente os escritórios no procedimento inicial.
Janeiro… aquele tempo em que alegremente pensamos na renovação de nossos laços com IPTU, IPVA, alvarás, anuidades, matrículas etc e tal…
Em paralelo, haverá uma mudança de versão do eSocial da S-1.1 para S-1.2, o que poderá provocar maior estresse no suporte de TI, pois o período de convivência entre as versões será breve, de dois meses, de 21 de novembro até o dia 21 de janeiro..
A mudança de versão do eSocial será imposta para atender o advento da DIRF Mensal a partir do mesmo mês de janeiro. Na prática, o fisco federal vai impor uma troca de uma obrigação anual por uma mensal. Os sistemas de folhas de pagamentos serão submetidos a um estresse muito maior de validações do webservice do eSocial, sobretudo em relação ao S-1210, e destarte os usuários deverão ficar bem mais atentos a dados sobre dependentes, beneficiários de pensão alimentícia e planos de saúde, isso todo mês.
Não terminou: no mesmo janeiro de 2024 entrará em produção a DCTFWEB da série S-4000 da REINF, com a substituição dos tributos retidos declarados na série, que hoje vão via DCTF, mudança que aumentará o estresse por conta da maior complexidade da DCTFWEB que envolve dois departamentos com rotinas de conferências distintas, mas que são contaminados pela mistura da declaração nascida dos braços do eSocial e da REINF, bem como as tradicionais atualizações do Sped Fiscal ICMS, com mudança de versão que forçam mais atualizações nos módulos fiscais.
Então, além do fenômeno de pedidos de demissão ou “pegar a bolsa e ir embora”, imagino mais um capítulo do muro das lamentações em grupos de redes sociais (só servem para isso mesmo) e das entidades subservientes que fingem nada saber enquanto essa “tempestade perfeita” se aproxima no conturbado oceano da burocracia-orgulho-nacional e assim vão pedir o que só sabem fazer: prorrogação.
Finda-se mais uma crônica de um velho chororô anunciado…
23/07/2023
Um roteiro para seleção de clientes
Parecia um potencial promissor contrato no horizonte com um escritório a anunciar clientes no Lucro Real e demandas de integração contábil se não fosse a entrevista no Zoom…
Escuto com frequência que “o mercado está muito difícil”, e assim muitos parecem dispostos a fechar negócio com o que aparecer pela frente, enquanto desde 2019 adoto um roteiro que inclui análise prévia no processo de admissão de cliente, seja escritório contábil ou empresa em geral.
Um aparente grande negócio pode se revelar impróprio quando escuto previamente proprietários e colaboradores, e ficam evidentes alguns problemas que vão além de minhas atribuições, entre os quais quando identifico um nível muito elevado de deficiência técnica no corpo funcional e nos próprios gestores, fato do último caso, diante de demandas que surgiram recentemente e envolvem contabilidade em um nível que fica melhor quando realizado na própria empresa, contudo, esta não foi a questão decisiva e sim como é tratado o perfil comum dos novos clientes do escritório, sob diversos problemas retroativos a três anos, mal esclarecidos, sobretudo no contrato que os gestores firmaram. Somente depois de admiti-los, a administração do escritório se viu em um cenário caótico que exige uma “força-tarefa” para rotinas por demais onerosas de tempo e alocadoras de conhecimentos que a estrutura de recursos humanos que dispõe está distante demais para atender. Com empregados impróprios ao perfil, sem aptidões básicas essenciais que poderiam ter sido apreendidas na faculdade (a maioria que se disse “formada” apenas reforçou a tese de que o sistema de ensino dito “superior” é, não raramente, uma ilusão), o escritório agora precisa (mesmo que seus gestores não reconheçam) importar recursos humanos, ou seja, contratar pessoal à altura dos novos serviços, contudo, ao avaliar a cadeia de custos pelo preço caríssimo de profissional para lucro real, identifiquei ser impossível de ser coberta tal empreitada, sobretudo devido à mentalidade imatura dos gestores do escritório, que ainda pensam que um “bom” software contábil, per si, resolverá, razão pela qual ainda insistem em acreditar na aplicação de um quadro de empregados sem suficiência técnica no tocante à questão. Fiz uso então de uma metáfora no final para alertá-los: o problema não é o sistema em uso atual (o concorrente me agradeceria, será?) e sim falta de gente para usá-lo com mínima perícia, da mesma forma de um indivíduo que compra uma Ferrari, mas não sabe pilotar, e não me refiro somente a conhecer os instrumentos da lendária máquina italiana e sim, sobretudo, ao domínio de regras básicas de pilotagem.
Adoto avaliação mais rigorosa para seleção de clientes porque não sou apenas um fornecedor de software, aliás, a referida atividade, há muito tempo, deixou de ser meu “carro-chefe”. Se fosse apenas um vendedor de software, poderia simplesmente fechar negócio pelo prêmio da comissão, mas não me limito, e nem gostaria de me ater a isso, e o pós-vendas é então a parte mais importante; por isso dou diretamente suporte ao serviço de TI que vendi. O estilo de suporte que realizo funciona como um departamento terceirizado de muitos escritórios para lidar com determinadas demandas onde saem treinamentos, assessoria tributária e apoio técnico a rotinas internas. Penso, em suma, no que ouvi em tom espirituoso, como o “cara da sala de crise”.
Meu roteiro de avaliação começa com uma entrevista (atualmente no Zoom) para levantamento de dados: volume de clientes, perfis tributários, quadro de empregados, trabalhos realizados e eventuais necessidades especiais. Identifico também, durante a entrevista, a visão administrativa do(s) proprietário(s), se há alguma crença específica sobre trato de recursos humanos, sistemas de TI e formas de atendimento. Também verifico expectativas de empregados e eventuais insatisfações. Tento compreender o que não funciona adequadamente no sistema em uso e quando verifico que o problema não é o sistema, acende uma luz de alerta. Após a entrevista, vem a fase de pesquisa onde faço outros levantamentos, sobretudo de aspectos éticos e, se necessário, marco outra entrevista para dirimir eventuais dúvidas. Se o resultado for satisfatório, onde entendo que minhas competências são compatíveis com as necessidades identificadas, e o retorno econômico sinaliza viabilidade, então apresento uma proposta, caso contrário, emito um comunicado de indisponibilidade de oferta ou “declaração de incompetência”.
Em outro caso a envolver uma empresa em geral, pude ver o quanto essa análise prévia é importante para evitar perda de tempo e de esforços, fato que se deu em uma avaliação de uma empresa onde sobravam vícios administrativos, na clássica confusão de empresários metidos a gestores, uma versão do efeito Dunning-Kruger em relação ao que acreditam ter de aptidões, enquanto agem como se os recursos que circulam na empresa fossem seus, apenas. Mas este problema poderia ser superado por um contador bem preparado, para atuar como pedagogo contábil disposto a enfrentá-lo, mas quando, em entrevista, percebi a filosofia do “contabilista” (assim se apresentou) do “amarrar o jegue onde o dono manda”, o que explicou o histórico longo de ridicularização que sofre na empresa (ele mesmo pontuou), retirei então meu time de campo, pois percebi que o suporte ficaria cheio de demandas desnecessárias, cujo valor que os gestores estariam dispostos a pagar seria insuficiente, além do agravante de trabalhar para uma empresa onde não há crescimento profissional e sim uma agenda de “tapa-buracos”.
Com a política de entrevista, acredito que estou dando um passo importante na necessidade de evitar o trabalho para escritórios contábeis sem aspirações de excelência na prestação de serviços. Há algum tempo venho percebendo que trabalhar para organização contábil deve ser algo cada vez mais restrito.
Imagino que o roteiro sucintamente descrito, para admissão de cliente, possa também ser útil a escritórios de contabilidade quando um empresário bate à porta na busca por serviços. O caso da última negativa se deu exatamente pela falta de análise do escritório quanto ao perfil das empresas que se tornaram clientes, pela ânsia de se aumentar a clientela a “qualquer custo”; ficou evidente que os novos clientes representam um problema grave com potencial de comprometer o funcionamento do escritório de forma geral, isso se os proprietários decidirem ir adiante na crença disfuncional de que o quadro de colaboradores não pesa diante do software, visto como “solução”, quando o mesmo quadro de empregados, insuficiente para atender clientes no lucro real, é competente para atender os demais (Simples Nacional), assim, penso, se forem direcionados para a nova tarefa, os gestores do escritório prejudicarão o que funciona bem em favor de algo que não podem satisfazer; eis um clássico exemplo (em capital humano) do que economistas chamam de “alocação indevida de recursos”, quando normalmente se referem a termos de investimentos por capital financeiro.
16/07/2023
Marketing da ilusão
Álvaro de Campos, heterônimo do mestre Fernando Pessoa (1888-1935), já dizia em Poema em linha reta:
“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.”
O que me faz pensar no tempo presente das redes sociais onde o marketing digital vende um mundo sem auto crítica e não se sofre revés, que seduz a mentalidade de quem prefere viver de aparência e se apega à publicidade como mecanismo de salvação da própria incompetência.
Saindo desse universo fantasioso para a vida real, desabou o mundo sobre um escritório na saída do principal cliente, o mais antigo, levando junto um pool de empresas coligadas com elevado peso na receita bruta, fato que abriu uma crise que parece sem perspectiva de ser logo superada.
Durante as três primeiras décadas, o negócio foi de vento em popa, do boca a boca nos primeiros anos de forte crescimento, aos tempos sofisticados do marketing digital quando entrou nas redes sociais, o que coincidiu com o período onde começou a ocorrer um crescimento menor. Embora tenha ocorrido aumento nominal na carteira de clientes, até a recente saída do grupo de empresas, a relação do gasto com esse tipo de publicidade aumentou em comparação com o faturamento nos últimos três anos, e quando descontada a inflação oficial (IPCA), ficou evidenciado um histórico de queda na receita líquida. O escritório perdeu força na capacidade de geração de caixa. “O que está acontecendo?”, perguntou-se. Alguns sugeriram o forte aumento da concorrência com a dita “contabilidade online” que teria ampliado o problema da “concorrência desleal” e da má afamada “uberização”. Outros preferiram considerar os efeitos da pandemia (2020-2021). Enquanto isso, gastos aumentavam com propaganda, compras de prêmios de “melhor escritório” ou de “destaque do ano” (de credibilidade muito duvidosa) e mais conteúdo promocional nas redes sociais, onde prevaleceu o curioso critério de aumento de seguidores, comentários e “likes” como atestado de “sucesso” na venda da imagem de excelência em serviços.
A mentalidade de quem se pauta apenas no marketing pode chegar a ser patológica: em todas as explicações dadas sobre a perda de vigor no crescimento do escritório, nenhuma considerou se a qualidade dos serviços prestados foi um fator preponderante, mesmo diante da saída do maior cliente até então. Não se considerou que há, pelo menos, três anos foram diversas as reclamações e diziam respeito a falhas em balanços, erros persistentes de apurações de impostos, entregas de guias de recolhimento muito próximas do vencimento, além de problemas recorrentes em cálculos nas folhas de pagamentos. A gestão do escritório subestimou o monitoramento da satisfação dos clientes, algo que se relaciona diretamente com fatores que dizem respeito à qualidade dos serviços.
Mas será que fazer o acompanhamento da satisfação dos clientes, per se, resolve? Em se tratando de um serviço técnico prestado, a opinião do cliente é obviamente válida, mas não é suficiente, pois se trata de um leigo que, nessa condição, está bem mas suscetível a não perceber problemas que podem gerar situações mais críticas e com potencial de arruinar a credibilidade do escritório. Um exemplo se deu em uma rede de farmácias, com um grau elevado de satisfação até o dia em que os sócios descobriram que estavam a pagar mais impostos do que deviam por conta de detalhes de substituição tributária ignorados pelo escritório; a satisfação foi do céu ao inferno em segundos.
O aprimoramento da qualidade exige dois departamentos, normalmente ausentes dos escritórios, mas que são mais importantes que o de propaganda: o primeiro é o de consultoria proativa, quando não com pessoal próprio, um braço terceirizado para verificar atualizações de normas e avaliar constantemente as práticas internas; o segundo é o que chamo de “departamento de falhas”, onde reside todo erro cometido pelo escritório a ser documentado, explicado, resolvido e com a solução sob acesso rápido e didático em uma central de soluções.
Quando vender a imagem de competente se torna mais importante que ter comprovada excelência em qualidade, então se cai no que chamo de “marketing da ilusão”, na propaganda vazia, sem conteúdo à altura do que se anuncia de si mesmo, e essa crença impede de se desenvolver capacidade de auto crítica para reconhecer falhas e crescer técnica e profissionalmente. Saber apreciar os próprios erros é estratégico, além do ainda mais relevante processo de criar mecanismos para não repeti-los, para se chegar ao nível avançado de conseguir maior nível de prevenção, na consciência de que errar pode ser necessário, desde que não leve à ruína, como parte do crescimento profissional de quem vive no mundo real da aplicação de conhecimentos.
