O Natal cristão em 25 de dezembro é uma data simbólica, seguindo diversas tradições que foram aproveitadas de crenças “pagãs”. Nestes termos, há quem veja o Natal cristão apenas como o resultado da influência política na substituição do Natal do “sol invictus” pela celebração do “Menino-Deus” de uma igreja até então sob as conveniências do Império Romano.
A data precisa do nascimento de Jesus, o Cristo, é desconhecida. O local, Belém, em um estábulo, numa manjedoura, e as narrativas de Mateus sobre a “visita dos magos” podem ser meramente ilustrativas (Mt. 2.1-11). A tradição oral nas comunidades que moldaram as histórias durante cerca de 40 anos após o Calvário, antes de serem escritas, resultando no Evangelho considerado o mais antigo, o de Marcos, e as narrativas das tradições messiânicas de Mateus, teria a intenção de contar uma história nos detalhes partindo da infância do personagem Jesus, de maneira que se encaixasse com tradições judaicas que o qualificariam como o “Messias”.
Não penso que essas, entre outras incontáveis questões exegéticas, tenham alguma importância para quem celebra o Natal, na passagem de 24 a 25 de dezembro, crendo em seu profundo significado. O cerne da mensagem, penso, reside na humildade de Deus tomando a nossa forma para habitar conosco (Emanuel), vivenciando nossos anseios enquanto exerce a maior de todas as vocações: o anúncio do seu próprio amor pela humanidade. A fé cristã apresenta o Criador-Todo-Poderoso em uma forma radicalmente impactante, humilde, não mais como “deus disfarçado” como nas demais mitologias, não como “deus-político” como os homens de poder arrogam para si. O Natal da fé cristã anuncia o “Deus-Menino” sujeito às maiores ameaças entre os homens; o poder temporal, político, perseguindo o Deus-Humanizado pela única coisa que realmente importa na fé: o dogma do amor.
O nascimento de Jesus, advindo de uma humilde família da Galileia, sem dúvida, foi circunstanciado dentro dessa radicalização e se condensa em uma palavra única, arrebatadora: “Evangelho”, a mensagem de “boa nova” cujo efeito se tornou indiscutível como divisor da história.
A graça natalícia está em cada instante que o dogma do amor de Deus se manifesta em nossas atitudes. Ocorre em cada gesto que nos torna verdadeiramente humanos, muitas vezes chamado de “caridade”, penso no Natal como o maior de todos os milagres, começando pela fé na Palavra de que o Criador se fez carne para habitar entre nós, a contagiar nossas ações para com nossos semelhantes e tudo o mais que nos cerca, indo até todas as dimensões da matéria para atingir o espírito.
O Natal cristão se celebra para anunciar que, no final do que se chama de “história”, o que permanece de pé em meio às ruinas dos que preferem ignorar a fé, é o amor de Deus, o símbolo maior da humanidade.
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