Imagem: Psychwire

Sarah Edelman

“A técnica mais forte para superar ataques de pânico é observar as situações físicas como um cientista observa um experimento: sem tentar controlá-las.”

Obra: Basta pensar diferente. Como a ciência pode ajudar você a ver o mundo por novos olhos. Seis. Lidar com a ansiedade. Evite a evitação. Observe as sensações. Fundamento, 2014, São Paulo. Tradução de Um Triz Comunicação Visual Ltda (Alda Porto). De Sarah Edelman.

Vencendo a síndrome do pânico

Eis um problema que incomodava bastante, pelo menos até os 40 anos de idade: pânico diante de injeção ou de qualquer objeto que entrasse em contato com o meu corpo em um tratamento médico. Para superá-lo precisei identificar sua “causa causante”, que me remeteu ao estudo do funcionamento de minha memória implícita que me induzia a um pensamento enviesado ligado a um estímulo, no caso um objeto perfurante ou cortante, que me reconectava a um trauma de infância que precisava ser vencido:

Aos seis anos sofri um acidente ao cair sobre uma lata aberta em um depósito de um posto de combustíveis. Com um corte relativamente profundo na perna direita um pouco acima do tornozelo, fui levado ao Hospital Agamenon Magalhães. Faltava anestesia e o médico, certamente por perceber a urgência para evitar um dano maior, decidiu realizar os procedimentos assim mesmo. A injeção (contra o tétano), a limpeza e a costura me fizeram delirar na mesa. Foi a maior dor física que senti na vida. [496]

A superação do trauma passou por uma combinação de (1) ressignificação do evento original, (2) exposição gradual a situações com seringas e bisturi e (3) prática de conversa racional comigo mesmo, durante as exposições para neutralizar a ansiedade na cognição catastrófica.

A ressignificação do evento original foi um trabalho terapêutico que me fez repensar o contexto e entender a decisão do médico da emergência: ele tomou a melhor decisão possível para me poupar de um dano maior na perna, quando então compreendi que aquela profunda dor física foi necessária diante das circunstâncias, mesmo para uma criança de seis anos. Ao compreender a inevitabilidade da dor, a irrelevância de meu vitimismo e o médico que realizou muito bem o seu trabalho, dei um grande passo para vencer o trauma.

Em seguida tive que testar essa reinterpretação do fato com exposições graduais a seringas e a agulhas (p. 206), em experimentos paralelos à prática de conversa racional comigo mesmo. Estimulado ao contato e a coletas de sangue, foi aproveitada a minha inclinação racionalista para duvidar do que estava sentindo e em seguida, questionar se estava mesmo diante de uma situação de catástrofe ligada a uma dor profunda análoga a que senti no evento original, pela iminência de ter o corpo novamente perfurado. Foi então que percebi que parei de entrar em pânico e as sensações sumiram.

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