No dito popular, “a propaganda é a alma do negócio” e acredito que faz sentido, pois se a qualidade comprovada dos serviços atestar o que diz o apelo publicitário, então diria que se trata de uma boa alma…
09/07/2023
Sócrates e a Reforma Tributária
Diante de algo tão abrangente e complexo, a primeira coisa a evitar é o tipo comum que gosta de aparecer com respostas “rápidas” e “práticas”, ou o tipo com viés ideológico, pleno de conclusões e fatalismos, ambos como se soubessem mais do que realmente sabem
Em São Paulo estava lá pelos idos de 2014 para conferir novidades do soviético Sistema Público de Escrituração Digital (Sped) e um assunto me veio à baila, quando olhei para toda aquela parafernália de lobistas, representantes do fisco, influenciadores, promotores de empresas de software, profissionais de TI e advogados tributaristas: as propostas de reforma tributária que corriam no Congresso.
Compartilhei esse pensamento com alguns “pensadores” e ouvi muitas certezas sobre a inviabilidade de uma reforma, naquela ocasião, talvez mais por ser o tipo de agente que não recebeu educação para pensar o país além do curral tributário, cujo trabalho se restringe a um negócio (até então próspero) de vender “soluções” para a burocracia estatal, e no caso dos lobistas, na promoção de cursos e “qualificações” caça-níqueis para quem deseja se especializar no manicômio tributário nacional e suas bugigangas tecnológicas. Tentei então imaginar qual impacto haveria sobre o futuro de toda aquela estrutura destinada a alienar contadores, além das empresas de TI, caso uma das propostas pudesse ir adiante, entre as quais algo próximo do modelo semelhante ao conceito de Imposto sobre o Valor Agregado (IVA) no molde europeu.
As discussões em torno de uma reforma tributária passaram sem ganhar muito destaque no conturbado governo Dilma Rousseff II (2015-2016) e no governo Michel Temer (2016-2018), este último cujo maior esforço no Congresso se deu pela aprovação na PEC do Teto de Gastos (241 na Câmara, 55 no Senado), no entanto, o tema ganhou notoriedade durante a administração Bolsonaro (2019-2022) através da PEC 45/19 que, desde o início da tramitação em 03/04/2019 foi alvo de 221 emendas, 150 requerimentos, 32 destaques e 37 substitutivos e votos, até a aprovação em segundo turno, processo concluído na sexta (7) com 370 votos a favor, 28 contrários e 3 abstenções.
A PEC 45/19, que nasceu durante o governo Bolsonaro e avançou na administração Lula (2023), agora vai ao Senado e tão certo como a morte e os impostos são as alterações ou revisões que lhes serão feitas.
Parece-me óbvio que, sendo a “formação” áulica de um perfil de profissional chamado de “contador” no Brasil (despachante seria mais apropriado) predominantemente voltada para servir ao aparato estatal e aos interesses de corporações de TI e consultoria, enquanto precária para o meio produtivo, que mudanças mais profundas no sistema tributário a ponto de descontinuar aplicações de certos conhecimentos que exigiram gastos com “capacitações” e aquisições de softwares contábeis, igualmente inúteis (ao produtivo), ao longo de anos, possa ser uma questão vista como “traumática”, sobretudo para quem tem negócios estruturados nesse tipo de exploração onde a burocracia tem um fim em si mesma e assim se tornou um mal crônico, instrumentalizada na perversidade do Custo Brasil, que beneficia poucos em detrimento da base onde se situa quem gera riqueza, sendo uma das causas do atraso no desenvolvimento econômico do país.
Então, a preocupação em torno da caducidade dos conhecimentos atuais em hospício fiscal, quando associada a algo iminente, imediato, não se sustenta pois um dos pontos que está na essência do modelo da PEC 45 diz respeito aos períodos de transição, que serão longos, onde os pretendidos efeitos das mudanças serão efetivados em torno de uma paulatina substituição dos tributos correntes em função do imposto sobre bens e serviços (IBS) e da contribuição sobre bens e serviços (CBS). É evidente que durante os próximos (20) anos, cursos e sistemas terão que ser reformados algo que, penso, se a transição for bem calibrada, poderá resultar em benefícios no sentido de reduzir a complexidade dos sistemas (e dos códigos de programação), baratear custos de serviços contábeis e de TI. além de reduzir o tempo gasto em aulas para apreensão dos novos conhecimentos. Por outro lado, um ponto crítico do atual texto aprovado reside na tributação de serviços, o que poderá anular os ganhos da redução operacional com o tempo gasto para cumprir as tarefas burocráticas.
Explicações sobre a reforma estão sob ressalvas, eis o ponto inicial ao que já fora mencionado quanto a algo não concluído em função da tramitação no Senado. Prefiro então adotar o dito atribuído a Sócrates do “só sei que nada sei”, quando percebo que surgem no (infantilizado) meio contábil, quem esteja a “explicar tudo” sobre algo que sequer foi finalizado, além de apresentar conclusões precipitadas sobre aspectos que não podem ser estimados em um modelo de transição pensado para ser longo como forma de prover suficiente tempo de adaptação a diversos agentes envolvidos, de governos estaduais e municipais, além do federal, até os que lidam com a parte operacional, a envolver a tal “parafernália” que mencionei entre os que lidam com a burocracia.
Diante de algo tão abrangente e complexo, portanto, a primeira coisa a evitar é o tipo comum que gosta de aparecer com respostas conclusivas como se soubesse mais do que realmente sabe. À semelhança do que acontecera em Atenas, na Grécia antiga, quando diante dos que gostavam de aparentar saber o que de fato não sabiam, Sócrates aprendeu a identificá-los enquanto reconhecia em si o pouco ou o nada do saber, eis o que a sua filosofia tem a ensinar em tempos de tantas convicções, sobretudo as de viés ideológico.
A quem deseja começar a ter uma boa base de conhecimentos sobre a reforma em curso e é bombardeado por resumos e conclusões, melhor ir com calma, moderação, prudência, para bem compreender o tema. E será no espírito socrático de se investigar dialeticamente, ponto a ponto, pouco a pouco e com consistência, de maneira que não se caia no paradoxo de aparentar dominar o que não se sabe, pois a reforma coloca todos debaixo da mesma necessidade de compreensão, que será oferecido aos clientes C1, até o final do ano, uma série de eventos no Zoom sobre a PEC 45, que correrão em paralelo com sua tramitação no Senado.
O primeiro será no dia 12 de agosto, às 11h00.
02/07/2023
Ética
Por que não faço indicação de escritório contábil
Às 14h20 sigo a ordem do dia e vou ao telefone para dar mais um retorno programado. Comunico ao cliente (não é um escritório de contabilidade) que, por ética não faço indicação de escritório (tinha pedido uma lista de escritórios de minha “confiança” na cidade). Limito-me apenas a repassar informações sobre vagas de emprego em empresa com estrutura contábil própria, o que obviamente é bem diferente da sondagem de escritório.
Vejo com naturalidade que empresários não contadores, por saberem que conheço e trabalho dando suporte a diversos escritórios contábeis, pensem que faço indicações e disponho de uma rede de parceiros comerciais nesse sentido. Mas esta “naturalidade” se dá por conta de questões que o leigo normalmente não conhece. Quando escutam o “não”, as reações costumam ir de um simples “entendi” a um “mas você poderia fazê-las e ganhar com isso, sabia?”, seguidas do meu reforço simples e breve:
– é por ética que não faço.
Em sondagem recente, lembranças lá dos idos de 2005 quando um “empresário de contabilidade” em forte ascensão interiorana à época me procurou para propor uma “parceria de indicações”, onde eu receberia comissão por um tempo determinado em cada contrato, e quando escutou o “não” reagiu com uma risada contida, quase de deboche, talvez por pensar que o outro TI, militante de uma grife, aceitou, bem como quem sabe tenha entendido ser uma tolice aquele “menino do sistema” (assim se referia a este TI) a desperdiçar sua “generosa” oferta. O que a brutta figura nova rica do meio contábil não contava era que o mesmo “menino do sistema” tem uma formação a qual leva bem a sério e sempre teve interesse por coisas pouco apreciadas, como a filosofia (por onde passou, seja na graduação em economia ou no seminário teológico), aquele inconveniente saber entre saberes a tratar da tão mal cuidada ética de cada dia entre homens e mulheres de negócios.
O código de ética que sigo indica que não devo fazer concorrência com meus clientes e firmar parceria comercial com uma empresa de contabilidade, para fazer ofertas de serviços contábeis, significa concorrer em um mercado onde justamente atuam os clientes de minha carteira, assim classificados.
A parceria que me proponho com escritórios contábeis é sempre unicamente técnica, voltada a bem servi-los em TI e em conhecimentos de normas e processos internos.
Pude perceber a importância dessa ética em algumas ocasiões quando, por exemplo, escritórios disputaram a sucessão de um contrato em uma empresa com fama de “pagar bem”, onde tenho certa aproximação com a direção e assim fui assediado de maneira que as vantagens prometidas sinalizaram o quanto a falta ou a pobreza ética é um problema seríssimo que pode ser observado em contadores que empreendem com escritórios.
A neutralidade do “não” preserva minha integridade, senão vejamos: outro escritório, do tipo que costuma assediar empresários com promessas de “reduções de custos com tributos”, e normalmente atua com consultorias “gratuitas” e “sem compromisso”, apenas para minar o escritório concorrente que deseja substituir, a indicar o trabalho supostamente “precário”, convidou-me para uma parceria de suporte em consultoria e ao saber das práticas de marketing ali adotadas, que me enojam, o “não” me fez escapar da cilada que resultaria em ter meu nome envolvido com quem não tem o menor respeito com colegas de profissão.
“Como se importar com uma questão que mais ninguém está vendo?”, escutei muito algo assim e é justamente a ética que clarifica as ações voltadas à virtude, independente se alguém esteja vendo ou não. Outro aspecto é que se trata de uma meia verdade, pois a fluidez dos relacionamentos pode ensejar em revelação de atos que, porventura, não sejam idôneos, isso posto pois em um mundo tão interconectado de maneira que o “boca a boca” ganhou uma força de disseminação exponencial muito mais poderosa.
Em outra ocasião acionei essa ética quando um RH me sondou para um fornecimento de software e ao perguntar sobre o contador ou escritório responsável (questão protocolar que surpreendeu o gestor), descobri que se tratava de um cliente-escritório, por sinal usuário do mesmo sistema; encerrei a conversa e comuniquei o fato ao meu cliente, por meio do proprietário do escritório, que foi à empresa para esclarecer a situação.
A lição que pude perceber ao longo desses anos, na rejeição de convites desse tipo, foi de que a ética, em sua natureza, sinaliza que inevitavelmente não posso agradar a todos e isso é muito bom. Quem tenta aguardar todo mundo cairá em um abismo de credibilidade e se perderá, cedo ou tarde. Então, na ocorrência do assédio do gestor do RH ganhei enorme admiração do cliente-contador dono do escritório e o profundo descontentamento de quem me fizera a sondagem.
Ofertar sistema para não escritório que seja cliente de um escritório-cliente só é acatada quando a recomendação tem origem no próprio contador-empresário-cliente.
Em outra ocasião a ética entrou em ação quando um ex-funcionário de escritório fez uma proposta por demais curiosa durante o avanço do eSocial em 2021, que consistia não apenas no fornecimento do sistema de folha de pagamentos e sim todo o processamento. O papel do demitido seria de captar clientes com seus “contatos” (diga-se de passagem, desconfiei que talvez alguns fossem “herdados” de onde fora demitido), fazer alguns procedimentos de DP e o meu de processar as tarefas do eSocial, o que seria uma terceirização operacional e tecnológica, tudo “meio a meio” onde eu seria um “sócio informal” a participar nas receitas auferidas, algo bem diferente de um novo escritório que se apresenta onde eu seria tão-somente fornecedor do sistema, sem envolvimento nos resultados financeiros sob interesse na parte comercial. Ao ouvir o “não”, relutou para entendê-lo, talvez porque não quisesse aceitar que meu negócio é fornecer soluções de TI para contadores e não concorrer com eles oferecendo e executando os mesmos serviços. Não quis compreender que fornecer sistema para outros escritórios, que naturalmente estão em concorrência (ele poderia ser mais um) não é o mesmo de entrar no negócio de forma comercial e concorrer com os clientes. Um tempo passou e pude ver, mais uma vez, o quanto aquele “não” foi importante quando tomei conhecimento que o rapaz montou uma carteira de clientes, com outra TI (mais um ramo onde a ética é destroçada) a processar as tarefas do eSocial em uma terceirização “inovadora”, e entre os clientes que “conquistou”, supostamente de forma agressiva em termos de marketing, estavam alguns que eram de escritórios que hoje são meus clientes. Seria, portanto, mais que embaraçoso se eu não tivesse essa ética para me conduzir.
