Imagem: El Español

“[…] stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus.”
Obra: Il nome della rosa. Ultimo folio. Bompiani, 2019, Firenze. De Umberto Eco (Italia/Alexandria, 1932-2016).
Assim Adso da Melk deixa a escritura, não sabendo para quem, nem sobre o quê, após alguns anos depois ter visitado o local (p. 573) onde se situava a abadia para conferir o que sobrou da tragédia, onde se deparou com ruínas e o entorno abandonado, episódio ignorado na versão cinematográfica do romance.
No trecho (p. 576), as últimas palavras, verso extraído do poema De contemptu mundi, de Bernardo Morliacense, um beneditino do século XII (p. 579). Umberto Eco no postille, menciona que há outra versão onde aparece “Roma” no lugar de “Rosa” e seria “mais coerente” com os versos anteriores, não para um latinista seu amigo que argumentou que o “o” de Roma é longo fazendo com que o esametro não funcione (p. 580).
O sucesso mundial desta obra surpreendeu e não empolgou Umberto Eco que considerou I pendolo di Foucault seu melhor romance [498]. Pessoalmente prefiro Baudolino por me remeter a uma linguagem familiar: de alguma forma lembra os causos de Ariano Suassuna.
Havia outro título para o romance que seria A abadia do delito, descartado porque, explica o semiólogo, induziria o leitor a fixar atenção apenas como um trama policial. Então “quase por acaso”, Umberto Eco escolheu O nome da rosa, porque “é uma figura simbólica tão densa de significado que não tem quase mais nenhum” (p. 581), o que me remete ao espírito de sinalizar uma provocação ao leitor face à abertura para intepretações em meio a confundi-lo com as ideias. Há um tom de obra aberta na escolha do título.
Teve uma interpretação curiosa para a “rosa” que escutei de um professor empolgado com o que viu de “anticlericalismo” na obra. Eu não tinha lido ainda a edição em português no final dos anos 1990: a rosa seria a jovem e bela camponesa com quem o noviço Adso não resistiu aos encantos e assim perdeu a virgindade na abadia. Após a primeira experiência de leitura, entendi ter sido um entendimento forçoso demais, além de que percebi que a ternura de Adso pela experiência erótica com a jovem não é um ponto de destaque à altura das questões filosóficas e teológicas apresentadas no romance.
498. Ver Umberto, lo storico delle idee https://youtu.be/DahLMHk88X0?t=2913
499. 16/08/2024 22h10
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