Imagem: Mundaréu

Marc Bloch

“O que é, com efeito, o presente?”

Obra: Apologia da história, ou, O ofício de historiador. Capítulo I. A história, os homens e o tempo. 5. Passado e presente. Zahar, 2001, Rio de Janeiro. Tradução de André Telles. De Marc Léopold Benjamin Bloch (France/Lyon, 1886-1944).

“Não sei, acabou de passar”, respondi na experiência de leitura, quando então emendei que só é possível defini-lo pela memória breve, imediata, ou a do “passado recente”, como menciona Bloch a considerar um emprego “um pouco frouxo da palavra” (p. 60).

Pensei em meu santo preferido, Agostinho de Hipona, sobre o presente do passado ser a memória, o presente do presente ser a “percepção direta” e o presente do futuro ser a esperança [490].

“[…] il presente del passato è la memoria, il presente del presente la visione, il presente del futuro l’attesa”.

O tempo é um conceito dentro da limitação que entendo sobre a existência. Penso que passado, presente e futuro são ilusões quando considero que posso estar em uma eternidade mal compreendida quanto às transformações da vida, onde a morte é apenas uma mudança de estado, assim como o passado em relação ao presente, e o futuro em relação ao que projeto em minha mente.

Então torno ao historiador cuja a simples menção do nome emocionava um professor. Lembra Bloch um velho professor que teve ao pensar sobre “o limite entre o atual e o inatual” estar longe de “se ajustar necessariamente pela média matemática de um intervalo de tempo” quando se consideram “ressonâncias sentimentais” (p. 61), o que, penso, relaciona-se com fatos interpretados não raramente com a carga de ideias que rondam o pensamento no momento, enquanto não são consideradas épocas passadas, como se a atual pudesse proporcionar sua própria explicação, um cisma recente em relação ao que pensavam velhos historiadores como Heródoto e Tucídides (p. 62).

Essa desconexão com o passado “remoto”, penso acerca do que explica Bloch, explica-se pelo efeito que revoluções provocaram ao disseminar a ideia de um intervalo psicológico maior entre as gerações e, por isso, faço uma releitura dos exemplos citados, o ser humano que tem a internet no cotidiano hoje possa se sentir tão distante do ser humano antes da popularização da rede mundial (p. 62).

Então, o conceito de “autointeligibilidade” na atualidade se baseia no que Bloch define como “estranhos postulados”. Mudanças profundas passam a ilusão de que não há um fio pela história em que é possível aprender com a “força da inércia próprias a tantas criações sociais” (p. 63), ou do que penso, sobre a essência do espírito humano de se adaptar às circunstâncias o que, nesse processo, eventualmente, possibilita saltos extraordinários de inovação. Tudo isso não nos desliga do passado, embora o deslumbramento e o desprezo sobre as próprias origens possam propagar o contrário.

490. Le Confessioni. Libro undicesimo. Un’inesattezza del linguaggio corrente. 20.  augustinus.it

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