Imagem: Estrategistas

Viktor Frankl

“[…] pouco antes de adormecer, fiz a mim mesmo a promessa, uma mão apertando a outra […]”.

Obra: Em busca de sentido. I. Em busca de sentido. A primeira fase: recepção no campo de concentração. Vozes, 2018, Petrópolis. Tradução de Walter O. Schulupp e Carlos C. Aveline. De Viktor Emil Frankl (Áustria/Viena, 1905-1997).

Neste ano, durante atendimentos no Zoom, deparei-me com duas situações onde foi suscitado o assunto “suicídio”.

É um tema caríssimo para mim, não que eu tenha passado por algum processo depressivo relacionado com o problema, mas porque envolve um caso em que acompanhei pessoalmente. Quem sabe um dia encontre o momento oportuno para registrá-lo neste espaço que, muitas vezes é um confessionário. Tudo tem seu tempo…

Quanto aos atendimentos no Zoom, vou me restringir ao segundo caso que ocorreu ontem, onde foi abordado o tema de forma geral, por um cliente no final da reunião que dedico mensalmente a membros do grupo de WhatsApp da LLConsulte. O cliente comentou no final da reunião sobre casos de suicídio serem frequentes entre indivíduos abastados em termos econômicos, logo após eu ter comentado que há coisas que o dinheiro não compra.

Pensei então na promessa que Viktor Frankl fez a sim mesmo de não se matar no campo de concentração em Auschwitz. Diante da situação de extremo sofrimento, onde a morte estava à espreita, “era natural que quase todos pensassem em suicídio” (p. 32) e assim havia o método usual de jogar na cerca eletrificada em alta tensão (p. 33).

E, com uma mão apertando a outra, o pai da logoterapia fez a si mesmo a promessa de não se jogar na cerca elétrica, de não “ir para o fio”., uma decisão que, segundo sua perspectiva, “não era difícil”, “não fazia muito sentido”, pois em Auschwitz, o internado se encontra em estado de choque onde não há medo algum da morte e a câmara de gás significa poupá-lo de tirar a própria vida (p. 33).

Viktor Frankl submeteu a logoterapia no ambiente mais hostil possível, onde o estado de espírito é anormal como reação psicológica natural (p. 35), pois na medida em que a apatia avança após algumas semanas no campo, pela “mortificação dos sentimentos normais”, a situação de ” moribundos e mortos constituem uma cena tão corriqueira” que consegue sensibilizar mais quem se encontra na posição de recluso observador (p. 37).

O gesto de apertas as próprias mãos entre si como um pacto pela própria vida tem para mim um sentido profundo que supera a ideia de resiliência. É um ato que sinaliza que há uma força maior, intangível, que o poder material não pode adquirir, e diz respeito à natureza humana que encontra um caminho para lidar com situações extremas e anular pensamentos que negam a esperança na vida.

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