24/06/2023
Ansiedade
Como enfrento a minha e a dos clientes
Inicia-se o atendimento agendado e restam 59 minutos para que finde
Relatadas duas escriturações do Sped Contábil com erros de validação. Faço uma análise e decido começar a tratar o caso de uma com lista de erros maior, porém com problemas mais simples, por contas analíticas de resultados não referenciadas, face ao outro problema, com uma lista menor, porém com erros mais complexos a envolver divergência em saldos por conta do balanço de abertura não batendo com saldos da escrituração do ano anterior em meio à mudança de plano de contas (o usuário tinha trocado de sistema e passara a usar o TOP).
Restam 52 minutos após a análise
Comunico ao usuário por onde vamos iniciar, mas a reação não é favorável. Ele quer resolver os dois problemas na mesma sessão de atendimento e explico que é um caminho inviável. Enquanto abro o TOP e mostro como referenciar as contas de resultado que ele esquecera de fazer, informo que o segundo problema demandará um “de-para” com referência ao plano do sistema anterior e que isso custará mais tempo a considerar que estamos dentro do prazo e há agendamentos com datas dentro de uma segura margem de segurança. Mesmo assim, o usuário insiste em tratar os dois problemas e abre o sistema anterior. Torno a explicá-lo sobre a inviabilidade em função do tempo: taxativamente comunico que se tentarmos resolver os dois, vamos acabar a sessão com dois problemas não resolvidos.
– Vamos resolver um de cada vez?
O usuário aceita a estratégia.
Após um pouco mais de 20 minutos…
O usuário descobre que tinha mesmo esquecido de referenciar as contas de resultado, não apenas da empresa em tratamento, mas de todas em que precisa entregar a ECD. Então perguntei se isso não ocorreu pela distração do último agendamento com ligações telefônicas que tinha atendido as quais tinha pedido para não atender enquanto explicava o processo no TOP. O usuário acenou em concordância com linguagem corporal de desapontamento consigo. A vantagem do Zoom combinado com o remoto é ver o semblante do usuário, algo muito além de conversas textuais.
Dúvidas de referenciamento tratadas, tarefa concluída da empresa em questão, o arquivo do Sped Contábil foi gerado com as correções. Eis que solicitações chegam pelo WhatsApp e o usuário informa que vai respondê-las “após a reunião com o rapaz da TI” (não repete o erro de desvio de foco com as ligações do atendimento anterior), para o bem do nosso trabalho, segue sem alta dispersão, sem desvios de atenção e flui a 26 minutos para terminar o agendamento.
Últimos cinco minutos
Balanço, DRE e demais demonstrações conferidas. Signatários confirmados, escrituração assinada, transmissão concluída com êxito em pouco mais de 20 minutos onde deu tempo de o contador entrar na sala Zoom para tratar de uma dúvida sobre um saldo da DRE.
Então, aproveitei os cinco minutos restantes para tentar descobrir o porquê de tanta pressa no início da sessão. Primeiro, como mencionei, estava tudo dentro de uma boa margem de segurança em relação ao prazo e aos agendamentos. Não fazia sentido correr. Segundo, de forma irracional, o usuário se pautou por um desejo de “entregar mais cedo e se livrar logo”, conforme dissera, enquanto queimava etapas de verificação de um trabalho que exige disciplina, o que sinalizou uma pressa em si mesma que resultaria no contrário do que se estava a desejar. Ele não conseguia perceber para onde estava indo e tive que “puxá-lo pela mão”. Terceiro, ao ignorar a disciplina do passo a passo, algo primordial em contabilidade, o usuário tomou procedimentos a esmo, verifiquei que escondia um receio com outras tarefas que tinham chegado para serem executadas no mesmo dia. Ele estava de olho no futuro de afazeres enquanto o presente passava sem ser bem aproveitado.
Cheguei então ao maior ponto crítico: no início da sessão o usuário estava a pensar mais nos outros afazeres enquanto se desconectou do atual ou seja, sinalizou traços de transtorno de ansiedade, problema que provoca desvio do presente para um futuro hipotético e dramatizado; uma antecipação angustiante de questões não devidamente avaliadas e tratadas com lucidez a produzir uma confusão no uso do juízo para ampliar uma sensação de pressão e medo de falhar, o receio de não atender às expectativas. O ansioso mergulha na angústia de antecipar sofrimento e super estimar sentimentos de temor sobre o que acha que está por vir. Vive problemas em um futuro que não existe, mas acredita ser o presente por “pensamento automático” que fomenta suas piores estimativas.
A ansiedade é um constante problema a ser enfrentado em atendimentos e negligenciá-lo faz parte da receita para tornar o trabalho em algo improdutivo, desagradável, cuja suspeita aumenta quando o usuário tenta resolver um problema, então insere outro e mais outro, sem certificar se finalizou o primeiro, e a coisa fica mais séria quando um problema depende da solução de um anterior não devidamente resolvido, e segue como se tivesse a tentar construir um prédio pelo último andar. Então, ao perceber a disfunção cognitiva sobre o que precisa ser feito por sequenciamento de tarefas, aprendi que não devo entrar na “pilha” do usuário. Procuro conter minha própria ansiedade em um tratamento análogo quando não estou dando suporte, sobretudo na atividade de programador ou diante de tomadas de decisões em home broker. Policio-me para verificar se não estou a queimar etapas, faço investimentos espirituais com meditação, aplico terapias com leituras, escritos, poesias e música clássica, vou cuidar de plantas, fico à espera de um beija-flor após reabastecer o bebedouro da varanda (é incrível como esperar pela natureza ajuda no combate à ansiedade), realizo viagens marcantes com os entes mais íntimos onde quebro totalmente a rotina, procuro identificar e evitar imediatismos de um mundo em epidemia de pressa e angústia, evito redes sociais e discussões sobre problemas diversos, pois sempre preciso melhor me inteirar dos assuntos (e em seguida não opino pois descobri que é uma atividade de gasto inútil de energia). Adoto uma política de controle de jornada de trabalho no suporte, que seja preventiva à síndrome de Burnout. Neste último aspecto, deixo bem claro aos clientes que jamais os atenderei fora do expediente e com isso procuro educá-los constantemente sobre os limites. Certa vez, um contador veio se lamentar sobre um cliente que foi a sua casa para “resolver um problema urgente em um posto fiscal” enquanto se preparava para ir ao almoço do dias das mães e ao perceber um ato de desaforo, reconheceu que ajudou a formar o cliente que não respeita limites quando o atendia por ligações aos domingos.
Em vez de ceder ao emocional do cliente, devo neutralizá-lo com serenidade e ciência dos limites de tempo (recurso escasso que jamais deve ser ignorado, sendo os agendamentos parte de uma estratégia de pedagogia dos clientes), ser frio sem esvaziar-me de empatia, ter esforço por boa argumentação técnica e usar um tom contundente no limiar de um estresse a ser dosado, que se faz necessário e se materializa em um “não vamos por esse caminho” ou “o tempo é contado e devemos bem aproveitá-lo” a evocar uma autoridade de técnico e gestor que deve reger um processo igualmente técnico e assim não permitir que o espírito de leigo, combinado com a ansiedade, a pressa confundida com agilidade, tomem conta do atendimento independente da pressão. O nervosismo deve ser anulado como se faz necessário a um médico em uma emergência diante de um paciente nervoso, onde a boa concentração em seus conhecimentos é o que poderá fazer a diferença (imagino quão desastroso um médico tão nervoso quanto o paciente).
Sobre o segundo problema, foram necessárias duas horas de atendimento no agendamento seguinte, entre reimplantação dos saldos iniciais, identificação das contas analíticas para o “de-para” entre planos de sistemas distintos e demais processos logicamente sequenciados no Sped Contábil, o que acabou atestando que ter tentado executá-lo no atendimento anterior seria desastroso, contraproducente.
18/06/2023
Quando é preciso se declarar incompetente
Uma das mais preciosas lições que aprendi
Findavam-se os anos 1990, um empresário que se achava “bom gestor” convidou um contador bastante experiente, com passagens em grandes empresas, para assumir a contabilidade de um negócio aparentemente promissor.
Um senhor aposentado, grisalho, de olhar sereno e voz tranquila, que atendeu ao chamado por conta de um amigo entre sócios da empresa, mas preferiu ficar duas semanas apenas como “observador” antes de assinar o contrato. Visitou então o setor de gestão dos estoques, o financeiro, o comercial, o departamento pessoal e o RH. Ao concluir suas observações, encaminhou uma respeitosa carta à direção se declarando “incompetente” para trabalhar em uma empresa com “sérios problemas administrativos” que, em seu parecer, devem ser tratados antes de se pensar em adoção de contabilidade no dito “lucro real”.
Na carreira profissional desde 1990, foi uma das mais preciosas lições que aprendi.
Nada incomum é se deparar com empresários viciados em “jeitinhos” e que esperam da contabilidade tão-somente um meio para pagar menos impostos. Infelizmente, profissionais de contabilidade se perdem quando não avaliam bem algo que está diretamente ligado à valorização do exercício profissional, pois na medida em que se toleram vícios administrativos e o labor sério passa a ser marcado por “jeitinhos”, perder-se-ão paulatinamente a dignidade pessoal (principalmente o respeito), o prazer com o trabalho e a credibilidade profissional, sobretudo quando a contabilidade for avaliada por autoridades competentes.
Foi inspirado no veterano contador dos anos 1990 que, no ano passado, me declarei “incompetente” em duas ocasiões.
A primeira ocorreu em uma empresa em busca de sistemas de contabilidade e fiscal no desejo de adotar o “lucro real”, com um volume de dados que só seria viável a escrituração contábil fiscal com integração de dados, mas ao observar sua estrutura de TI e a qualidade dos sistemas em uso, percebi não haver mínimo interesse por controle das operações; estavam preocupados apenas em emitir notas sem necessariamente avaliar a qualidade da emissão, digo, se os parâmetros fiscais estavam em conformidade. Com ênfase em conseguir o menor preço para a implantação do sistema de contabilidade, carecia uma verificação da potencial qualidade. Também percebi que, dado o comportamento pragmático do empresário e o desleixo com controles internos que viabilizam um bom trabalho contábil, não por acaso troca de contador com frequência.
O segundo caso se deu com um gestor com um perfil de ansiedade considerável. O tratamento se deu com a declaração a seguir:
Prezado,
Declaro-me:
Incompetente para atender vossas ligações telefônicas e tentativas de ingresso na sala Zoom fora do expediente, com registro de ligações no horário noturno, com destaque a tentativas próximas das 22h00, bem como aos domingos e feriados, todos fora da compliance de horários disponibilizados no site e em comunicados prévios.
Incompetente para responder a e-mail fora do expediente, tampouco aos domingos e feriados.
Incompetente para cancelar compromissos agendados mediante mensagens que denotam pressão e constrangimento que jamais tolerei em minha vida profissional.
Incompetente para atendê-lo de forma imediata, para paralisar atendimentos a outros clientes, independente da circunstância e do que esteja a fazer.
Incompetente para atendimento direto pelo WhatsApp, inclusive no grupo da empresa o qual houve uma frustrada tentativa de me incluir pois, conforme explicado na reunião de boas vindas, meu atendimento (humano) ocorre pela sala Zoom da empresa, pelo suporte remoto (chat) e por telefone, todos realizados após registro, análise e inserção da ocorrência em agenda ou ordem do dia.
A considerar as incompetências acima descritas, devidamente explicadas em reunião debutante, comunico meu desligamento da empresa dentro do período de aviso prévio, por verificar que vossa senhoria não considerou o que lhe fora explicado previamente, bem como não possuo o perfil adequado para atender às vossas expectativas que se situam em um comportamento de quem age como se fora o centro do universo.
Leonardo Amorim.
11/06/2023
Um inimigo oculto destruidor de reputações
Quando um contador age como se tivesse super poderes e termina como incompetente
Expediente findo com o clique no botão enviar no gerenciador de e-mails, toda “papelada” do banco preenchida e restava aguardar o resultado da análise de crédito. Alguns dias e uma mensagem gelou o contador a informá-lo que o pedido de empréstimo foi rejeitado e a culpa estava em seus ombros, tendo em vista a inadequação do perfil financeiro identificado pela análise de crédito, com base nos dados repassados pela documentação por ele preenchida.
A recusa teria impacto severo na vida do cliente cuja empresa entrou na UTI financeira por falta de capital de giro. Algumas respostas bastaram para que ficasse evidente que o contador não conhecia aspectos importantes discorridos no material do banco; certamente não leu, com a mínima atenção necessária, as instruções para proceder com boa precisão no preenchimento da documentação do pedido de empréstimo. A “vista rápida” no informe da financeira foi suficiente apenas para produzir um material parco e confuso de dados contábeis, e não foi por causa da não colaboração da administração da empresa, pois dispunha de balanços e demonstrações de resultado dos últimos três anos. Não reconheceu, mas é nítida sua inclinação de realizar diversas tarefas aleatórias ao mesmo tempo, independente da complexidade, que é subestimada. Não pode ver uma mensagem no WhatsApp que corre para respondê-la e toda ligação o interrompe, independente do que esteja a realizar.
