Imagem: Casa do Saber

“O enxame digital não é nenhuma massa porque, nele, não habita nenhuma alma [Seele], nenhum espírito [Geist]. A alma é aglomerante e unificante. O enxame digital consiste em indivíduos singularizados.”
Obra: No enxame: Perspectivas do digital. No enxame. Vozes, 2018, Petrópolis. Tradução de Lucas Machado. De Byung-Chul Han (Coréia do Sul/Seul, 1959).
Lembrou-me o conceito subsequente de “homem-massa” apresentado por Ortega Y Gasset [494], à referência, na abertura do capítulo, ao polímata francês Gustave Le Bon (1841-1931) na definição da Modernidade como a “Era das Massas” (p. 17).
A massa elege, determina a política, gera o poder, marcha em uma direção ideológica (p. 19) e pode destruir uma cultura (p. 17). Talvez o terceiro ponto tenha um pouco de exagero, penso, a considerar que “cultura” não é algo estático, e sim orgânico, embora a descaracterização seja de fato um grave problema para sua identidade em relação às raízes. De qualquer forma, o filósofo Byung-Chul Han parte do conceito de “psicologia das massas” por Le Bon, para discorrer sobre a nova massa fruto da revolução digital, que apresenta “propriedades radicalmente distintas” a sintetizar no trecho (p. 17) desta Leitura.
Nessa nova massa, a qual prefere designar como “enxame”, o professor sul-coreano, radicado na Alemanha, aponta ausência de uma alma ou de um espirito que caracteriza a massa na psicologia de Le Bon que, penso, dá a liga coletivista de um movimento, porém, enquanto produtora de barulho em vez de uma voz convergente, falta também coerência ao “enxame de massa” que, entendo, está para o homo digitalis, onde se destaca a individualidade que compete por atenção (p. 18) em aglomerados “efêmeros e instáveis” (p. 19) onde carece de “interioridade de reunião” que produz um “nós” (p. 19), o que o diferencia do habitat do homo eletronicus de Macluhan (1911-1980), um ninguém expectador, cuja identidade privada fora dissolvida pelo excesso de solicitação (p. 18).
494. 26/02/2025 20h54