Imagem: ABL

Viverei! Nos meus dias descontentes,
Não sofro só por mim… Sofro, a sangrar,
Todo o infinito universal pesar,
A tristeza das cousas e dos entes.
Alheios prantos, em cachões ardentes,
Vêm ao meu coração e ao meu olhar:
– Tal, num estuário imenso, acolhe o mar
Todas as águas vivas das vertentes.
Morre o infeliz, que unicamente encerra
A própria dor, estrangulada em si…
Mas vive a Vida que em meus versos erra;
Vive o consolo que deixei aqui;
Vive a piedade que espalhei na terra…
Assim, não morrerei, porque sofri!
Obra: Estuário. Em Antologia Poética. L&PM, 1997, Porto Alegre. De Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac (Brasil/Rio de Janeiro/Rio de Janeiro, 1865-1918).
O sentido da dor – por Heitor Bonaventura
Nos meus dias
tristes sigo além
do mal que
pareça triunfar.
Nenhuma angústia
subsiste em si,
por mais profundo
que seja o pesar.
Em mim há caminhos
que o sofrimento
precisa trilhar para
minh’alma curar.