Não muito distante daquele estressado ambiente, outro profissional tentava entender uma notificação do fisco a cobrar algumas centenas de milhares de reais de diferença de ICMS, depois de várias escriturações entregues com bases apuradas de forma equivocada. Tentava entender como foi possível a entrega com erros dessa grandeza e descobriu, da forma mais dolorosa possível que supervisionar apurações do Sped ICMS enquanto atende a clientes no gabinete do escritório ou por telefone, dando uma de “super poderoso” ou onipresente (certamente para mostrar disposição), pode lhe custar caro demais.
Em outra situação, uma reunião de urgência marcada no Zoom, dados de ID e senha enviados para o canal apropriado, abaixo de um comunicado em texto que se fazia necessário como preâmbulo do que seria tratado. O tempo foi passando e nenhuma solicitação de ingresso à sala virtual. O procedimento do anfitrião é fazer uma tentativa de contato telefônico, também mal sucedida por um sinal de ocupado. Prejudicada a reunião com um atraso de quase 50 minutos, o argumento utilizado para justificá-lo: o contador estava tão preocupado com outro problema no telefone (por isso o sinal de ocupado) que “viu” a notificação, mas preferiu tentar resolvê-lo, além de que diante de um texto de 4 linhas no início do comunicado do anfitrião, não notou (não fez a leitura como deveria) de toda a notificação, cuja parte final tinha os dados de acesso e “entendeu” (errado) que o anfitrião tinha esquecido de enviá-los. Só depois de uns 15 minutos que encerrou a ligação, de uma atenção desviada por 30 minutos, percebeu os dados e compareceu ao compromisso, a restar apenas pouco mais de 10 minutos para o encerramento. O problema é que a reunião foi marcada para tratar sobre algo ainda mais grave, que estava a vencer no mesmo dia (enquanto o outro problema, no estresse do telefone, vencia no dia seguinte) e o anfitrião tinha outro compromisso logo em seguida e, diferentemente do contador, não despreza o que está marcado. Sem encaminhamento adequado, o anfitrião não iria desmarcar compromissos (e prejudicar outros) por força de um problema que não provocou, além de que o colaborador do contador também tinha outros afazeres além do expediente, e assim não foi possível executar o processo de forma adequada; o prazo se encerrou, sobrou a multa e o contador percebeu, de uma forma bem dolorosa, que um desvio de foco por falta de boa definição de prioridades pode lhe custar quase R$ 5k.
Durante atendimentos, uma constante: contadores e seus colaboradores bastante distraídos, em tentativas de realizar diversas tarefas ao mesmo tempo enquanto não se livram de ocupações no mínimo impróprias ao momento. Em casos mais graves, tentam resolver problemas que dependem da solução de outros que ignoram, e como estão com a mente em dispersão, não conseguem perceber a necessidade de sequenciar tarefas e ver o que realmente importa de ser executado, passo a passo, para obter os resultados tão desejados.
Na pandemia, talvez por causa do natural aumento do estresse, o problema do déficit de atenção se agravou em meus atendimentos, contudo, noto que não arrefeceu. Vejo um inimigo silencioso que destrói reputações de contadores que se comportam como se fossem onipresentes, e assim subestimam a importância de ordenar tarefas e educar clientes imediatistas com um “não posso agora, vou avaliar e darei retorno”, a considerar níveis de prioridade na adoção de política de atendimento na base de um processo que começa pela identificação, realização de triagem, análise, diagnóstico e tratamento (execução), senão vejamos: o profissional do primeiro caso, com manias de executar tarefas aleatórias em paralelo, por isso preencheu mal a documentação do banco, o que gerou a negativa do empréstimo; o segundo caso, do contador cujo cliente teve que pagar uma pequena fortuna em diferença de ICMS e o outro caso que resultou em multa de 5k, por não ter avaliado bem o que era prioridade na ocasião, todos acabaram decepcionando os clientes envolvidos, de maneira que deram um tempo suficiente para dispensá-los por incompetência.
O “inimigo oculto que destrói reputações” opera na falta de atenção mínima, na carência de um ordenamento de tarefas por graus de prioridade, fatores que provocam desgastes além do necessário e, sobretudo, no desprezo pela leitura, e não me refiro ao apreço por livros, cuja opinião curiosa recebi recentemente de um profissional (avesso à literatura, porém repleto de opiniões para quase tudo na vida) que definiu como “coisa inútil” o que realizo em Uma leitura ao dia (a ofensa ficou por conta de ter dito que é para quem não tem o que fazer). Quando menciono “desprezo pela leitura”, refiro-me a coisas elementares como não conferir comunicados importantes e conhecer o básico de alterações em normas, enquanto se deseja executar rotinas que exigem conhecimento teórico. Alguns alegam “falta de tempo”, no entanto, parecem ter esse recurso de sobra para aplicar em atendimentos a clientes onde fica nítida a carência de preparo técnico. O “inimigo oculto” se agiganta no momento em que o profissional pensa que basta ter uma boa conversa a minimizar a importância de um bom conteúdo que é fundamental para a proatividade ou seja, evitar estragos no relacionamento com clientes que possam levar à perda da reputação, algo muito pior que a perda de um contrato.
Seriam alguns casos de Síndrome de Burnout? Quem sabe parte de um eventual esgotamento físico/mental seja explicada pela forma inadequada (aleatória e sem sequenciamento em prioridade) de lidar com o volume de tarefas e/ou talvez muitos sofram de TDAH, o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, onde o “inimigo oculto” pode encontrar guarida, o que me faz encerrar com a recomendação de procurar um profissional apropriado para uma boa investigação.
28/05/2023
O veneno que contadores tomam como remédio
A crença que degenera a profissão contábil
Pelos idos de 2013 a 2015, durante fóruns do Sped e eventos que promovi, observei um comportamento curioso entre contadores confrontados com as novidades que se apresentavam na ocasião, sobretudo no advento do eSocial e do lançamento de novos módulos do Sped.
Havia expectativa exacerbada de que, na medida em que o fisco aumentava a complexidade das “obrigações acessórias”, melhor seria para contadores, no sentido de que haveria aumento da demanda de “serviços” e o consequente aumento da valorização da profissão contábil na percepção da sociedade produtiva. Outros “pensadores” vendiam o Sped como ferramenta para melhoria da gestão das empresas e outros tantos falavam até mesmo no dissonante termo “empreendedorismo tributário”, tudo visto com empolgação por muitos contadores. Em outras palavras, a crença na criação de dificuldades para venda de facilidades não incentiva apenas grandes corporações de TI e consultoria, de fato as mais beneficiadas nesse medonho capitalismo burocrático de laços, também aliena muitos contadores na ponta de consumo das “soluções” que o meio privado, em confluência com as intenções do fisco, estava a oferecer.
Quase dez anos depois não é raro ouvir contadores demonstrarem certa esperança de que um aumento de fiscalização, no uso das obrigações acessórias, hoje em estado bem mais avançado, possa surtir efeitos positivos na geração de mais negócios para a profissão. Muitos parecem torcer por operações da Receita Federal que possam esfolar empresários e forçá-los a busca de contadores. Neste aspecto, a “pejotização” do MEI parece ser o calcanhar de Aquiles de muitos que perderam significativa parte da clientela formada por micros e pequenos empresários que, por conta da atual crise de liquidez do pós pandemia, teriam sido forçados a buscarem alternativas na redução do quadro de empregados, supostamente os transformando em MEI, o que teria reduzido a demanda por formalização de folha de pagamentos e, por tabela, o quadro de clientes dos escritórios.
A crença no veneno da hiperburocracia no país mais caro do G20 – para se atender às exigências do fisco – esconde dissonâncias cognitivas gravíssimas entre contadores:
- A degeneração do significado do papel do contador na sociedade, para muitos reduzido a um mero elaborador de declarações ao fisco e preenchedor de guias de recolhimento ou “taxmaker“;
- Dessa degeneração se desvela a fé na hiperburocracia do Estado como meio de vida, como se não ensejasse em aumento no custo operacional que canibaliza empresas (a fonte de renda dos contadores) ou reduz severamente a disposição para mantê-las na formalidade;
- Pelo conformismo com a hiperburocracia se consolida o conceito de que não há mais nada a ser feito, tornando-se inevitável o distanciamento da Contabilidade, como instrumento de gestão, onde residem trabalhos de alto valor;
- Outrossim, retroalimenta-se a expectativa de que o destino da profissão se concentra tão somente nas mãos do aparato do Estado, e não por méritos intelectuais e éticos do seu exercício, na medida em que se torna cada vez mais indiferente à submissão ao aparato estatal de Big Brother nas empresas e nas pessoas físicas.
Ao conversar com um taxmaker desmotivado para continuar no mercado, perguntei sobre o que significa ser um contador, ao ver que se lamentava amargamente dos baixos valores das mensalidades, com serviços submetidos às leis de mercado (economia com dose de realidade), com ampla oferta de profissionais que fazem a mesma coisa face a tarefas padronizadas pelo fisco. Como o diálogo parecia não evoluir, reforcei:
Como pode ser reconhecido como contador, e assim remunerado, se não exerce, de fato, a profissão? Em alusão ao conceito de “ciência da riqueza”, voltei-me a metáforas:
Imaginemos um médico que não pratica medicina e sem qualquer vivência no trato de paciente, passou a viver de passar pequenas receitas em ambulatórios e/ou de preencher formulários do SUS (quem sabe do SST do eSocial), ao mesmo tempo em que deseja ser bem reconhecido na sociedade para auferir honorários de clínico ou cirurgião.
Seria um engenheiro mais reconhecido devido a notáveis projetos de engenharia que realizou, para o deslumbre de quem os visualiza, sendo assim cada vez mais disputado, ou bastaria apenas entender de normas legais da fiscalização?
Pensemos em um advogado e sobre a possibilidade de ser reconhecido em alto valor apenas por conhecimento de procedimentos burocráticos de processo legal, ou teria que ter notável saber acerca das complexas questões de direito?
Seria inverossímil encontrar médicos, advogados ou engenheiros bem sucedidos na profissão enquanto devotados apenas a questões acessórias ou secundárias da burocracia, no entanto, o mesmo não pode ser dito sobre crenças que muitos contadores apresentam quando se lamentam da falta de reconhecimento.
Eis o drama do taxmaker, profissional da área contábil convertido em despachante darfista enquanto deseja ser reconhecido na sociedade como contador, envolto à confusão que faz da Contabilidade com as obrigações acessórias criadas pelo fisco, intoxicado pelo veneno da crença na burocracia e no Estado de vigiar e punir como se fosse um remédio.
07/05/2023
Fascismo Digital
O fascismo digital brasileiro é o Estado de Big Brother Fiscal alinhado com interesses corporativos do meio privado que oferece “facilidades” para as dificuldades criadas pelo aparato do fisco
Em evento para clientes C1, apresentei ontem (6), a série R-4000 da EFD Reinf, mais um capítulo do Big Brother Fiscal versão tupiniquim do fascismo digital. Nada de novo debaixo do céu…
E entre comentários sobre o fisco cada vez mais invasivo, lembrei-me de um dos maiores intelectuais que este país teve, Lopes de Sá, legítimo motivo de orgulho para profissionais de Contabilidade, meio tão carente de pensamento crítico, pouco depois do nascedouro do Sistema Público de Escrituração (Sped, 2007), [6]), que sabiamente alertou:
“É o perigo do Sped, da devassa, feita pelo governo!” [6]
O fisco brasileiro, eficiente máquina de Big Brother que atravessa os tempos e independe de governos. Da instituição do Sped em janeiro de 2007 [7], pelo então presidente Lula, no primeiro mandato, foram muitos módulos lançados, das notas eletrônicas aos diversos PVAs. Outro marco foi a instituição do eSocial pela então presidente Dilma Rousseff, governo onde o módulo dos domésticos entrou em produção em outubro de 2015. Impeachment, assumiu Michel Temer e no último ano do mandato (2018) se deu o início da produção do eSocial para as empresas do chamado “grupo 1”, com o advento da DCTFWeb como confissão substitutiva da GFIP em agosto daquele ano, fato seguido por outro significativo avanço que se deu na gestão Bolsonaro que, a princípio, com a narrativa (que se revelou falsa) de ser “conservador nos costumes” e “liberal na economia”, parecia ter a intenção de eliminá-lo, mas não somente o conservou como também o revisou enquanto o incrementou e acelerou sua implantação cuja entrada em produção da folha de pagamentos e da DCTFWeb no grupo 2 se deu no primeiro ano de mandato. Em 2021, a força do fisco foi demonstrada, pois com pandemia e tudo veio a implantação da folha de pagamentos e da DCTFWeb do grupo 3 e da DCTFWeb do restante do grupo 2. Este ano, de volta à gestão petista (o bom filho á casa torna), o fisco federal obteve mais um avanço considerável com a entrada em produção dos eventos de Segurança e Saúde do Trabalho (SST) e a expectativa de entrada da série R-4000 da Reinf, para alimentar o monstro do Big Brother Fiscal pelo lado dos pagamentos a beneficiários que não passam pelo eSocial, além do lançamento da Reclamatória Trabalhista, que ficou para julho próximo.
