Imagem: EBC

Deodoro da Fonseca

– Quase morri de desgosto meu amigo, quase morri. Foi, sem dúvida, o pior momento de minha vida.

Obra: A mulher que proclamou a República. A grande dor. Penalux, 2020, Guaratinguetá. De Aguinaldo Tadeu.

Muito mais do que fatores políticos e econômicos contados em narrativas oficiais, a proclamação da República teria sido impulsionada, neste romance histórico, por uma questão passional que acometeu o alagoano Marechal Deodoro da Fonseca.

No trecho (p. 220) desta Leitura, um Deodoro de coração partido por causa de Maria Adelaide Andrade Neves Meireles, filha do Barão do Triunfo. O “generalíssimo” (p. 23) abre seu coração, de militar temido, vaidoso, metido a conquistador, mas agora desmontado, desiludido e ferido; eis a história de um homem casado que se sente traído, não pela esposa Dona Mariana (p. 18), mas por outra mulher a qual se apaixonou e viveu um romance, mas que depois preferiu ter um caso com outro, e esse “outro” era seu maior inimigo na política.

No tempo das conversas com o confidente Alcides, Deodoro tinha 64 anos, estava casado há mais de 30 (p. 18) e a primeira vez que viu Adelaide foi em um baile, dez anos atrás (p. 23), festa do tipo que preferia ir sem a companhia da esposa para tentar suas conquistas extraconjugais (p. 31) como pé-de-valsa que gostava de deixar versinhos nos leques das moças (p. 31). Um militar monarquista que chegou ao topo, orgulhava-se das guerras que travou e das mulheres que tinha no currículo (p. 43). Eis o perfil do homem que fez nascer nossa República!

Epicentro da crise passional, loira de cabelos volumosos e cacheados, “alta para os padrões brasileiros”, “atraente” (p. 40) “livre demais” (p. 14), “charmosa, alegre e bela na sua essência” (p. 23), “um furacão” (p. 61), “impetuosa, atrevida e indomável” (p. 80), que invadiu seu gabinete louca para fazer amor (p. 83), vencendo sua carne que é “fraca” (p. 84), assim a define. Adelaide, no entanto, segundo Deodoro, quando não está bem, torna-se “uma mulher assustadora, nervosa, mentira, maldosa incapaz de perdoar e sem respeito pelos outros” (p. 84). Ela então teria desencadeado a ira do comandante ao tê-lo preterido em favor de seu maior desafeto político nos bastidores da monarquia, causando-lhe um trauma incurável quando encontrou Gaspar Silveira Martins numa cama da fazenda (p. 218) da viúva fazendeira (p. 39) cobiçada por ambos. Tamanha a ira o fez sacar sua garrucha para matar os dois, mas o braço “pesou” (p. 219)

Na madrugada de 15 de novembro de 1889 em que consentiu para derrubar o Visconde de Ouro Preto (p. 282), e não o imperador, voltou para o quartel, estava doente e cansado; deitou-se, mas continuou sendo alvo de visitas que tentavam persuadi-lo a um golpe contra o imperador. E o desfecho fatal se deu quando Benjamin Constant fez uso de uma fake news: informou a Deodoro que Silveira Martins, o homem que lhe roubou a baronesa, seria o novo Chefe de Governo (p. 286), e assim o marechal monarquista, sob ira, descontrolado, proclamou a República:”Naquela tarde de 15 de novembro, a República fez-se por impulso, por raiva e por orgulho ferido” (p. 287), confessou.

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