Allegro con brio, a abertura da Quinta Sinfonia de Ludwig van Beethoven (Deutschland/Nordrhein-Westfalen/Bonn, 1770-1827). Quando tocadas “as três curtas e uma longa”, ultrapassam barreiras do esquecimento que dominam as imagens que não consigo recordar de um tempo remoto de minha vida. Uma leitura ao dia segue neste gracioso agosto a iniciar com a minha mais profunda memória de infância, interpretada pela orquestra Leipzig Gewandhaus, conduzida pelo maestro sueco Herbert Blomstedt (1927).
01/08/2025 21h16
Imagem: Munk School

“[…] has even surpassed the terrible death and displacement tolls of the nakba itself […]”
Obra: Gaza: A history. Afterword to the second edition. Gaza: the key to war and peace. Hurst & Company London, 2024, London. Traduzida para o inglês por John King. De Jean-Pierre Filiu (France/Paris, 1961).
Mais uma aquisição recente para vários registros.
Há algum tempo pensei se a atual crise humanitária em Gaza, promovida pelo Estado de Israel sob a imperdoável inércia de líderes europeus e americanos, pode ter superado a Nakba, a “Catástrofe” (em árabe) que acometeu nativos da Palestina durante a consolidação do Estado de Israel em 1948, fato que transformou a faixa no estabelecimento de campos de refugiados (p. 258).
Pude conhecer melhor o tema através das abordagens de Adel Manna em Nakba and Survival [410], e Nur Masalha em The Palestine Nakba [411], quando então percebi que se trata de um dos maiores casos de “esquecimento” infame da dita “civilização ocidental”, encabeçada por lideranças acometidas por um complexo de indiferença com os palestinos, cuja retórica de discursos apenas disfarça um espírito abjeto, com raríssimas exceções, enquanto carregam o peso de uma herança do ambiente histórico onde ocorreu o Holocausto, talvez o maior crime cometido contra a nossa espécie em todos os tempos.
É preciso separar bem as coisas para não confundir um povo inteiro com quem o governa. A minha indignação não é com judeus, tampouco com cidadãos israelenses, mas, especificamente, com aqueles que governam as ações criminosas que afligem o povo palestino em Gaza, seja pelo lado do aparato estatal de Israel, que já matou, nessa guerra desencadeada a partir dos ataques do fatídico 07/10/2023, dezenas de milhares de inocentes, seja por terroristas do Hamas que instrumentalizam civis judeus e palestinos nessa barbárie.
No posfácio que vem na segunda edição, o professor Jean-Pierre Filiu, expert em estudos sobre o Oriente Médio, aborda três impasses que perpetuam o violento conflito: o israelense, o humanitário e o palestino (pp. 436-445); (1) a visão de Israel como um desafio à segurança que se baseia na aplicação de força militar letal para controlar revoltas; (2) o bloqueio ao desenvolvimento de Gaza pela economia dominante de Israel; (3) a persistente divisão entre o Hamas e o Fatah, sendo o primeiro considerado como um grupo que prioriza seus interesses ideológicos e militares em detrimento da população.
Ao verificar imagens de palestinos morrendo de fome em meio às ruínas, será que algo mais devastador que a Nakba está passando agora pela história? E se for, haverá mais um “esquecimento infame” ou a tragédia em Gaza suscitará a memória da primeira Catástrofe? Quanto à primeira pergunta, o professor francês é direto (p. 436): “ultrapassou até mesmo os terríveis números de mortes e deslocamentos da própria nakba”. Quanto à segunda, penso ser improvável que o mundo político ocidental levante seriamente um problema que irá colocar muitos no esgoto da história.
410. 28/10/2023 15h16
411. 15/05/2024 21h55