Por que entra governo, sai governo, não importa o viés ideológico e o fisco avança no Big Brother Fiscal? Não me parece questão que se compreenda melhor por conta do inquilino do Palácio e sim mais associada ao reflexo do Estado brasileiro que hospeda uma ampla agenda constitucional, cuja concepção de tutela enseja controles que se relacionam com diversas obrigações ditas “assessórias” por força de “garantias legais”, além da cultura burocrática na psicologia coletiva, fatores somados a um povo cuja passividade abre mão da própria liberdade em troca de benefícios sociais que o torna preso, muito dependente do Estado, características que forçam um complexo sistema tributário e controles sociais igualmente meticulosos.
Na questão burocrática prevalece o oportunismo na exploração de quem vende “soluções” para lidar com problemas forçados pelo aparato estatal. Em parte, o fisco age assim porque está dentro da legalidade, a cumprir o determinado no arcabouço do Estado, e assim permanece, enquanto governos passam, mas me parece também impulsionado por um segmento privado que vive do Custo Brasil, viciado em regulações, formado por empresas de TI e grandes corporações de advocacia e consultoria onde se opera um modo de capitalismo de laços; em suma, o fisco cria as dificuldades e o meio privado vende as facilidades. Essa relação de laços com o Estado, junto com o Big Brother Fiscal, caracteriza o fascismo digital brasileiro, com empreendedores e entidades de interesse do meio contábil que funcionam como linhas auxiliares do aparato fiscal. Pude observar um pouco ao adentrar em eventos promovidos por entidades e empresas do meio quando percebi agentes do fisco tratados como intocáveis; não podem ser criticados, confrontados, onde a estrutura de narrativas entre influencers e auditores se alinha em prol de interesses do fisco combinados com um marketing de espantalhos voltado para indivíduos que consomem as “soluções”, idiotizados para repetir jargões e alienados de questões essenciais da violação do sigilo profissional, da conversão de contadores em delatores sutis e da transformação da sociedade produtiva em um grande Panóptico digital. Não se pode esperar então questionamento ético nesse meio tão bestializado, cuja fala de Lopes de Sá sobre o Sped seria hoje “imprópria” e atrapalharia negócios altamente lucrativos de laços privados com projetos do fisco.
Outro aspecto desse mundo burlesco, de bocós ouvintes e espertalhões engravatados, cada vez mais distante do Brasil real, consiste na confusão que há entre o legal, que está na “lei” (prefiro o termo legislação), e o que é moral. Quanto a isso, certa vez lembrei a um influencer contábil desse meio, um tanto empolgado com fiscalização que lacra empresas, que legalidade e moralidade nem sempre andam em sincronia. Comecei com o básico a lembrá-lo que um dia a escravidão foi legal. Ao não compreender a essência da questão, resolvi dar uma força ao “pensador”, e o sugeri pensar um pouco sobre a vasta lista de privilégios de políticos e funcionários ditos “públicos”, consumidores de tributos, em comparação com a população no meio privado que trabalha para produzir a riqueza do país, que então é tributada, e o que é convertido em impostos parte se direciona para sustentá-los com as inúmeras regalias, tudo legal, mas quanto ao aspecto moral? Nisso o jovem palestrante gourmet concordou; legal, mas é mesmo indecente, assim como, também o lembrei, o sistema tributário brasileiro, enquanto legal, seria defensável moralmente?
Sem discernir a imoralidade que pode haver na legalidade, o tipo contador-homem-massa se torna presa fácil para aceitar passivamente o Big Brother Fiscal em ação, e assim se consolida um instrumento de manipulação em vigiar e punir, a disseminar que o fisco, legitimado e incontestado, está de olho em tudo e todos a produzir “o funcionamento automático do poder” que Foucault menciona em relação ao Panóptico clássico, o punir como expectativa permanente, sobretudo na narrativa de multas como forma de inculcar o medo. Neste aspecto, imagino o quanto tipos como Hitler e Mussolini se empolgariam, e Stalin ficaria excitado, ao disporem do modelo brasileiro e suas poderosas bases de dados como meios de vigilância de cidadãos e que podem informar rapidamente suas preferências de consumo e fontes de renda, assim até penso o quanto está superado o modelo de vigilância na ficção orweliana “1984” com suas “teletelas”. Imagino também quão perigoso é este Big Data dos impostos para eventuais dossiês contra inimigos políticos de quem esteja no poder, diga-se de passagem, de governantes que podem dar ordens na Receita Federal.
Além de se nutrir de relações com grandes empresas privadas que exploram a burocracia, outro aspecto do fascismo digital brasileiro reside no aparato fiscal que também se fortalece com entidades que regulam e fiscalizam profissões, sobretudo a de contador, cuja formação áulica ajuda na carência de percepção e de reflexão sobre o quão o Big Brother Fiscal é nocivo e prejudica profissionais de contabilidade. Infelizmente, em um meio bastante alienado, o fisco consegue apoio amplo que se notabiliza por entidades que dependem de privilégios que lhes são concedidos pelo Estado; refiro-me à coerção de anuidades e ao monopólio de fiscalização. Como esperar então que lideranças de tais entidades contrariem o aparato que lhes concede privilégios? Restará apenas submissão.
Se no Brasil real temos eleutérios lutadores que tentam sobreviver na má afamada informalidade de cada dia, no Brasil fiscal o que acontece com empresas e pessoas físicas é uma luta ainda maior, pois o Golias é a hiperburocracia operacionalizada sem muita resistência, sem razoável discussão ética de quem não foi educado para pensar e criticar o que vem de cima e vive por tão somente servi-lo, muitas vezes desejando até fazer parte dele. Não é surpreendente então que o Sped e o eSocial fossem implantados e passassem apenas por pequenos ruídos de setores aqui, acolá, irritantes periféricos, enquanto as grandes entidades e empresas que os exploram fizeram o serviço macro de disseminá-los efetivamente no público consumidor de software.
O problema maior do fascismo digital brasileiro não é o fisco, tampouco o Sped e o eSocial, estes são consequências e não causas. Se há algum incômodo com a mentalidade dominante de Big Brother Fiscal, esta deve ser discutida em outro âmbito, que diz respeito ao Estado que temos pela Constituição de 1988, a considerar a referida vasta agenda social que inevitavelmente força as “demandas”.
Não percebo perspectiva de mudanças significativas. Não acredito que o fascismo digital brasileiro seja reversível, salvo se o Estado falir. Penso que o governo que tentar mudar o quadro atual por atos unilaterais, enfrentará os outros dois poderes, totalmente alinhados com a mentalidade de Big Brother Fiscal, e certamente sairá derrotado, humilhado, o executivo será destituído. É preciso que se tenha na sociedade fatores de recursos humanos um tanto improváveis e bem mais complexos que passam por indivíduos intelectualmente bem preparados, que sejam capazes de atuarem como políticos, juristas, articuladores de mídia, parlamentares, professores, líderes contábeis, todos a compor uma força de penetração em diversos setores do Estado, nas três instâncias, em sistemáticas mudanças coordenadas no ordenamento constitucional no aparato estatal predador, o que me parece uma bela ficção sobre um reino tão tão distante…
6. ver em https://www.youtube.com/watch?v=5_h1f45YKGk;
7. Ver Sped. Instituição. Decreto 6.022/2007.
01/05/2023
A quem e o quanto estou a oferecer do que tenho de melhor profissionalmente?
Reciprocidade, comprometimento e efetiva mútua valorização caracterizam a C1
Em uma reunião consultiva que realizei no Zoom, foram relidos trechos do artigo Carteira descentralizada, que publiquei em Fly (texto hoje está privado) no dia 4 de dezembro, onde alerto sobre os perigos de se concentrar esforços demais em determinado(s) cliente(s), sobretudo quando sobrecarregam os colaboradores do escritório e não traduzem retorno financeiro à altura do que exigem.
A reunião foi motivada por um escritório até então com um cliente que estava a consumir tempo muito acima de média de atendimento, nos departamentos fiscal e trabalhista, com vários “pequenos” problemas repetitivos que viravam uma imensa “bola de neve” a ponto de concentrar demais a atenção dos colaboradores do escritório em detrimento dos demais clientes, que começavam a reclamar.
Ao longo do ano foi verificado que a indisciplina organizacional do cliente causava o excesso de tarefas e não a inabilidade da gestão do escritório. Não basta ter bons empregados e boa estrutura tecnológica com um cliente indisciplinado: é fundamental ter uma política de atendimento muito bem delineada no contrato. Então se tentou educá-lo com muita conversa, orientações e cartilhas, mas não houve resultado satisfatório e com seus “problemas sem fim”, os sócios decidiram no final do ano por sua “demissão” ou seja, rescisão do contrato, o que alegrou os colaboradores.
Duas lições vieram à baila através do escritório que “demitiu” o problemático cliente:
- É imprescindível a qualquer atividade que explore serviços de contabilidade e burocracia, um sistema de métrica para quantificar a alocação de recursos na ocupação de tempo de cada cliente a impactar a vida do negócio em relação a todos, bem como a métrica deve ser referência para avaliar a qualidade da ocupação e o retorno financeiro que ocorre em cada caso;
- Com base na existência do item anterior, pode-se identificar com melhor precisão os clientes para serviços especiais, além de um momento técnico para demissão.
Insights surgem em momentos de aparente aleatoriedade e dois deles se interconectaram para marcar uma importante mudança na gestão do suporte este ano: o primeiro veio nas duas lições que descrevi acima, na criação de um conceito de métrica combinado com a demanda real de serviços mediante contratos, e o outro surgiu algumas semanas depois, em um curtíssimo momento, por segundos de pensamento, quando uma pergunta fiz a mim mesmo no TGV Paris-Barcelona e que marcaria uma importante mudança na política de atendimento, em meio a livros, paisagens bucólicas e conversas com a família.
A quem e o quanto estou a oferecer do que tenho de melhor profissionalmente?
A noite caía, Barcelona se aproximava, pensei em uma resposta que veio por instinto, mas teria que confirmá-la, em termos objetivos, quando retornasse ao Brasil.
De volta, usei os dados de atendimento para realizar métricas a considerar, em cada cliente, a quantidade de softwares contratados, as demandas potenciais dos contratos e o retorno financeiro. Em seguida, realizei a métrica do tempo ocupado por cada cliente em 2022 e a matemática confirmou o que o instinto estava a me dizer desde agosto: alguns clientes estão a ocupar tempo demais, muito acima da média de outros que demandam mais contratos de software e dão maior retorno financeiro.
Em seguida, tracei o padrão de comportamento de clientes nesse perfil:
- Não procuram planejar ações comigo. Preferem um relacionamento mais na base do imediatismo. Por isso aparecem de repente, com um grande volume de tarefas acumuladas;
- Alguns quando agendam estão entre os que tem registro de não comparecimento, sem dar qualquer satisfação pelo absenteísmo;
- Não costumam frequentar as reuniões técnicas que realizo;
- Possuem mais empregados e produzem menos em comparação com escritórios que possuem volume próximo de tarefas e que se notabilizam por um quadro mais qualificado de colaboradores;
- Como desdobramento do imediatismo, costumam acionar o suporte com maior intensidade quando ficam próximos demais (não raramente no dia do vencimento) de prazos de obrigações acessórias mais importantes;
- Apresentam carência de liderança por parte do(s) proprietário(s) que evitam falar comigo, enquanto seus colaboradores estão a reportar frequentemente “excesso de tarefas”, mas quando solicito dados sobre quantidade de pendências e se foram definidas as prioridades, não sabem responder uma coisa, nem outra. Por isso são frequentemente acometidos de tentativas de resolver vários problemas ao mesmo tempo, sem observar as etapas do sequenciamento lógico.
Com as métricas e os perfis, obtive uma tabela de classificação e então me restava a redefinição de algumas políticas de atendimento para adotar um melhor senso de proporcionalidade ou seja, ofertar mais esforços em clientes que, de fato, têm maior interesse em minhas expertises (conforme serviços contratados) enquanto reconhecem, efetivamente, o valor do meu trabalho, mediante o retorno financeiro comprovado.
Se um cliente contrata e mantêm produtos Exactus, demanda consultoria e/ou reconhece que sou um recurso humano mais preventivo ao escritório, e por isso paga pela licença do SEIFolha por ter algo além de um software, enquanto se notabiliza pela pontualidade nos compromissos financeiros, sinaliza que precisa mais de meu trabalho enquanto o valoriza efetivamente.
As recentes mudanças ajustam a oferta de meu tempo de expediente com base na reciprocidade, pela demanda efetiva (contratos mantidos que justificam mais oferta de suporte conforme as áreas relacionadas), comprometimento (esforço de ambos por organização na busca por excelência) e mútua valorização (pontualidade financeira do cliente combinada com minha disciplina no suporte) a traduzirem atitudes que falam.
