Imagem: Amazon

André Roncaglia e
Paulo Gala

“O Estado é e sempre foi peça central no desenvolvimento tecnológico dos países hoje ricos.”

Obra: Brasil, uma economia que não aprende: Novas perspectivas para entender nosso fracasso. 710. O desenvolvimento depende da ação do Estado e do Mercado. Ed. do autor, 2020, São Paulo. De André Roncaglia e Paulo Gala.

O grau de sofisticação produtiva indica a complexidade econômica e se relaciona com o número de patentes registradas, estando grande parte da inovação na América Latina sob a regência do Estado, no entanto, a incluir o Caribe (AL&C) nesta análise, a maioria dos países desse grupo apresentou menos patentes em comparação com outros países de renda média, apontam os autores (p. 166) em alusão a um estudo do Banco Mundial.

No acirrado ambiente competitivo internacional, estratégia, pesquisa e desenvolvimento demandam exposição a riscos e investimentos dentro do rigor disciplina de mercado, porém companhias multinacionais em atuação na AL&C investem 400 vezes menos em relação à média dos países desenvolvidos (p. 167). Então os autores apresentam o conceito de Novo Desenvolvimentismo, por Bresser Pereira (2018) e apontam que países que alcançaram o status de “desenvolvidos”, “contaram não apenas com um mercado eficiente, mas também com um Estado preocupado com a promoção do desenvolvimento econômico” (p. 167).

De 1994, quando o debate entre “mão invisível” do mercado versus intervenção estatal me foi apresentado pela primeira vez, na graduação, até esta reflexão, repensei várias vezes meu entendimento e houve um momento em que precisei buscar um significado mais preciso para o termo “Estado”. Em um certo sentido concordo com os autores, no entanto, quando penso em “Estado” me vem uma abstração instrumentalizada por interesses que não necessariamente estão alinhados com propósitos de bem-estar da nação ou naquilo que, de forma mais simples, é afirmado como o “melhor para a sociedade”, entenda-se, o “país”.

O “Estado” é o aparato político mais poderoso inventado por nossa espécie e quando se afirma que há um entre desse natureza “preocupado” com o desenvolvimento econômico de seu território de controle monopolista, tal concepção pode camuflar outros interesses; refiro-me a grupos políticos que desejam se perpetuar no poder e sufocar toda forma de oposição, a empresários que desejam se livrar de certos concorrentes que podem proporcionar mais benefícios aos consumidores enquanto contrariam seus negócios, e nesse intento, tais empresários alinhados com o poder estatal se submetem ao sistema político que o governa em troca de proteção, entre outros vícios que não são difíceis de serem identificados nos estados modernos.

No mais, torno aos autores, quando argumentam acerca da necessidade de o governo lidar com a administração de problemas macroeconômicos fundamentais, onde o mais grave de todos, entendem, consiste na taxa de câmbio (p. 168) onde cabe uma neutralização dos efeitos de apreciação da moeda. Aqui penso o quão desafiador é ter que lidar com este problema ao considerar empresas beneficiadas por intervenções na taxa de câmbio em seus países de origem produtiva, onde o caso da “doença holandesa” (p. 169), além dos resultados dos países asiáticos (p. 170), servem de reforço para enfraquecer a tese da não-intervenção.

Compensa o desenvolvimento econômico em relação aos problemas dos interesses que mencionei? Não contesto a realidade do desenvolvimento baseado na ação do Estado, nisso entendo que os autores apontam verdades históricas que são ignoradas por liberais e libertários. Estou apenas considerando o mérito até mesmo de ordem econômica, ao considerar intervenções que contrariam o termômetro realista do mercado, ignorando a escassez e fomentando bolhas muito além de certos efeitos colaterais que podem ser sintetizados na expressão “capitalismo de laços”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *