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“‘Boys,’ he said as the class bell rang, ‘open your Pritchard text to page 21 of the introduction. Mr. Perry’—he gestured toward Neil-—’kindly read aloud the first paragraph of the preface entitled Understanding Poetry.’”
Obra: Dead Poets Society. Chapter 5. Hyperion, 2012, New York. De N.H. Kleinbaum.
No lugar como de romances adaptados para a sétima arte, este me parece incomum por inverter a ordem, baseado no filme de 1989 que se tornou cult, dirigido por Peter Weir e escrito por Tom Schulman.
O trecho (p. 31) do capítulo quinto, sobre a obra de Evans Pritchard, autor fictício, detalhe que descobri apenas seis anos depois, na turma universitária que se encontrava para conversar sobre poesia e filosofia in loco e por BBS. Lá também descobri que o inexistente Pritchard, em parte, lembra o autor Laurence Perrine, muito conhecido por experts em função da obra Sound and Sense, com uma sutil alusão a “Escala Pritchard” convertida em licença poética na radical provocação de John Keating sobre a pretensão analítica cartesiana (p. 32) de avaliar arte.
Até assistir a Sociedade dos Poetas Mortos em 1990, não tinha muito interesse por poesia quando então recordo que saí do cinema fascinado por Keating e pelo ator Robin Williams. O filme provocou um grande impacto em minha visão de mundo.
“Você lê e escreve poesia porque é membro da raça humana, e a raça humana é plena de paixão”, eis o que ficou marcado no primeiro contato com a obra que segue a me inspirar quase 36 anos depois. No entanto, ao longo do tempo, sobretudo nos últimos cinco anos, na medida em que revisitei a obra cinematográfica e também apreciei a adaptação em livro feita por Kleinbaum, ressignifiquei a parte (p. 33) em que Keating insulta Pritchard e ordena aos alunos que rasguem as páginas relacionadas com a Escala.
Hoje entendo que Keating rasgou e jogou no lixo uma oportunidade para que seus alunos entrassem em um interessante debate com o texto de Pritchard, enquanto poderia ter inserido sua distinta visão no campo do antagônico, incluindo a explanação sobre porque se lê e escreve poesia, deixando para os alunos o exercício da maturação dialética. No meu caso, tomaria o caminho inspirado por Keating, mas as páginas de Pritchard ficariam intactas enquanto objeto de minha total discordância.
A forma como a narrativa está disposta, à mon avis, estimula a afirmação pessoal em detrimento do contraditório, e isso é muito danoso para um ambiente que, essencialmente, cabe estar aberto ao debate franco, não se permitindo ficar preso a um radicalismo que, por sinal, pode ser bem observado em universidades quanto à intolerância independente do viés ideológico.