O conceito de C1 se rege por esses valores.
25/04/2023
Nobre desconhecida
“Não passei quatro anos em uma faculdade para isso!”
Não foi a primeira que escutei (e não será a última) esse desabafo advindo de um colaborador de escritório contábil.
Vou chamá-lo aqui de “Luca”, creio que de forma bem apropriada visto que hoje (25) é o dia da nobre desconhecida não somente na vida do homem comum, “eleutérios” do Brasil real, mas também do empresário médio, o tipo que viola o princípio da entidade cotidianamente a pensar que o dinheiro que circula na empresa só lhe pertence, além da parte mais trágica deste oblivium: incontáveis indivíduos munidos de CRC.
Fato é que “Luca” está frustrado com seu primeiro emprego em um dos mais prestigiados escritórios de seu reduto interiorano, onde o proprietário é um técnico (no Brasil se usa o cafoníssimo termo “contabilista”) com mais prestígio que o padre e o delegado da cidade. A razão da desilusão se dá em função de estar há quase um ano em rotinas de emitir nota fiscal eletrônica (maior “especialidade” do “grande” escritório), além de gerar DAS do Simples e DAE do ICMS. Nenhuma contabilidade no dito “lucro real” e destarte o módulo de escrituração contábil, constante no pacote da TI, serve apenas para decoração, depois de ser usado para pouquíssimos e sintéticos livros caixa.
A parte mais difícil para “Luca”, nessa descoberta indigesta, ocorre quando surge um problema na escrituração de um livro caixa e tem que trocar ideias com quem sabe bem menos enquanto lhe dá ordens. E eis que ao perceber o setor contábil apenas com trabalhos rudimentares, tão útil quanto o rei da Inglaterra, “Luca” percebeu que na verdade pertence ao setor fiscal, e assim aproveitou a política de rodízio, adotada pelo chefe “contabilista” para atuar no setor trabalhista, o que lhe rendeu três meses para “ter mais bagagem”, contudo a experiência não lhe trouxe empolgação: o fardo foi pesado, os colaboradores são bem mais estressados, todos à beira de um ataque de nervos e a sensação de sufoco contínuo revelou uma equipe sem senso de lógica contábil (nunca foi treinada para isso). Formado para ser contador, “Luca” perdeu as contas sobre quantas vezes viu um colega a colocar “o carro na frente dos bois” em um setor onde quase tudo é “para ontem”. Chegou a sentir dó de alguns que ficam loucos para serem transferidos à fiscal, então, na volta para o setor de origem, o taxmaker enfadado de SIMPLES e ICMS, com paciência exaurida, confessou-me o que já estou bem habituado a ouvir de bacharéis recém-formados:
“Não passei quatro anos em uma faculdade para isso!”
Meu interlocutor está a descobrir algo que pode mudar sua vida, pois estudou para ser contador e pensava que trabalhar em um escritório seria uma grande oportunidade para aprender sobre “contabilidade na prática”, e o que viu foi algo bem diferente:
“Simplesmente não existe contabilidade em escritório de contabilidade!”, sentenciou.
Pelo menos onde pôde apurar com colegas de outros escritórios, percebeu que nenhum de sua região desenvolve trabalhos de contabilidade de alto nível, propriamente dita, como estudou na faculdade, com rotinas de centro de custos, controles de estoque e finanças, em suma, contabilidade voltada à gestão.
Reveladora ironia: “Luca” procurou no lugar errado e para encontrar “contabilidade na prática” (uma das coisas mais lindas que aprecio profissionalmente), ele terá que se afastar de escritórios contábeis e procurar emprego em empresas e/ou atuar com profissionais que estejam na chefia contábil de empresas ou entidades de porte e mentalidade administrativa suficientes para prover estrutura técnica operacional a envolver equipe qualificada, sistemas de TI e gestão de excelência, um conjunto que se dá em pouquíssimas médias e grandes instituições, além das que são de capital aberto, na bolsa de valores, onde todas têm condições de prover financeiramente os trabalhos contábeis, com salários e ordenados bem acima dos que são pagos no escritório onde trabalha, enquanto aguentam pagar a conta do manicômio tributário nacional.
No dia da nobre desconhecida, desejo a “Luca” que ele encontre o caminho tão desejado para ir ao encontro dela, que se realize plenamente na bela profissão que escolheu e aqui encerro a lembrar Ludwig von Mises, sobre o que dissera Goethe:
“Nossa civilização está inseparavelmente ligada aos métodos de cálculo econômico. Pereceria, se tivesse de renunciar a essa preciosa ferramenta intelectual da ação. Goethe tinha razão em qualificar a contabilidade de partidas dobradas como ‘‘uma das mais belas invenções da mente humana”.
(Ação Humana, Capítulo 13, O Cálculo Econômico como um Instrumento da Ação. Nota do autor (3): r Goethe, Wilhelm Meister’s Apprenticeship, livro I, cap. X)
15/04/2023
C1
C1 se tornou uma bússola para me orientar onde devo alocar, com maior intensidade, meus recursos de suporte
Em 2014, por meio de experiências nos fóruns Sped, comecei a compor uma carteira diferenciada de clientes com contratos voltados a:
PERFIL 1: Assessoria em TI voltada para gestão/integração contábil e obrigações acessórias digitais (ambiente Sped) e/ou;
PERFIL 2: Suporte a questões tributárias.
Clientes dessa carteira passaram a ter coberturas específicas a partir de 2016.
Em 2019 os contratos de consultoria em TI Contábil foram denominados C1 (Classe de Prioridade 1).
Evolução do conceito
Em dezembro, às vésperas do recesso, entendia que precisava canalizar melhor minhas energias. Dizem que viajar é uma forma de limpeza mental e enquanto cruzava Itália-França-Espanha de trem, e refletia sobre a vida, no final do ano passado e início deste ano, amadureceu a ideia de um conceito mais amplo, aplicado para classificação de clientes na área de software.
No TGV Paris-Barcelona, entre paisagens e leituras, nasceu o insight do princípio que consiste em aplicar, com maior precisão, um mútuo reconhecimento ou a reciprocidade, chave para dar maior oferta de recurso ao cliente de software que valoriza mais o meu trabalho de suporte. Criei um index que combina resultados de apurações de tempo de vínculo, valor médio de honorários e pontualidade nos pagamentos. O cliente que atinge determinado index torna-se então apto para a C1.
De janeiro a março, foi o tempo para transformar em realidade ou em algoritmos o que tinha traçado no papel naquela que foi a viagem mais prazerosa de minha vida e com base no princípio e no index sucintamente acima discorridos, consegui identificar perfis de clientes na carteira de software que, uma vez classificados como C1, terão acesso a:
- Garantia de reserva de 1 agendamento de 1 hora, a cada 15 dias, de segunda a sexta em dias úteis, nas faixas das 09 às 11h e das 15 às 17h, desde que faça a solicitação ou combine dia e horário fixo por quinzena;
- Acesso a atendimento agendado aos sábados, pela manhã, das 9 às 11h, conforme disponibilidade;
- Suporte remoto preventivo ou prioritário para atualizações e instalações, de segunda a sexta, em dias úteis, das 11 às 12h;
- Acesso a preços diferenciados dos produtos Exactus, com exceção dos casos 1 e 2 (onde o contrato determina não indicação de software);
- Em caso de usuário do sistema de contabilidade da Exactus (TOP ou Web), acesso a eventos especiais aos sábados, 11h00;
- A partir de 17/04/2023, acesso à sala Zoom das 08 às 09h de segunda a sexta, em dias úteis, em atendimento individual classificado previamente pelo suporte como prioridade, para tirar dúvidas de legislação, procedimentos, além de receber suporte remoto.
Atitudes que falam
Atitudes falam e para uns, sou apenas um fornecedor de software como qualquer outro, para outros, um recurso humano estratégico; o C1 é para o segundo caso.
Se um cliente com determinado tempo de vínculo como usuário do SEIFolha, cobre bons honorários e preza pela organização, ou demanda produtos da Exactus, e mantêm contratos regularmente em dia, está sinalizando que me tem em grande estima em relação aos serviços; é uma forma concreta de demonstrar respeito pelo meu trabalho sem fazer uso de palavras. Costumo chamar de “elogios silenciosos” enquanto íntegros, bem diferente de quem prefere discursos. Igualmente posso afirmar reconhecimento de valor quando um cliente coopera com a política de atendimento e usa os métodos que desenvolvi para melhorar a própria produtividade. Isto posto porque identifiquei escritórios que passaram a sequenciar mais tarefas e planejar ações. O mesmo afirmo quando um cliente me contrata para ser um referencial de apoio técnico em decisões estratégicas sobre problemas tecnológicos, tributários e de recursos humanos, a envolver necessidades de treinamentos, algo que também sinaliza que precisa mais de minha atenção.
Mas se um cliente deseja suporte em níveis consideráveis, porém se rege pelo leilão às avessas, onde quem cobra mais barato, vence, sem pesar a qualidade, ou até mesmo é consumidor de um produto e se aproveita para tentar suporte em outras áreas apenas pelo que tem contratado (alguns estão tão habituados ao subpreço que acreditam que todo mundo trabalha assim), ou quando demonstra o padrão de falta de pontualidade em pagamentos, ou interrompe pagamento de produto/serviço sem dar qualquer satisfação e se revelam “surpresos” quando cobrados (impressionante como isso é um hábito entre contadores), bem como reside, em alguns casos, entre os que fazem questão de se manter distantes de qualquer diálogo com o suporte, enquanto deixam empregados perdidos sem saber bem o que deve ser feito (falta de liderança), assim como os que não respeitam regras de atendimento, desejam passar por cima de limites de horários, além dos mais indisciplinados que agendam e não comparecem ou chegam quando o horário está para ser encerrado (e ainda acham que têm o direito de ocupar o horário de outrem), entre tantos outros problemas comportamentais, o que fazer? Ética é o termo que me vem à mente. Acredito que disciplina é fundamental no negócio de TI Contábil, e creio que em escritórios contábeis também, e se um cliente apresenta um ou mais problemas que acima discorri, revela desprezo ou falta de maior interesse em um relacionamento profissional; carece de reconhecer melhor o valor de um trabalho que está na base de sua cadeia de produção (o suporte), e desta forma, o princípio da C1 se torna uma bússola para me orientar, porque aponta para quanto e onde devo alocar os recursos mais caros.
A ampliação do C1 não quer dizer que os demais clientes não terão acesso aos métodos que utilizo e sim que os classificados em C1 receberão uma maior intensidade, no sentido de maior acesso a horários, sobretudo, à agenda, o que é normal em qualquer negócio de livres trocas onde se canaliza mais energia aos clientes que demonstram mais interesse por produtos/serviços, enquanto dão retorno em termos financeiros. Talvez o conceito de C1 seja útil para refletir, nos casos de muitos escritórios, onde colaboradores se queixam de clientes que exigem demais, tomam muito tempo, e pagam menos, quando em comparação com os que são mais organizados e ocupam menos tempo.
Alguns têm percepção do valor, outros não, em relação ao método de suporte que utilizo, um tanto incomum, com técnicas combinadas que proporcionam uma experiência acima da média do que é oferecido no mercado. Contudo, as ferramentas que utilizo estão em segundo plano, pois no primeiro está a filosofia, que envolve demandas éticas que sinalizam valores para desenvolvimento das estratégias. O que quero dizer é que se sou “diferenciado”, como alguns dizem, isso vem da filosofia de trabalho e não dos meios tecnológicos que utilizo. Quanto a isso, um dos primeiros clientes da C1 certa vez me alertou (e concordei com ele) que o meu jeito de trabalhar revela um produto para quem sabe dar valor a quem é diferenciado, destinado a contadores e profissionais afins que desejam agregar qualidade a serviços e, dessa forma, (eu) deveria tomar mais cuidado na oferta, para não banalizá-lo entre os que são incapazes de reconhecê-lo.
A evolução pelo index C1 foi a resposta que encontrei à crítica tão bem fundamentada. A nova fase do C1 veio de uma reflexão sobre a ética nas relações profissionais em torno da reciprocidade e do mérito para nortear a avaliação de valores, não somente financeiros, a envolver procedimentos e atitudes, o que viabiliza a sustentabilidade do negócio.
O que estou a fazer com a adoção do index C1 é algo simples: concentrar mais esforços em clientes que, de fato, têm maior interesse em minhas expertises enquanto reconhecem, efetivamente, o valor do meu trabalho.
09/04/2023
Percepção de valor
Quando a perda do melhor colaborador revela a deficiência de percepção de valor entre proprietários de escritório
Estava tudo certo para o início de uma promissora implantação de um sistema de contabilidade, porém o que não se esperava foi a perda do principal recurso humano no processo, mediante a saída do único funcionário com boa base de conhecimentos em contabilidade para tomar à frente, que pediu demissão pouco tempo após ter uma solicitação de reajuste salarial negada.
O fato inviabilizou a implantação do sistema a partir do momento em que se constatou que os demais à disposição (da fiscal e da trabalhista) não possuem qualificação mínima suficiente para retomar o processo de um sistema que exige um tipo de conhecimento que, a princípio, não deveria ser raro em escritórios. A realidade é de que são bons na fiscal e na trabalhista, mas carentes de domínio em conceitos contábeis elementares, deficiência que nenhum sistema de TI pode resolver, contudo, não é raro ver “empresários de contabilidade” que acreditam na ilusão de que os recursos humanos importam menos que os de TI e então a cena comum se apresenta em bons sistemas contábeis mal ou sub utilizados em escritórios com empregados sob graves limitações técnicas.
A perda do melhor funcionário foi uma bomba que revelou um problema de (falta de) percepção de valor entre os proprietários. Isto posto porque não levaram a sério o peso da qualidade do empregado que estava em suas mãos. A direção recusara um pedido de reajuste simplesmente porque usou como parâmetro o maior salário da carteira fiscal, e assim entendeu (erroneamente) que poderia gerar problemas entre os demais empregados se atendesse ao pedido do talentoso jovem da contabilidade e assim adotaram a negativa cujo preço foi a insatisfação e, ao receber uma proposta de trabalho de uma fábrica, onde a contabilidade é sempre bem vinda, diferentemente do que ocorre em muitos escritórios, ele não pensou duas vezes: pediu sumária demissão, pagou o aviso prévio na rescisão e deu um salto na carreira para trabalhar em alto nível, envolvendo rotinas de contabilidade de custos e até IFRS.
O erro de avaliação tem a raiz no conceito impróprio de equivalência de valor entre quem trabalha na carteira fiscal e os que atuam na contabilidade, quando são setores que possuem ofertas diferentes de recursos, ou seja, variados níveis de escassez, e exigências de qualificações também distintas. Trataram um problema salarial como se um profissional apto a calcular impostos tivesse o mesmo valor de um profissional que lida com apuração de exercício e análise de demonstrações contábeis. Deste erro (primário) se originou a cadeia de decisões equivocadas que provocaram a perda do precioso recurso humano na contabilidade.
O escritório está agora diante de três possibilidades: a primeira consiste em tentar qualificar alguém do quadro interno, o que demandará tempo e custos com treinamentos; a segunda envolve ir ao mercado buscar um profissional à altura do que saiu. Optou-se logo pela segunda alternativa e eis que os diretores, também carentes de conhecimentos em contabilidade, por isso sofreram tanto com a perda do empregado, descobriram que eram felizes e não sabiam, pois os salários pretendidos pelos que foram sondados (todos empregados) são maiores que o valor com o reajuste solicitado pelo que pedira demissão. Em outras palavras, perderam uma joia rara que não souberam ou não quiseram identificar. Vale o dito popular:
Só aprendemos a dar valor a determinada coisa quando a perdemos. Sentimento análogo que costuma acometer dono de escritório que não vê, em um velho amigo de infância, mais que um “fornecedor de software”.
No entanto, vale a reflexão sobre se valeria a pena ficar em um escritório onde a contabilidade não é o centro das atenções, onde os chefes não lideram, não inspiram pelo conhecimento aprimorado, dão ordens sobre coisas que não sabem fazer, se teria como evoluir profissionalmente em um ambiente assim… No mais, a carestia de investir no quadro atual ou de ir ao mercado contratar gente qualificada fez a terceira opção ganhar força: terceirizar o serviço, visto que envolve apenas cerca de 18% da carteira do escritório, o que parece racional, apenas aparente… É o que se pode chamar de “atalho para a perdição”, visto que ao terceirizar há um problema ético grave sobre quem vai assinar os balanços e as demais demonstrações, mas isso, parece (não deveria), não é uma preocupação predominante no meio contábil, no entanto costuma ocorrer outro dilema: o cliente objeto da terceirização costuma perceber que está a pagar mais caro porque assinou contrato com um “atravessador” ou “intermediário”, quando poderia ir direto à fonte, entenda-se, o contador ou escritório que de fato realiza o serviço.
Mais uma vez surge o problema da (falta de) percepção de valor entre contadores, quando pensam que estão a lidar com uma simples mercadoria ao oferecer serviços de contabilidade pretensiosamente de alto padrão. Se terceirizar pode resolver serviços de baixo valor, quando pensam que resolve também no alto padrão acabam por perder clientes com potencial de maior valor agregado que tendem a priorizar os profissionais mais preparados e isso envolve até mesmo a desistência de deixar rotinas no escritório e montar estrutura própria na medida em que percebem limitações que só podem ser superadas por uma boa equipe contábil interna. Também há de se considerar que há um ponto de saturação em toda empresa onde deixar a contabilidade no escritório passa a ser um péssimo negócio.
Não é de se admirar entre “empresários de contabilidade” que se queixam de “desvalorização”, o problema da falta de percepção de valor e do que significa ser contador de verdade, hoje algo confundido com serviços burocráticos ou de despachante, onde de fato há tarefas em commodity ou seja padronizadas de tal maneira que se tornam mercadorias mais suscetíveis às leis de oferta e demanda, tais como declarações ao fisco e geração de guias de recolhimento. Quanto a isso, os preços indicam que há grande concorrência entre serviços de despachante realizados por contadores, enquanto entre contadores que se dedicam à Contabilidade propriamente dita, honorários ou salários parecem indicar um nível bem maior de satisfação, onde há baixa concorrência e maior reconhecimento de empresários de grande porte, quando mais esclarecidos e qualificados para perceberem que um contador que elabora balanços e dá diagnósticos sobre resultados tem uma importância muito superior em comparação com o que pode ser encontrado em qualquer esquina a oferecer preenchimento de DARF.
A terceirização é uma “solução” para os acomodados que estão no mesmo grupo dos que não reconhecem ou não querem reconhecer a importância do recurso qualificado na forma de “capital humano”, e eis que preferem ficar na zona de conforto onde todos estão a fazer a mesma coisa, enchendo o mercado de ofertas padronizadas que fazem os preços dos serviços caírem pela abundância, enquanto os diferenciados, que decidiram trabalhar com contabilidade real e adotam modelos inovadores e alternativos de prestação de serviços, seguem suas carreiras sem reclamarem dos honorários porque entendem, consciente ou inconscientemente, como funciona o mercado na geração de valor onde as qualidades escassas se tornam fundamentos sólidos na precificação do trabalho, ou em outras palavras aprenderam que:
Estar entre os mais raros é a chave para a valorização.
19/03/2023
As três categorias de Bismark
Parafraseando um dito atribuído ao chanceler alemão, vez ou outra citado por liberais, Otto von Bismarck (Alemanha/Schönhausen, 1815-1898), aprendi a dividir gestores de escritórios em três classes:
1. Os que conseguem aprender com os problemas dos outros, além dos erros alheios, sendo os mais inteligentes ao cargo;
2. Os que só aprendem com os próprios erros, que na visão do dito alemão são “medíocres”, enquanto os vejo não necessariamente desta forma;
3. E os que não aprendem nem quando erram e têm desprezo pelos dois primeiros, além dos subordinados que se revelam mais capacitados, estando neste pesado grupo os arrogantes, os idiotas e os invejosos.
Sobre o primeiro tipo, certa vez um experiente proprietário de escritório comentou que gosta de acessar a sala do Zoom, das 08h00 às 09h, para ouvir e aprender com os diálogos que revelam dificuldades dos outros colegas, assim como os erros que são cometidos, incluindo os de minha autoria, onde ele os toma como lições para que não os cometa. Este é o tipo mais filosófico, que aplica o saber a priori de Kant (mesmo que não faça a menor ideia do que pensara o filósofo a respeito), não sendo carente de ter que passar por certas experiências para aprender, enquanto é capaz de reconhecer e aprender com os próprios erros.
O segundo tipo não costuma parar para meditar nas experiências alheias, no entanto é capaz de reconhecer as próprias falhas e aprender com elas. Neste aspecto, divirjo um pouco do dito quando atribuiu essa categoria aos “medíocres” porque cometer erros faz parte do processo de aprendizagem. Neste aspecto, lembro Taleb sobre a importância de se “apreciar erros” enquanto são necessários em um processo de maturidade no trato de um determinado problema; cometer erros podem ser fatos naturais na construção do saber, e a questão mais importante é cometê-los de maneira que não me levem à ruína. Para entender a importância desse processo, penso sobre quantas falhas foram necessárias, e quantas foram evitáveis, para que rotinas hoje consolidadas nos sistemas pudessem ser bem estabelecidas?
Já o terceiro tipo me lembra um caso de um sujeito que se gabava de “nunca” ter cometido uma falha sequer que tivesse causado prejuízo a cliente; incapaz de uma mínima auto crítica, quando percebi em um trato de um problema contábil, junto com um empregado, sua imperícia derivada de uma orientação equivocada, o que provocou um auto de infração. Não reconheceu a orientação equivocada e ao notar a percepção minha e do empregado do seu erro, passou a nos tratar de forma áspera. Neste tipo de gestor reside um alto grau de narcisismo; caracterizado pela arrogância, rapidamente é dominado pela inveja quando percebe alguém mais competente. Também neste grupo atua a figura do “empresário de contabilidade” desprovido de capacidades técnicas essenciais e que costuma apenas dar ordens, sem qualquer interesse pela compreensão do operacional, além de casos mais graves (e também comuns) quando desconhece legislação e aspectos fundamentais do exercício da profissão e assim não é de se admirar que cometa erros quando exerce voz de comando que exige competência técnica, e quando as falhas ocorrem costuma atribuir indevidamente responsabilidades a colocar a culpa em empregados. Este é o tipo que não lidera, não coordena, não motiva, não inspira e não raramente se comporta como um covarde quando problemas ocorrem, pois a única coisa que se vê nele é a confusão de autoridade com autoritarismo; seu propósito se resume ao “serviço pronto” que pretende entregar sem apreço ao domínio técnico, o que suscita questões éticas, em especial quando assina balanço sem entender como se chegou a certos detalhes da peça contábil.
Ao longo dessas três décadas, apendi a identificar e a não perder tempo com o terceiro tipo, enquanto os dois primeiros me inspiram ao crescimento profissional. O sentido de “não perder tempo” com o terceiro tipo consiste em não gastar tempo, nem alocar esforço para um diálogo com quem é “perfeito”, cuja qualidade de proprietário o coloca na condição de “incontestável”, pois qualquer esforço técnico em um diálogo profissional só tem sentido quando as duas partes estão determinadas à superação dos problemas, o que enseja na busca de um aprendizado mútuo onde os reconhecimentos de falhas são imprescindíveis, mas como esse tipo “não erra” (tem sempre alguém que leva a culpa por ele) ou, em outras palavras, não se deve gastar tempo com quem nunca aprende pelo desprezo ao saber e pela falta de humildade de reconhecer as próprias limitações.
12/03/2023
Uma profissão em decadência?
Há um documento disponível no site do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) que demonstra um comparativo da população com a quantidade de profissionais de contabilidade. A considerar a apuração, posicionada em 31/10/2010 [1], havia 1 contador para 396 habitantes. Hoje, pela projeção do IBGE [2] e a base de dados do CFC, o indicador está em 409, ou seja, desde o último levantamento disponibilizado pelo CFC, a densidade de profissionais contábeis (contador e técnico) caiu 3,17% frente a evolução populacional.
A leve queda na densidade contadores/técnicos versus população, em um período de quase 13 anos, mesmo se fosse muito maior, nada significa. A oferta nominal no mercado de trabalho é apenas um elemento diante de uma complexa equação que forma o mercado, enquanto o lado da demanda é composto por diversos fatores em agentes que se tornam contabilizáveis quando de fato necessitam de serviços concernentes ao profissional contábil, o que enseja em ter vida econômica ativa o suficiente para demandar serviços relacionados ao patrimônio, sobretudo para finalidades tributárias (o que pesa muito no país sovietizado pelo Big Brother Fiscal), fator que requer uma sociedade produtiva capaz de produzir renda o bastante além, obviamente, de demandas quando se vai empreender, investir e formalizar negócios.
Apenas a considerar queda na densidade, não cabe atestar a decadência de uma profissão; é preciso considerar o histórico da evolução de renda média entre profissionais de contabilidade. Como uma quantidade considerável é composta por não empregados ou seja, fora de bases de dados captadas em fontes relevantes como a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), então, as dificuldades são imensas para se identificar renda média de contadores, embora em muitos sites há informações sobre “quanto ganha um contador”, não refletem a dimensão a qual estou me referindo em termos agregados, algo que seria possível apenas em uma pesquisa contínua a compor uma ampla série histórica.
No entanto, escuto com frequência que a profissão (de contador/técnico) está em “decadência”. Não disponho de dados suficientes para chegar a tal conclusão. O que se pode perceber como indivíduo, muitas vezes não passa de ilusão. Porém, insiro algumas questões que me parecem importantes ao avaliar a tese da “decadência”.
Quais as áreas de atuação de um profissional de contabilidade?
Uma vez identificadas as áreas, será possível separar profissionais por categorias. Tenho uma tipologia que indica dois grandes grupos de contadores: o primeiro é o que lida com a identificação e a interpretação de fatos concernentes a riqueza, na linha do professor Lopes de Sá; o segundo é o taxmaker, o elaborador de rotinas relacionadas às obrigações tributárias, o que trabalha com declarações de imposto de renda, guias de recolhimento e pode se chamado vulgarmente de “darfista”.
Fazer essa separação me parece importante porque noto que no grupo do primeiro tipo não costumo ver reclamações sobre honorários, tampouco queixas sobre “falta de reconhecimento”. O primeiro grande tipo pode ser visto em corporações da Bolsa de Valores, em grandes ou médias empresas que usam a contabilidade como ferramenta de gestão e instrumento de auxílio em políticas de investimentos.
O muro das lamentações está no segundo tipo, o taxmaker. Enquanto o primeiro soa ser bem raro, o segundo me parece abundante; em qualquer esquina encontro taxmaker a oferecer DAS, eSocial, IRPF e declarações sintéticas a bancos, enquanto o tipo à moda de Lopes de Sá é uma preciosidade: cada vez mais raro de ser encontrado, por isso bem mais caro, é o tipo de contador disputado por grandes e médias empresas que podem arcar com os custos operacionais para manter uma contabilidade no manicômio tributário nacional.
Certa vez pude observar a dificuldade de um cliente em encontrar um contador que “soubesse lidar com contabilidade”, o que caberia no primeiro tipo. O que pareceu uma piada foi algo sério e desgastante para quem estava a recrutar; diversos candidatos reprovados por não saberem coisas elementares sobre “débito”, “crédito”, “receitas”, “custos”, “despesas”, e quando os poucos que passavam para o segundo estágio da seleção, eram reprovados, pois se deparavam com questões de “contabilidade de custos”. Seis meses depois uma contadora conseguiu provar a aptidão para trabalhar com contabilidade. Moral da histórica: infelizmente, diploma e carteira de CRC no Brasil viraram peças de auto estima para decoração ou de reserva de mercado, distantes de garantirem alguma qualidade profissional.
Definidos os dois grandes tipos, considero subdivisões por segmentos que demandam especialidades que podem afetar severamente a relação de oferta versus demanda, o que significará preços de recursos humanos bem variados de mercado entre profissionais, sobretudo no segundo grande tipo:
Um taxmaker especialista em agro pode ter um nível de escassez diferente de um taxmaker que atua pautado em microempresas no setor de comércio varejista em geral, não especializado, o que me parece o mais comum. Certamente o taxmaker do agronegócio será mais escasso a ter assim um valor de mercado maior que o taxmaker genérico, pela menor concorrência. Um taxmaker que só trabalha com empresa no Simples atua em um mercado de concorrência diferente, maior, de um taxmaker que trabalha com lucro presumido, que não demanda apuração do lucro dito “real” (uma aberração da terminologia tupiniquim), mas que se pauta um requisições de serviços que tendem a demandar mais especialização tributária. E uma maior oferta de taxmaker do Simples, em comparação com os que trabalham no presumido), via leis naturais de mercado, afeta o processo de precificação, o que pode ser percebido entre os que atuam apenas no simplificado e dizem se sentir mais “desvalorizados”; lidam com serviços mais padronizados, com menor exigência de qualificação e um mercado com mais concorrentes.
Então, a ponderar dois grandes tipos e segmentos, a questão seria reformulada: se está em “decadência”, para quem? Entendo que uma pesquisa que tenha o intento de apurar o que está acontecendo de fato no mercado de serviços contábeis, precisa tipificar, separar em categorias, neutralizar qualquer uso generalizado do termo “contador” na massa de dados, o que também abriria um debate mais profundo sobre o futuro da profissão em relação às especialidades.
Notas:
[1] Ver em https://cfc.org.br/wp-content/uploads/2016/01/Comparativocont_201010.pdf
[2] Ver em https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/ em 16:46:50 de 12/3/2023
05/02/2023
É lei! Tem que cumprir!
“L’ÉTAT, c’est la grande fiction à travers laquelle TOUT LE MONDE s’efforce de vivre aux dépens de TOUT.”
(L’état maudit argent (p. 11). Ed. Hennoyer Cl Ce. Giullaumin et Ce, 1849, Paris, edição online em Gallica, De Claude Frédéric Bastiat (France/Baiona, 1801-1850).)
Após o recesso vejo em ebulição o tema das disposições complementares no que versa o Capítulo V do Título II da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) [1]:
Segurança e Medicina do Trabalho.
Desde o final do ano passado percebo a intensificação do tema em atendimentos por parte de alguns escritórios que promoveram reuniões e informes a clientes sobre a necessidade de contratação de serviços de Segurança e Saúde do Trabalho (SST). Quanto a essa demanda, em setembro de 2021 a tratei em um evento no Zoom com a empresa Consultiva mediante o propósito de esclarecer dúvidas sobre as obrigações, além de uma análise que fiz sobre prerrogativas. A parte final do evento pode ser conferida em link disponível no grupo Clientes LLConsulte (o evento foi restrito a membros do grupo).
Contudo, escritórios (ainda) um tanto perdidos sobre a questão de se envolver ou não com tarefas que não condizem com os profissionais de contabilidade mediante dados das obrigações legalmente previstas nas Normas Regulamentadoras (NR) na plataforma do eSocial. Sobre esta questão há três posicionamentos importantes e contrários ao envolvimento de profissionais de contabilidade nos envios de SST: Fenacon, em 20/10/2021 [2], CRC da Bahia, em 07/02/2022 [3] e do CRC do Rio de Janeiro, em 09/12/2021 [4].
Além da problemática da competência dos escritórios contábeis, também percebo um receio entre contadores sobre uma possível perda de clientes no setor trabalhista, sobretudo nos casos de empregadores de micro e pequeno portes que, em meio aos custos elevados para a contratação de SST, estariam desestimulados, e por isso podem decidir pela informalidade na forma de demissões e o consequente encerramento de serviços trabalhistas formais visto que, no que alguns sugerem, há algum tempo estaria a ocorrer um enxugamento contínuo no quadro empregatício especialmente em micro empresas, quando não pela informalidade direta, sob eventual uso da “pejotização” de empregados, supostamente transformados em microempreendedores individuais. Dados recentes do IBGE sugerem um sentido contrário quanto ao pessimismo observado [5], sobretudo quando se considera um período afetado pela pandemia 2020-2021 mas, de fato, um aumento na sensação de tendência à informalidade no cotidiano do empreendedor contábil é uma questão crucial, pois se um empresário decide enxugar negócios por meio de “soluções” fora da formalidade, o escritório contábil será imediatamente impactado visto que depende da vida oficial/formal de seus clientes para gerar receitas.
Entre 2014 e 2015 o assunto SST começou a aflorar no ambiente peripatético dos “pensadores” e “escritores” do eSocial e o que percebi foi o desinteresse em se debater a complexidade e o custo das normas regulamentadoras, isto posto porque no meio do áulico ambiente contábil raramente se discutem profundos problemas do Brasil, além de que o eSocial não é causa do “Custo Brasil” e sim consequência de uma ideia positivista de sociedade desde tempos da monarquia (Marquês de Pombal manda lembranças), onde predomina a crença de quanto mais burocracia do Estado, melhor. Resta saber para quem…
Penso no aforismo de Bastiat onde ecoa, entre muitos profissionais de contabilidade e de TI contábil, a ideia de quanto mais controles o Estado determinar, quanto mais burocracia estatal for imposta a quem faz a roda da economia girar, quanto mais todos forem obrigados a fazer coisas para o aparato de compulsão e coerção fiscalizar, melhor será para quem explora tais “serviços” (o que no caso não passa de produtos da coerção) e, evidentemente, pior será para quem é coagido; o custo pela imposição alimenta a ilusão de que burocracia gera emprego e renda de forma longeva, sustentável (no mundo real empresas são canibalizadas), em torno do que promove o Estado, o que também me remete a um outro dito popular sobre a criação de dificuldades para se vender facilidades em um conjunto de crenças que retroalimentam a psicologia coletiva brasileira em torno do Estado como centro gravitacional da sociedade.
Diante deste aparelho estatal tão poderoso e aparentemente invencível, a sociedade brasileira parece letárgica (ou seria refém?), incapaz de reagir no sentido de contestar, reformar normas, repesar sua organização para melhorar efetivamente o ambiente de negócios, e apesar da Lei da Liberdade Econômica (Lei 13.874 de 20/09/2019), o tema do SST passou distante, batido; segue-se na crença infante, na repetição de jargões em uma espiral auto destrutiva em favor de um legalismo que beneficia gigantes que exploram essa condição e fazem coro com interesses corporativos do fisco, enquanto pequeninos empreendedores assistem a tudo bestializados e desconfiam que a ganância pode matar a “galinha dos ovos de ouro” ou empresários que tentam sobreviver e – é sempre bom frisar – são os que viabilizam pequenos negócios que geram riqueza e pagam os honorários dos mesmos contadores e demais profissionais de interesse nesse Caminho da Servidão (Hayek manda lembranças) e assim alguns percebem que entraram na armadilha da burocracia com um fim em si mesma.
O fato de alguns perceberem que as regulações excessivas no país podem matar empresas me parece um avanço. Porém, apesar desse breve despertar, infelizmente voltei a ouvir, em tom mais poderoso, aquele velho apelo alienante entre ouvintes áulicos e “pensadores” de palestras adestradoras, deslumbrados com o legalismo que mata empresas:
É lei! Tem que cumprir!
Nem que algumas centenas de milhares de empresas e escritórios sejam exterminados, graças às multas para salvaguardar o “justo” cumprimento do regulatório de uma promissora nação ou, neste manicômio normativo, como certa vez dissera o professor italiano mais brasileiro que tenho notícia, Adriano Gianturco, “se todas as leis fossem cumpridas no Brasil, o país pararia”.
É lei! Tem que cumprir! A escravidão um dia foi legal e quem sabe o eleutério do Brasil real esteja na verdade a fugir das senzalas modernas na forma da fiscalização eletrônica, a deixar contadores sem cliente… No país onde sobram os disfuncionais pela confusão do dispositivo legal ser sinônimo de coisa moral, a demagogia nacional exala em regalias de políticos e magistrados que se inserem, a “regra de ouro” da Pindorama é conservar a casta de privilegiados, onde operam os mantenedores da burocracia, enquanto desiludidos nos porões de serviços “contábeis” seguem sem saber ao certo o que está acontecendo.
Outrossim, leis naturais que fluem pela economia real são ignoradas pela psicologia-coletiva-bipolar-nacional formada por um imaginário de indivíduos adestrados à burocracia-estatal que passivamente vivem sob intervenções e mais intervenções, normas absurdas, regramentos abusivos, regulações incessantes, multas a perder de vista e tudo o mais que se traduz em uma imensidão de custos artificialmente forçados que arrocham quem se arrisca a empreender, sem privilégios e vulnerável no plano econômico para bancar batalhões de experts em normas, vê-se então diante de um cenário onde estar totalmente em “compliance” com o Estado-babá-fiscal é algo tão “fácil” quanto ver honestidade no mundo da política, donde se originam as regulações que vão garantir o bem estar de toda nação.
- Para acesso a vasta regulamentação das normas de Segurança e da Medicina do Trabalho no Brasil, ver Normas Regulamentadoras – NR do Ministério do Trabalho em https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/ctpp-nrs/normas-regulamentadoras-nrs;
- https://fenacon.org.br/noticias/em-manifesto-fenacon-e-contraria-ao-envolvimento-de-organizacoes-contabeis-nos-eventos-de-sst-pelo-esocial/;
- https://www.crcba.org.br/posicionamento-sobre-o-envio-de-informacoes-da-sst-saude-e-seguranca-do-trabalho/
- https://www.crc.org.br/noticias/NoticiaIndividual/1fcef522-03e0-413f-a121-ccedff9d3abc;
- IBGE: ‘Beringuy acrescenta que as quedas sucessivas na taxa de desocupação também foram um reflexo do aumento no número de ocupados, em um movimento de recuperação do mercado de trabalho observado desde 2021. ‘A partir desse momento, houve essa expansão da população ocupada, primeiramente dos trabalhadores informais e, depois, do emprego com carteira assinada nos mais diversos grupamentos de atividades, como comércio e indústria. Mais recentemente, também houve aumento nos serviços, que exercem um papel importante na recuperação da população ocupada no país’, destaca’. Ver em https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/36114-desocupacao-cai-para-8-1-no-trimestre-encerrado-em-novembro
Dom Léo esse sua análise sobre “contador e Contabilidade” deixa muita saudades da minha carreira em grandes empresas. Concordo plenamente com suas ponderações é a pura verdade nós Escritório de Contabilidade, parabéns pelo artigo,
O texto sobre “fascismo digital” é de uma lucidez espantosa. Quem é você, amigo?